Não Aguentamos Mais! (Carta ao Clero Italiano no ano de 1995) Parte 2


Não Agüentamos Mais ! (Carta ao Clero Italiano) Parte 2

V- NÃO SÃO “DONOS DO CULTO”

A) Finalmente, depois do Concilio!
Muitos dentre os senhores presumem ser livres, convencidos de que tudo, relativamente ao serviço do altar, pode ser confiado á consciência pessoal, á espontaneidade, ao amor; e este não se deve reprimir quando arde e irrompe diretamente do suposto carisma do momento.

Por causa disso, quanta coisa não fomos obrigados a ver e a tolerar em certas igrejas!

Os senhores tentam justificar-se, repetindo até cansar que, com o Concílio, tudo finalmente se tornou lícito aos filhos de DEUS. Todavia, o Vaticano II para não citarmos os Pontífices que o precederam e seguiram, declarou que (salvo a Santa Sé e o Episcopado) “pessoa nenhuma, absolutamente, mesmo sacerdote, ouse, por iniciativa própria, acrescentar, amputar ou mudar qualquer coisa em matéria litúrgica” (Sagr. Conc. 22).

Certamente, iludem-se quando, não podendo negar a letra, apelam para o espírito do Concílio. Mas de que “espírito” se trata? Compreendemo-lo bem o dos senhores, isto é, aquele por onde cada um se apropria do Concílio e se sirva dele, como bem entende, mesmo após a Santa Sé haver deixado tudo explicado e esclarecido, qualificando como traidores da Igreja os mistificadores do culto.

Começando pelos paramentos, é fácil encontrá-los sem a casula, as vezes mesmo sem a alva, ou apenas com a estola. Interpelado a respeito houve quem respondesse que sentia calor. Tal ocorre, sobretudo, nas capelas privadas ou nas celebrações para círculos restritos de amigos, que os senhores ensinaram erroneamente, fazendo-os imaginar que a Missa pode ser privada, ao passo que ela é SEMPRE PÚBLICA, porque celebrada por CRISTO para todo o mundo...

Quanto às leituras, freqüentemente, não há escrúpulos em ler excetos de autores profanos, mesmo não católicos...

Alguns omitem desembaraçadamente o lavabo, recusando-lhe o sugestivo simbolismo.

Outros, percorrendo o Missal, suprimem, acrescentam, pospõem lá e cá palavras, frases, conforme a inspiração e fervor do momento, enquanto o povo fica desorientado e até ofendido. Ás vezes ousa até unificar as duas fórmulas da consagração, alterando o sublime significado dessa distinção...

E as homilias dos senhores? Muitos não conseguem suportá-las, por serem prolixas, pedestres, repetitivas...

Ademais, aproveitam-se delas para fazer comunicações, permitindo-se banalidades, roçando a política e, infelizmente, irritando o público...

Inoportunas, e amiúde fastidiosas, as freqüentes interrupções do culto, provocadas por uma grande vontade de falar, e isso não raro fora de propósito, sendo imprópria a linguagem do ponto de vista teológico...

Deplorável ainda a liberdade de intervir, concedida a todos, na convicção de que também os fiéis celebram com os senhores, participando do único sacerdócio de CRISTO...

De resto, imaginam que podem exprimir-se como todos..., não distinguindo o sacrifício “dos senhores” do sacrifício “dos outros”, preferindo dizer, “o nosso sacrifício”.

Confirmam tal imperdoável confusão, quando, ao término da Missa, dizem “Abençoe-nos...”, ao invés de “Abençoes-vos...”, “Vamos em paz...”, em lugar de despedir os fiéis em Paz. Por meio dos senhores, com efeito, fala o próprio CRISTO, que é a Paz; Paz que a todos dá, pois nEle está a Fonte. Assim, demagogicamente, teimam em confundir-se com o povo, para salvar a fraternidade, esquecendo uma paternidade que é o maior valor da comunidade eclesial...

Quem são, pois, os senhores? Quais relações os vinculam á Igreja hierárquica, ou seja, com CRISTO, que, nela e por ela, continua a adorar o Pai? Ignoram que as pessoas de cada um dos senhores nada significam à luz desse mistério?

Quem lhes deu autorização para celebrar, também estabeleceu as normas, os estilos, formando-os numa inconfundível disciplina, necessária para alimentar o espírito dos fiéis. Estes, por seu turno, sentem-se legitimamente responsáveis pelo culto, amado e protegido como um bem comum, intocável, e ficam perturbados quando “o padre” (que não cuida de comportar-se como “sacerdote”) apropria-se desse mesmo culto, modificando-o, adaptando-o às próprias idéias, aos próprios gostos.

Letra e espírito do Concílio condenam os senhores.

B) Celebração e concelebração
O Sacrifício da cruz, como todos sabem, é uno e irrepetível quanto ao seu conteúdo de mistério, a despeito das inumeráveis Missas celebradas sempre e por toda parte.

É certo, entretanto, que cada uma das Missas corresponde ao mesmo Sacrifício, dada a transcendência de seu mistério, absolutamente único no que respeita as suas representações sacramentais , numericamente sempre passiveis de multiplicação.

Inteiramente verdade, enfim, que CRISTO é o único CELEBRANTE PRINCIPAL DE CADA Missa, ao passo que o sacerdote é simplesmente o ministro ou instrumento que, de próprio, tem apenas a faculdade de tornar visível o Sacrifício, por ele oferecido num presente que transcende todas as épocas.

Ora, os senhores certamente, não todos, ainda não vêem claramente que a unidade (e pluralidade) numérica da Missa procede da unidade e pluralidade numérica da CELEBRAÇÃO LITÚRGICA, segundo as coordenadas de tempo e espaço, que condicionam todos os fatos deste mundo.

