O Sínodo sobre a família: Será que os bispos bons podem nos salvar? (Esperem sentados)


10.10.2015 -

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“O absurdo dos organizadores do Sínodo, incluindo o Papa, que simplesmente redigiram os documentos finais para o Sínodo semanas antes até mesmo dos bispos chegarem a Roma, dá a mensagem definitiva. Eles já não sentem mais nenhuma necessidade de dissimular suas intenções…”

Por Hilary White – The Remnant, 2 de outubro de 2015 | Tradução: FratresInUnum.com

Os “bispos bons” não vão nos ajudar no Sínodo. Temos que nos acostumar com essa ideia agora mesmo, neste fim de semana que antecede o espetáculo. Todos os dias vejo nas caixas de comentários de sites da Internet exclamações esperançosas do tipo: “Ah, mas o Arcebispo Fulano vai lhes jogar na cara”, ou “o Cardeal Beltrano”, ou “aquele africano”, não vão mais aguentar essas coisas”. Pois bem pessoal, lamento informar-lhes que no ano passado eles aguentaram.

Não houve pedidos para que o Papa garantisse a transparência do processo, não houve objeções públicas aos conteúdos escandalosos dos documentos de trabalho ou, pior ainda, não houve qualquer exigência para a retirada dos líderes que promoveram o caso, como, por exemplo, o Secretário Geral do Sínodo, o cardeal Baldisseri, o cardeal Kasper, o Arcebispo Bruno Forte, autor da vergonhosa relatio intermedia e outros do tipo. Exatamente os mesmos personagens da farsa do ano passado estão de volta. E não houve a menor objeção por parte dos “bispos bons”.

De fato, além de alguns vídeos com entrevistas mal-humoradas, o assunto não recebeu muita atenção. No ano passado, após um ano e meio de manobras bergoglianas cada vez mais bizarras, apesar de um pequeno número de disputas ruidosas e públicas, os bispos do Sínodo andaram pisando em ovos, falando coisas agradáveis sobre a maravilha do evento. Ao final, até aqueles que tinham denunciado mais abertamente as manipulações do secretariado do Sínodo, falaram com entusiasmo sobre como os debates reais haviam sido maravilhosos, e só lamentaram o fato dos organizadores terem dado uma impressão diferente ao público.

No ano surreal transcorrido desde então, quem é que vimos de pé falando diante de um microfone: “O papa Francisco Bergoglio está no centro dessa conspiração – que já não é mais uma conspiração – para tornar irrelevante a doutrina católica sobre a sexualidade, minar o sacerdócio, permitir sacrilégios sistemáticos em nível mundial e destruir de uma vez por todas o caráter cristão da Igreja Católica”? Quem pronunciou o nome que precisa ser pronunciado? Quem? … Bueller?

Até as entrevistas parecem ter se esgotado, e não temos ouvido nada dos “bons” nos últimos dias. A data se aproxima, cresce a ansiedade, e o Cardeal Burke parece ter desistido de fazer declarações públicas, deixando todos os católicos que restaram observando o asteroide gigante flamejante que vem em nossa direção.

E agora há mais “rumores” (será que há mais alguma coisa vindo de Roma?) de que os bispos que vão participar este ano têm a mesma atitude hesitante e conciliadora. Hoje conversei com alguém que tem informações privilegiadas, e essa pessoa me contou que um grupo, que “provavelmente” incluía bispos do Sínodo, estava preparando uma declaração para impedir qualquer repetição das táticas manipuladoras do ano passado. Essa foi uma resposta às notícias de que o Secretariado do Sínodo estava pensando uma maneira de controlar totalmente os procedimentos.

Tudo seria publicado no início desta semana, antes da conferência de imprensa do lançamento do Sínodo. Discursos duros estavam sendo preparados. Chega de disparates! Espera-se transparência e honradez! Um relatório objetivo e preciso dos debates e dos documentos que refletem a substância do Sínodo. Basta de querer mudar as regras! Que deixem de manipular a mensagem!

E aqui estamos já na quinta à noite, com tudo pronto para começar a conferência de imprensa em pouco mais de doze horas e… acabam de decidir que não vão publicar a declaração. Será que o momento é inoportuno? Será que não querem começar com pé esquerdo? Vá saber… E a estas alturas, quem se importa?

Hoje à noite fui contatada por uma pessoa nos Estados Unidos que queria fazer um livro sobre a doutrina católica do matrimônio chegar às mãos dos bispos de língua inglesa do Sínodo. A pessoa me perguntou se eu conhecia alguém em Roma que pudesse ajudar.

