A autoridade da Igreja e as Escrituras


 05.09.2009 - “Eu acreditava em tua existência, na imutabilidade de tua substância, no teu governo sobre os homens, na tua justiça. Acreditava que em Cristo, teu Filho e Senhor nosso, e nas Sagradas Escrituras, garantidas pela tua Igreja Católica, havias colocado o caminho da salvação para a humanidade, a fim de atingir a vida que começará depois da morte” (Santo Agostinho, Confissões, VII, 11).

As palavras de Santo Agostinho revelam uma realidade que perdura pelos séculos. Se hoje é constituída uma base cristã em nossa sociedade e se o protestantismo, assim como tantas outras correntes que se dizem ligadas a Jesus Cristo existem, é graças à autoridade da Igreja Católica, que definiu, além do que devemos crer, o que devemos ter como santo nas Sagradas Escrituras. Sim: foi a Igreja Católica a responsável pela definição do cânon bíblico. E o mesmo mestre da Patrística confessa: “Ego vero Evangelio non crederem, ni si catholicae Ecclesiae commoveret auctoritasNo Evangelho verdadeiro eu não creria, se a isso não me movesse a autoridade da Igreja Católica” (Ep. Contra os Maniqueus, I, 1).

Conforme atesta a constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, “[m]ediante a Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante” (n. 8). Realmente, não havia um consenso geral entre todos de quais deveriam ser os livros sagrados. A confirmação definitiva, de fato, que foi baseada em testemunhos antigos da Tradição, aconteceu no Concílio de Florença, no século XVI. Mas já no século IV – mais especificamente no ano 367 – Santo Atanásio de Alexandria falava, na Epístola 39, sobre o Cânon das Escrituras. E falava do ardoroso desejo que tinham os Santos Padres em adicionar outros cinco livros à Bíblia:

“[H]á outros livros, além desses, de fato incluídos no Cânon, indicados pelos Padres para leitura por aqueles recém-admitidos entre nós e que desejam receber instrução sobre a Palavra de Deus: a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Sirac, Ester e Judite, Tobias” (n. 7).

E completava que em lugar nenhum havia menção de que esses livros fossem apócrifos (cf. S. Atanásio, Ep. 39, 7), comprovando que é falsa aquela idéia protestante que afirma que os livros que foram acrescentados à Bíblia eram apócrifos e haviam sido anteriormente rejeitados. No mesmo século, então, o Papa Dâmaso, exercendo a infalibilidade que Jesus Cristo deu à Sua Igreja, proclamou, no decreto gelasiano, quais eram os livros inspirados pelo Espírito Santo. Citava, entre aqueles dos quais já conhecemos, os livros que chamamos deuterocanônicos: Sabedoria, Eclesiástico, Tobias, Judite e os dois livros de Macabeus. Portanto, a definição primeira do Cânon, que já era de autoria da Tradição Apostólica e, conseqüentemente, da autoridade do Magistério da Sé, recebeu mais esses livros que, no século XVI, viriam a ser rejeitados por Lutero como falsos.

Não existe nenhuma tese que sustente a incoerência do protestantismo: quando afirma crer somente na autoridade bíblica, está ao mesmo tempo confirmando a autoridade da Igreja Católica, que definiu e compôs os livros das Sagradas Escrituras. Os protestantes não têm saída: ou crêem na infalibilidade da Tradição Apostólica da Igreja Católica ou não podem crer na infalibilidade das Sagradas Escrituras. Se hoje é a Bíblia o fundamento principal da nossa fé é porque no começo da história do cristianismo a Igreja, por meio do Papa Dâmaso e dos santos patriarcas da fé, definiu o Cânon das Escrituras.

E não adianta dizer que Lutero formou o próprio cânon protestante, retirando os livros deuterocanônicos da Bíblia. Ora, não baseou a sua “modificação canônica” nos livros já anteriormente definidos pelo Sagrado Magistério da Igreja Católica? Não é possível, pois, crer na Bíblia sem antes crer na autoridade da Igreja; não é possível crer nas Escrituras e cultuá-las como verdadeiro fundamento de nossa fé se, para que elas existissem, fosse preciso a ação da Tradição da Igreja; não é possível, enfim, separar a autoridade das Escrituras da autoridade da Igreja Católica. Uma é confirmação da outra.

Se os protestantes querem continuar com a farsa descabida da Sola Scriptura, continuem; mas que conheçam a verdade histórica que é revelada pela Igreja.

Graça e paz.

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


Rainha Maria - Todos os direitos reservados
É autorizada a divulgação de matérias desde que seja informada a fonte.
https://www.rainhamaria.com.br

PluGzOne