Padre Juan Rodriguez: O céu requer o martírio, a renúncia de nosso eu; o sacrifício e esforço diário para nos desprendermos de tudo o que nos separa de Deus


23.11.2016 -

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“Digo aos arrogantes: Não sejais insolentes; aos ímpios: Não levanteis vossa fronte, não ergais contra o Altíssimo a vossa cabeça, deixai de falar a Deus com tanta insolência. Não é do oriente, nem do ocidente, nem do deserto, nem das montanhas que vem a salvação”. (Sl 74-5-7)

Pe. Juan Manuel Rodríguez de la Rosa – Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei:

Queridos Irmãos, conta-se na vida de São Bruno, o grande fundador santo da Ordem Cartuxa, um episódio que levou à decisão final do santo a viver a vida de retiro. Este fato, descrito pelos seus primeiros biógrafos, é questionado por historiadores posteriores à vida do santo. Mas desejo mencionar este relato pelo seu grande ensinamento moral. O que aconteceu, muito resumidamente, teve lugar durante o funeral de um conhecido e apreciado um médico da Universidade de Paris, aparentemente um sacerdote, extremamente bom e renomado por ser muito virtuoso. Para o espanto de todos os presentes, no momento em que o celebrante disse as palavras: Responde mihi — Respondei-me — o cadáver levantou a cabeça e exclamou: Não tenho necessidade de orações; pelo justo juízo de Deus estou condenado ao fogo eterno.

O santo fundador da Cartuxa disse o que qualquer um de nós poderia dizer: O que pensamos? Condenou-se um homem que, na opinião de todos sempre viveu vida cristã; quem poderá confiar com segurança o testemunho dado por sua consciência equivocada? Oh, quão terríveis são os juízos de Deus! O defunto já não falou para si mesmo; foi dirigido para nós o grito daquele terrível milagre. A resolução da drástica mudança de vida foi inevitável e firme.

Chocante relato que nos recorda que o juízo é de Deus e só d’Ele. Certamente, nem do oriente, nem do deserto virá a salvação. Surge a pergunta: Esforçamo-nos para seguir ao Senhor? Temos consciência de nossos esforços para perseguir uma carreira, para encontrar trabalho, ganhar mais dinheiro, comprarmos isto ou aquilo, para uma viagem, para ter mais conforto. Mas, estamos preocupados com a salvação de nossas almas? Será que nos esforçamos sinceramente nisso?

Certamente é grande o número dos que se esforçam muito pouco para seguir mais e melhor ao Senhor. Quantos vivem com a preocupação sincera de salvar sua alma? Que esforço fazem para não a perder para sempre? Se são sinceros, às vezes um simples Pater Noster a mais já é demasiado. Pedem com fé ao Senhor? Não perdem mais tempo queixando-se ao invés de se tornarem fervorosos? Esperamos que o Senhor nos satisfaça — e em muitas ocasiões Ele o faz — e, por sua vez, de nós só recebe ingratidões. Não está só o Senhor? Não estão vazios os Sacrários? Nenhum esforço para fazer-lhe uma visita. Não há nenhum esforço para o Senhor.

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As crianças, à medida que crescem, levantam os braços e olham o quanto estão crescendo. Muitos de nós nem sequer se poria na ponta dos pés para tocar o Senhor; preferimos que o Senhor estenda a Sua mão até nós. O esforço é mínimo. Todos os dias rezamos e o fazemos mal, começamos as orações já pensando em terminá-las. Quantas vezes! Não há esforço. Nada sabemos de abstinências, de privações, de jejuns, sacrifícios. Muitos querem ascender na vida espiritual e compram livros e assistem a este ou aquele curso, mas não alcançam nenhum progresso. Por quê? Não se esforçam o suficiente, não estão dispostos ao sacrifício. Não existe uma fórmula mágica em que se possa ler um livro ou que seja explicada em um curso de oração. A única fórmula é o esforço firme. Constante, perseverante da alma, que estando disposta a salvar-se, não se poupa ao menor sacrifício e penitência para isso. Mas não só não o evita, deseja-o.

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Conhecemos o episódio do jovem rico que, almejando seguir o Senhor, não teve a disposição de dar o passo definitivo para deixar tudo. Não estava disposto a esforçar-se ao máximo. Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me. (Mc. 10, 21). O jovem afligiu-se por estas palavras do Senhor, tinha muitas riquezas e não estava disposto a fazer um esforço em desprender-se delas. Não estamos dispostos a nos desprendermos de muitas coisas. Muitos querem seguir ao Senhor sem renunciar a nada. Não há seguimento sem renúncia.

