Semão do Padre Daniel Pinheiro: E à vista de tanta bondade e indulgência por parte do Senhor, não seremos nós bondosos e indulgentes com o nosso próximo?


17.05.2018 -

E podemos considerar-nos filhos de tão bom Pai se não procurarmos revestir-nos dos sentimentos caridosos do seu dulcíssimo Coração?

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Sermão para o 1º Domingo da Quaresma

05.03.2017 – Padre Daniel Pinheiro, IBP

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

( Sermão tirado do livro Perfeição Cristã, capítulo XXV, de Emílio Gonzalez y Gonzalez).

Trataremos, nessa Quaresma, de algumas virtudes simples, mas importantíssimas para a vida católica.

O apóstolo nos fala hoje, em sua Epístola, da paciência e como devemos mostrar toda a paciência nas mais diversas circunstâncias. Podemos aplicar isso a uma coisa muito importante, sobretudo na vida familiar: a paciência para com os defeitos do próximo, principalmente no seio da família.

O não ter paciência com os defeitos alheios nasce, ordinariamente, da soberba de espírito e da dureza de coração. A paciência e indulgência cristãs provêm, pelo contrário, de um coração humilde, bondoso e caridoso. Quem é soberbo não se conhece, nem quer conhecer-se a si mesmo; o soberbo tem-se por perfeito e irrepreensível, e enquanto que não repara na trave do seu olho vê, com lentes de aumento, o cisco no olho do próximo. Daí que o soberbo, ao passo que não se corrige dos seus próprios defeitos e nem suporta sequer que lhe chamem a atenção para seus defeitos, mostra-se duro e intransigente com os defeitos alheios.

Devemos estar prevenidos contra este vício, porque são poucos os que, em maior ou menor grau, não adoeçam dele, já que o amor próprio nos cega, e nos faz julgar e tratar o próximo de uma maneira muito diferente da que tratamos a nós mesmos. “Nós, diz S. Francisco de Sales, queremos que suportem os nossos defeitos, parecendo-nos sempre que são dignos de serem tolerados; porém, os do próximo parecem-nos sempre maiores e, consequentemente, menos toleráveis. ”

Tudo isto nasce, como dissemos, da falta de humildade e conhecimento de nós mesmos, e da falta de bondade e de caridade para com o próximo. O coração humilde, bondoso e caritativo, tendo em conta as suas próprias fraquezas e defeitos, e considerando por outro lado quanto custa adquirir a virtude, e quantos obstáculos interiores e exteriores encontra no seu caminho, tolera e sofre com paciência as faltas e misérias do seu próximo; atenua quanto pode a gravidade dessas faltas e defeitos; dá-lhes a interpretação mais benigna possível; cala, espera caridosamente nos casos em que o falar seria inútil ou prejudicial ; e, enfim, trata os outros com aquela prudente misericórdia e indulgência com que nas mesmas circunstâncias quereria ser tratado.

A paciência para com o próximo no meio das suas imperfeições é, sem dúvida, um dos principais efeitos da verdadeira caridade, um dos primeiros sinais dela; e quanto mais bondosa e caridosa é uma pessoa, tanto mais inclinada se sente à benignidade e paciência para com o próximo. Por isso, Deus Nosso Senhor, que é todo bondade e caridade, é tão indulgente e compassivo para conosco. Suporta os nossos defeitos, sofre com infinita paciência os nossos pecados e infidelidades; perdoa-nos uma e outra vez as nossas faltas, e espera-nos um e outro dia, um mês e outro mês, um ano e outro ano, dando-nos tempo e graça para nos arrependermos, emendarmos, e voltarmos ao seu amor e amizade. Se Deus não nos tivesse tolerado, não estaríamos a estas horas sepultados no profundo abismo do inferno?

E à vista de tanta bondade e indulgência por parte do Senhor, não seremos nós bondosos e indulgentes com o nosso próximo? E podemos considerar-nos filhos de tão bom Pai se não procurarmos revestir-nos dos sentimentos caridosos do seu dulcíssimo Coração?

São Francisco de Sales dizia: “Grande parte da nossa perfeição é suportarmo-nos mutuamente nas nossas imperfeições, e o amor do próximo em nada se pode exercitar melhor que nesta tolerância.” Por isso, o Santo Bispo insistia vivamente, tanto nas suas conversas como nos seus escritos, sobre certas virtudes, que dizia não eram suficientemente estimadas, a saber: a cordialidade, a paciência, a afabilidade, a bondade, a tolerância com os defeitos dos outros; e achava uma ilusão imaginar que se podem fazer grandes coisas pelo próximo quando não sabemos suportar suas faltas corriqueiras.