Respondi-lhe passando os nomes de algumas pessoas que poderiam auxiliar, mas o preveni de que “já há mecanismos em curso para evitar precisamente o que ele estava propondo. Tentaram fazer isso no ano passado, com grande esforço e desembolsos e através de clérigos de alto escalão no Vaticano, e foi um fracasso total”.

O Secretariado do Sínodo está de sobreaviso e vigilante. Eles aprenderam bem a lição do ano passado: respondendo ao clamor público contra suas manipulações descaradas e aos pedidos de transparência e abertura apresentados por bispos e cardeais, controlando a mensagem de maneira cada vez mais forte.

Disse ao meu amigo: “É um erro imaginar que o Secretariado dirija o Sínodo. Eles estão conduzindo um tipo de operação muito diferente.”

E parece que os mais altos níveis da Hierarquia sabem disso. Há o que parece um silêncio de derrota nas altas hierarquias. O cardeal Sarah publicou um livro em defesa da doutrina da Igreja, o qual foi apresentado há pouco pelo cardeal Müller a um grupo reduzido de aristocratas alemães e seus amigos. Na apresentação do livro, Müller advertia indiretamente que poderia haver problemas de natureza histórica, que ele não especificou, mas isso foi entendido como uma alusão à revolução protestante,­ se prosperar o plano de Kasper, consciente, sem dúvida, de que esse mesmo plano se estava pondo em obra em Roma enquanto ele falava. Não se deu importância a este ato, e só um pequeno setor da imprensa alemã o reportou en passant.

Houve alguém mais além do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e do chefe do Conselho Pontifício Cor Unum? Não? O presidente da Conferência Episcopal Alemã ameaça abertamente com um cisma e o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé confirma que vamos chegar nesse ponto, e… começo a ouvir soar os alarmes.

A voz do baixo clero e dos leigos está ficando cada vez mais alta, é claro. Sandro Magister informa sobre um documento emitido por um grupo de três padres teólogos que advertiram que o documento de trabalho do Sínodo – o Instrumentum laboris – é “inaceitável” e “compromete” a verdade da fé. A página da Voice of the Family, que não granjeou amizades no  Secretariado do Sínodo, no ano passado, continua alertando sobre o perigo de Londres e mais uma vez… Roma responde com silêncio.

Tampouco houve qualquer resposta do Vaticano às 811.092 assinaturas recolhidas em uma súplica filial que implorava a Bergoglio que reiterasse e defendesse a doutrina católica sobre a sexualidade e a família. Vale a pena ressaltar, ironizando, que essas assinaturas incluem numerosos bispos e cardeais do que o próprio Bergoglio indubitavelmente descreveria como “periferias”: países como Chade, Madagascar, Congo, Filipinas, Guatemala, Índia e Cazaquistão. Mais de 200 bispos e cardeais, muitos de países muito pobres, assinaram, e uma vez mais, nada. Silêncio.

Nada, é claro, exceto a efusiva e aduladora declaração do Pe. Thomas Rosica por twitter sobre a viagem de Bergoglio aos Estados Unidos: ‹‹ Muitas vezes os jornalistas me perguntavam: “Padre Tom, é normal que eu tenha chorado muitas vezes esta semana?” ›› . E, com referência a um dos discursos de Bergoglio, beirando à blasfêmia de maneira flagrante: ‹‹ Sempre imaginei como Jesus ensinava nas montanhas da Galiléia. Esta noite na Filadélfia vi como Jesus ensinava ››.

Enquanto isso, os organizadores do Sínodo continuavam reforçando o regulamento para garantir que o caso não sofra outro ataque infeliz de exposição excessiva ao público. Não serão publicados relatórios sobre os debates nem haverá documentos intermediários ou finais. Dois destacados vaticanistas, Sandro Magister e Andrea Gagliarducci, informaram que tampouco haverá uma exortação apostólica formal do Papa para resumir a mensagem dos bispos aos fiéis.

“Certamente não haverá uma mensagem final, pois nenhuma comissão foi constituída para redigi-la” – disse Magister em 28 de setembro passado  -. “O discurso do Papa ao final dos trabalhos prevalecerá sobre as conclusões, obscurecendo as vozes restantes.”

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De fato, disseram que não haveria sessões plenárias em que os bispos possam falar entre si na presença do Papa. Em vez disso, eles serão separados por grupos de idiomas para prosseguir com os debates em grupos menores. O livro de Edward Pentin pode nos dar uma ideia de como serão esses debates, inclusive a semelhança de que todas essas reuniões estejam dirigidas estreitamente por um bispo kasperiano designado  a cada grupo, para que não haja o menor desvio do programa. Em um dos momentos mais sinistros do livro Rigging of a Vatican Synod de Pentin, ele observa que no caso desses monitores designados, se um saísse, seria substituído por outro, a fim de garantir que a direção continuasse firme.