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A grande armadilha do demônio: para quê esforçar-se? A vida já tem dificuldades e problemas suficientes para que te sacrifiques agora. O Senhor é misericordioso e entende teu desejo de ser bom e de salvar-te, não necessitas provares nada ao Senhor que te ama como és, com tuas debilidades. O demônio ri do esforço e do mérito. Mas na vida da graça só se avança com esforço e sacrifício. É o esforço o sacrifício que custa a renúncia ao próprio eu de cada um.

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O Senhor chama-nos a todos, a cada um segundo sua condição, mas exige-nos muito. O Céu não é para os preguiçosos. Por acaso a vida de São Paulo, não nos confirma isso? A vida dos mártires, dos confessores da fé? Por acaso deixou de haver mártires em qualquer época da história da Igreja?

Diz Santo Inácio na Primeira semana de seus Exercícios: O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e por este meio salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, e para ajudá-lo na busca da finalidade para a qual ele é criado. Do que se segue que o homem tanto há de servir-se delas, quanto estas lhe ajudem a alcançar o seu fim, e tanto deve livrar-se delas, quanto para isto estas disto lho impeçam […] (Princípio e Fundamento).

Servir a Deus e salvar a alma, essa é a ordem. Como podemos fazê-lo se não há decisão, esforço e sacrifício de nossa parte? Como nos desprenderemos, sem sacrifício, de todo o criado que nos separa deste fim?

Aquele que vive em situação de pecado, como pode servir a Deus e salvar sua alma sem esforço e renúncia ao pecado? Serve a Deus como o primeiro princípio de sua vida? Porque quem não serve a Deus não pode salvar sua alma.

Queridos irmãos, vivemos para servir a Deus? Vivemos para isto? Porque nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. (Rm. 14: 7-8). É preciso servir ao Senhor vivendo e morrendo, esta é a única coisa necessária para salvar a alma.

O Céu requer a renúncia de nosso eu; o sacrifício e esforço diário para nos desprendermos de tudo o que nos separa de Deus; o sacrifício e esforço constante para desarraigarmos de nós essas paixões humanas que nos impedem servir a Deus como Ele merece. O Céu requer o martírio.

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Diz na Sagrada Escritura:

"Ouvi, filhos meus, a instrução de um pai; sede atentos, para adquirir a inteligência, porque é sã a doutrina que eu vos dou; não abandoneis o meu ensino. Que teu coração retenha minhas palavras; guarda meus preceitos e viverás. Adquire sabedoria, adquire inteligência, não te esqueças de nada, não te desvies de meus conselhos. Não abandones a sabedoria, ela te guardará; ama-a, ela te protegerá. Eis o princípio da sabedoria: adquire a sabedoria. Adquire a inteligência em troca de tudo o que possuis. Ouve, meu filho, recebe minhas palavras e se multiplicarão os anos de tua vida. É o caminho da sabedoria que te mostro, é pela senda da retidão que eu te guiarei. Se nela caminhares, teus passos não serão dificultosos; se correres, não tropeçarás. Apaga-te à instrução, não a soltes, guarda-a, porque ela é tua vida. Na estrada dos ímpios não te embrenhes, não sigas pelo caminho dos maus. Evita-o, não passes por ele, desvia-te e toma outro, porque eles não dormiriam sem antes haverem praticado o mal, não conciliariam o sono se não tivessem feito cair alguém, tanto mais que a maldade é o pão que comem e a violência, o vinho que bebem. Mas a vereda dos justos é como a aurora, cujo brilho cresce até o dia pleno. A estrada dos iníquos é tenebrosa, não percebem aquilo em que hão de tropeçar. Meu filho, ouve as minhas palavras, inclina teu ouvido aos meus discursos. Que eles não se afastem dos teus olhos, conserva-os no íntimo do teu coração, pois são vida para aqueles que os encontram, saúde para todo corpo. Guarda teu coração acima de todas as outras coisas, porque dele brotam todas as fontes da vida. Preserva tua boca da malignidade, longe de teus lábios a falsidade! Que teus olhos vejam de frente e que tua vista perceba o que há diante de ti! Examina o caminho onde colocas os pés e que sejam sempre retos! Não te desvies nem para a direita nem para a esquerda, e retira teu pé do mal". (Provérbios 4) 

 

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Santo Afonso de Ligório: O Senhor prova os que o amam com securas e tentações. Quando, pois, te achares em tal provação, não percas a coragem, mas entrega-te com abandono inteiro à Misericórdia Divina

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