A todos, sem exceção, é necessária esta paciência com os defeitos alheios, pois não há ninguém neste mundo que não tenha defeitos próprios. Somos homens, e não anjos; e as imperfeições, como consequência do pecado original, nos são, de certo, modo naturais e nos acompanharão até à morte. «Deus dispôs assim, diz a Imitação de Cristo, para que aprendamos a suportar uns o peso dos outros, segundo o conselho do Apóstolo, pois ninguém há sem defeito, ninguém que não cause aborrecimento aos outros, ninguém que se baste a si mesmo, ninguém que seja suficientemente entendido em tudo, senão que é preciso suportar uns aos outros e mutuamente consolar-se, ajudar-se, instruir-se e aconselhar-se. Sejamos, pois, pacientes com os defeitos e quaisquer fraquezas do nosso próximo, porque também nós temos muitos defeitos que os outros devem tolerar.”

É indispensável, além disto, esta mútua paciência para se poder viver em paz e harmonia uns com os outros: superiores com inferiores, pais com filhos, maridos com esposas; irmãos com irmãos; amigos com amigos, etc. Sem uma tolerância prudente e caridosa das misérias, imperfeições e faltas alheias, sobretudo das faltas leves e quotidianas, que nascem mais da própria condição fraca e imperfeita da nossa natureza que da malícia, logo surgirão os choques, as desavenças, as murmurações, as palavras ofensivas e os insultos graves, os rancores com todo o cortejo de dissabores e desgostos que virão amargar a vida de todos os que têm de viver juntos. E quanto todas essas coisa efetivamente existem no seio da família, entre marido e esposa. Que lástima! Ao contrário, onde reina a caridade fraterna, e com ela a tolerância mútua dos defeitos e imperfeições, haverá paz, concórdia, alegria santa, e os dias, no meio dos seus trabalhos e amarguras, tornar-se-ão mais suaves, mais agradáveis e suportáveis, até que brilhe para nós na glória, o dia da verdadeira paz e eterna caridade.

A paciência com os defeitos do próximo, acompanhada de atos repetidos de caridade, de humildade, de paciência, de doçura, de mortificação, etc., será muito agradável a Deus Nosso Senhor, e fonte abundante de santificação e de méritos para nós; e por isso, os Santos foram tão benignos, tão pacientes e sofridos no trato com as outras pessoas. Ditoso, diz S. Francisco de Sales, aquele que aprendeu bem estas excelentes lições de caridade e paciência cristã que nos deixaram os servos Deus.

Seria, contudo, um erro funesto confundir a paciência virtuosa com os defeitos dos outros, filha da verdadeira caridade, com uma conivência que contribuísse para favorecer os defeitos e vícios do nosso próximo. Favoreceríamos esses defeitos e seríamos cúmplices deles se de algum modo autorizássemos ou déssemos mostras de aprovar tais defeitos ou se nós, por uma amizade mal entendida, ou por outros respeitos humanos os imitássemos, ou se podendo ou devendo opor-nos a isso o não fizéssemos. Neste último caso encontram-se os pais e superiores, a quem incumbe o dever de velar por aqueles que estão entregues ao seu cuidado. Eles faltariam à sua obrigação se não se opusessem aos vícios e defeitos de seus filhos ou subordinados. A oposição ao vício, a sua correção deve ser sempre, porém, com bondade, prudência, caridade, ainda quando necessitem vigor.

Essa paciência com o próximo não significa estar de acordo com seus defeitos, mas ver a melhor maneira de ajudar o próximo a superá-los. Sabendo o momento de falar e de calar, sabendo o que falar, como falar ou fazer algo. Com paciência, com caridade. Quantas vezes, por impaciência, se faz algo até com boa intenção, mas que só piora as coisas porque não soubemos esperar, ter essa boa paciência com os defeitos do próximo.

Imitemos em tudo isso a conduta de Nosso Senhor Jesus Cristo com os Apóstolos. Com que paciência suportava os defeitos deles, a rudeza deles, as inconveniências e os modos grosseiros deles, o egoísmo, o interesse e toda a série de imperfeições de que estavam cheios quando os chamou ao Apostolado! Como os foi, pouco a pouco, com doçura e fortaleza ao mesmo tempo, purificando-os dos seus maus hábitos, formando-os e aperfeiçoando-os para o alto ministério a que os destinava! Repreendia-os, sim, e opunha-se à suas faltas quando era necessário, porém, com que prudência, com que amor, com que bondade e caridade o fazia! Não era somente para com eles o mestre e o juiz das suas ações. Era ao mesmo tempo o pai e amigo, benfeitor. Procuremos efetivamente ter essa paciência para com o próximo. Ela uma pérola da caridade e da santificação. Procurem sobretudo esposo e esposa ter essa paciência mútua. Essa caridade que se traduz nessa boa paciência com os defeitos do próximo é o segredo para que a paz reine no lar.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Fonte: www.sensusfidei.com.br  via  www.rainhamaria.com.br

 


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