Há um mês, as notícias continuam caindo como “bombas”. De fato, as notícias do Sínodo e do Vaticano começam a parecer uma cortina de fogo de artilharia, começando no início de setembro com os motu próprio de Bergoglio sobre nulidade [matrimonial]. Neste caso, tivemos o primeiro indício de que ele não ia seguir a via passiva-agressiva que alguns de nós esperávamos, isto é, passar os temas candentes da Comunhão para católicos divorciados e “recasados” no civil (e agora, por extensão, provavelmente, também das uniões de pessoas do mesmo sexo e que vivem em concubinato) às diversas conferências episcopais. Nada disso: esse foi o primeiro sinal claro que tivemos de que Bergoglio sabe muito bem o poder que tem como pontífice: um poder absoluto.

As novas regras, publicadas por decreto e aparentemente sem discussão prévia nos escritórios vaticanos que supervisavam as mudanças no direito canônico, continuam sendo objeto de críticas raivosas, inclusive por terem criado uma grande e catastrófica mudança de paradigma legal de inverter a presunção da lei para favorecer a nulidade, em vez da validade do matrimônio. A discussão não acabou de modo algum, e ainda há alertas de que Bergoglio vem alinhando a Igreja Católica com o mundo secular ao criar um divórcio católico “sem culpa”.

Depois disso, a Conferência Episcopal Alemã, cujo presidente, o Cardeal Reinhardt Marx, pertence ao conselho privado de Bergoglio, o Grupo dos Nove, anunciou que estavam prontos para implementar o “matrimônio homossexual” católico.

Em seguida, o Vaticano publicou o Instrumentum laboris, que alguns fiéis denunciaram por trazer de novo à pauta temas rejeitados, como a homossexualidade e as uniões de fato.

Após isso, vieram as notícias levemente inflamadas do cardeal Godfried Danneels, o repulsivo ex Arcebispo de Bruxelas, um homem já conhecido como um títere que exerce um imenso poder sobre a política católica e secular na Europa, afirmando na televisão holandesa que ele e um grupo de extremistas progressistas haviam conspirado durante décadas para gerar precisamente o desastre que se desenvolve diante de nós na Igreja atual.

Danneels declarou, em uma entrevista de televisão que promovia uma biografia autorizada, que essa máfia de S. Gallen – que se gabara de revelar a identidade de prelados europeus progressistas, entre os que se encontrava o sinistro cardeal Martini – havia trabalhado para lograr a eleição de Bergoglio. Ele deu a entender que a pressão desse grupo havia sido responsável em parte pela renúncia de Bento.

Logo após esse episódio, os bons católicos reagiram abertamente debatendo se isso invalidava o Conclave de 2013 segundo as regras contra esse comportamento postas em prática pelo Papa João Paulo II. Em vista da crescente reação, os autores da biografia oficial de Danneels, de onde provinham essas afirmações, rapidamente publicaram uma declaração negando que o cardeal tivesse dito que ele havia quebrado quaisquer regras.

A pergunta: “Francisco é um antipapa?” foi discutida e maneira tão ampla e aberta que chegou ao próprio Bergoglio durante sua viagem aos EUA. Ele, diga-se de passagem, não negou a alegação, mas, como de costume, somente zombou e escarneceu dos que se sentiram perturbados com essa pergunta.

Francisco disse que um cardeal “amigo” lhe contou a respeito de uma católica idosa, “uma boa mulher”, mas um pouco rígida, que tinha dúvidas acerca da descrição do Anticristo no Livro do Apocalipse e queria saber se era o mesmo que um “anti­papa”.

–Por que a senhora está me perguntando isso? – disse o cardeal –. É que estou certa de que Francisco é o antipapa.

– Por que a senhora está falando isso?

“Porque ele não usa os sapatos vermelhos como manda a tradição”, contou o Papa.

As pessoas têm muitas razões para crer que “ele é comunista ou ele não é comunista” – acrescentou o Papa.

Apesar do já habitual desprezo do papa pelas preocupações dos fiéis sobre suas mancadas cada vez mais bizarras e alarmantes, os católicos continuam discutindo nos foros de Internet se as crescentes revelações de infrações canônicas em torno do Conclave poderiam tornar a eleição de Bergoglio ao papado… digamos… irregular.

A bomba seguinte caiu no início desta semana, quando um jornalista católico pôs um pouco mais de lenha na fogueira da história de antipapa, ao dizer que uma organização bancária internacional, pouco conhecida, mas poderosíssima, havia ameaçado arruinar as finanças da Igreja se Bento XVI não renunciasse. Em um artigo que até hoje só apareceu em italiano, Maurizio Blondet afirmou que a capacidade do Vaticano de continuar funcionando no mundo financeiro estava com as horas contadas [NdT. Artigo traduzido ao português em: http://fratresinunum.com/2015/09/30/ratzinger-nao-podia-vender-nem-comprar/%5D.

A organização americana sediada na Bélgica, SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias em Nível Mundial), alegou Blondet, havia usado seu poder para chantagear ao Papa a abandonar a cátedra de Pedro.

“Houve chantagem de não se sabe onde, através da SWIFT, contra Bento XVI. As razões subjacentes dessa história não foram esclarecidas, mas é claro que a SWIFT interveio diretamente na gestão de assuntos da Igreja”, escreveu.

Uma vez mais, o Vaticano guarda silêncio. Um Papa chantageado até renunciar? Nem uma palavra. E assim uma e outra vez.

E hoje, na véspera da conferência de imprensa de abertura do Sínodo, a última parte da guerra chega de Rorate Caeli, que informa que, como se esperava, estamos sim aguardando um documento pós-­sinodal. De fato, ele já está sendo redigido por uma grande comissão de jesuítas na Casa Santa Marta.

Marco Tosatti, que normalmente escreve para a secção Vatican Insider do diário italiano La Stampa, revelou definitivamente o que muitos, mais ou menos, já haviam dado como certo: “Que o Sínodo é uma fraude.”

“Cerca de trinta pessoas, quase todas jesuítas, entre as quais se encontra algum argentino, estão trabalhando nos temas do Sínodo, de maneira muito reservada, sob a coordenação do padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltá Cattolica, o qual passa muito tempo em Santa Marta em consulta com o Papa.

(…) Uma possibilidade é que a “força tarefa” esteja trabalhando para proporcionar ao Papa os meios para um eventual documento pós-sinodal sobre o tema da administração da Eucaristia aos divorciados recasados, aos [casais] em concubinato e às pessoas do mesmo sexo.”

Quem sabe às vezes nos esqueçamos de que somos uma exígua minoria que aos olhos do mundo não tem nenhum poder. Nenhum. Ninguém sabe quantos católicos nos identificamos como tradicionalistas, e há provas de que o número está aumentando. Mas sabemos que somos muito, muito poucos.

Mas se deixarmos a câmera de lado e olharmos para o panorama geral, veremos em toda a Igreja algo como vimos na semana passada durante a visita papal aos EUA. Grandes multidões, verdadeiros mares de pessoas que tentam chegar ao seu pontífice com lágrimas nos olhos, e até lhe atribuem milagres. Santo súbito! Pode um papa canonizar-se a si mesmo? Alguém tem alguma objeção?

O que ficou bem claro no ano passado e, sobretudo, nas últimas semanas, é que o plano que denominamos a Proposta Kasper é muito, muitíssimo mais ambicioso ­– e mais antigo ­– do que o simples desastre em potencial de dar a Sagrada Comunhão sistematicamente a adúlteros impenitentes.

Repetidas vezes durante o Sínodo do ano passado, o refrão que ouvia de todo mundo, dos bispos, padres, observadores leigos e jornalistas, foi estupefação pela sem-vergonhice que se estava sendo feito de forma descarada.

Com o cardeal Danneels, um dos hereges mais escandalosos e facilitador de abusos sexuais por parte de sacerdotes homossexuais, incluindo um bispo, ficou diante de um público que o idolatrava para se gabar de haver conseguido revolucionar a Igreja de Cristo com um plano que levou décadas, como vamos continuar duvidando? Não vejo provas contra as afirmações de Danneels, pelo contrário.

Esses homens acreditam que ganharam a guerra em março de 2013, que eles têm poder absoluto e que podem aniquilar toda resistência. O absurdo dos organizadores do Sínodo, incluindo o Papa, que simplesmente redigiram os documentos finais para o Sínodo semanas antes até mesmo dos bispos chegarem a Roma, dá a mensagem definitiva. Eles já não sentem mais nenhuma necessidade de dissimular suas intenções.

Ainda que por algum milagre os bispos subitamente tomassem coragem, na realidade, eles foram enxotados de seu próprio Sínodo antes mesmo que ele começasse.

Fonte: http://fratresinunum.com

 

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