Não compreenderam que a unidade (e pluralidade) numérica da CELEBRAÇÃO LITÚRGICA coincide exatamente com a unidade (e pluralidade) numérica da CONSAGRAÇÃO EUCARÍSTICA. Segue-se daí que a CADA UMA DAS CONSAGRAÇÕES EUCARÍSTICAS CORRESPONDE UMA MISSA, da mesma forma que a MUITAS CONSAGRAÇÕES CORRESPONDEM MUITAS MISSAS...

Outro aspecto importante: a unidade de cada consagração depende DO ATO DE CONSAGRAR. Ato que é uno (ou múltiplo), conforme o número de AGENTES PRINCIPAIS, responsáveis pelo culto... Ora, o Agente principal da consagração eucarística é SOMENTE CRISTO, enquanto o sacerdote é apenas instrumento.

Então, se muitos agentes instrumentais não multiplicam O ATO DO AGENTE PRINCIPAL e, precisamente pela sua dependência do mesmo, estão Unidos entre si o ato de consagrar, é inegável que muitos celebrantes não multiplicam a ação litúrgica, como analogamente, mais bispos sagrando um outro bispo, não multiplicam a sagração, que continua uma só.

É por isso que os sacerdotes concelebrantes são de tal modo unidos a CRISTO, e daí entre si, que deve ser moralmente simultânea a consagração de todos, caso contrário cada um celebraria “sua” Missa, e seria errôneo falar em “concelebração”.

Se una é a Missa, porque única é a Oferta de CRISTO, que Se torna presente e visível diretamente sobre o altar, o fato de os “ministros” serem um ou vários é de todo indiferente, por onde a Missa concelebrada não é mais proveitosa do que a individual. Diferem apenas entre si porque uma evidencia a identidade, ou unidade do sacerdócio ministerial, participado por mais indivíduos; ao passo que a outra, celebrada por um só sacerdote, possui a vantagem de exprimir mais diretamente A UNIDADE DO CELEBRANTE PRINCIPAL, que é CRISTO, fonte exclusiva do “sacerdócio ministerial bem como das múltiplas relações de unidade de que são investidos...”

Portanto, de cem sacerdotes concelebrantes não resultam cem Missas, mas apenas uma. E, então, caros sacerdotes, as concelebrações dos senhores, repetidas quotidianamente, habitualmente, acabam reduzindo sensivelmente o número das Missas individuais, o que provoca um notável empobrecimento da vida do Corpo Místico, porquanto seu crescimento depende da repetição não só mais fervorosa, mas também numericamente mais freqüente das cerimônias do culto. No tempo, a vida humana é condicionada necessariamente ao NUMERO DOS ATOS QUE SE SUCEDEM, pelos quais é possível render a DEUS a Glória que lhe é devida. Não podemos conceber que apenas um ato de amor tenha o mesmo valor de cem atos repetidos a cada dia por uma alma que tenda á perfeição da união com DEUS, desejável para todos.

Não podemos censurar a concelebração, aceita pelo Concílio, mas apenas o excesso, em função do qual muitos dentre os senhores, mormente nos conventos e abadias, só raramente celebram a própria Missa, daí saindo prejudicados espiritualmente quanto ao empenho, fervor, atenção, liberdade e serenidade interior...

Analisem, também, o dano incalculável que ocasionam aos fiéis, especialmente em nossos dias, quando as classes sociais se vão cada vez mais diferenciando, por onde fica difícil estipular um único horário para todas as categorias, dos moços aos caseiros , operários, empregados, estudantes, comerciantes, etc... Se são muitos, por que não se dignam oferecer a todos o bem imenso de muitas Missas? Poderiam fazer algo de mais importante, sabendo que precisamente que o sacrifício eucarístico, consoante o Concilio, “é o centro da comunidade dos cristãos...?” E “propicia a Igreja sua perfeição?...”

Se considerarmos as espórtulas dos fiéis, e que estes a concedem para fazer celebrar, digamos, dez Missas, os senhores não sentem escrúpulos, caso formem, por exemplo, um grupo de dez sacerdotes, de satisfazer as intenções pedidas com uma única Missa, exatamente aquela concelebrada por todos.

Será justo? Mais , se o valor de cada Missa equivale a certo total, que obviamente, se multiplica aumentando o número de Missas, como poderão perceber tal soma após haverem celebrado não dez, mas uma única Missa...? Não somos capazes de compreendê-los. Contudo, no Código de Direito canônico, pode-se ler que, “com referência as espórtulas da Missa, devem absolutamente afastar-se mesmo daquilo que tenha a aparência de contrato de comércio” (947). Não só, pois ainda se recomenda “celebrar pelas intenções dos fiéis, sobretudo dos mais pobres, ainda que não recebam nenhuma espórtula” (e.945/2).

Mais grave, em certo sentido, é o dano causado aos defuntos, à vista da maciça diminuição do número de Missas, que constituem o mais eficaz e agradável de todos os sufrágios impetrados...

Caso repliquem, afirmando que, durante a concelebração, pensam neles todos deveriam considerar que as intenções particulares dos indivíduos concelebrantes não multiplicam de fato a Missa, já que esta permanece numericamente uma, como objetivamente uma, é a “consagração” em qualquer Missa.

C) O sacramento da Penitência
É quase universal a lamentação dos fiéis com respeito aos confessores que minimizam a necessidade do sacramento da misericórdia de DEUS.

Infelizmente, as razões para isso alegadas opõem-se a tradição católica, baseada na Revelação, nas solenes declarações dos Concílios, nas categóricas intervenções dos Pontífices e dicastérios da Santa Sé. Ouve-se repetir:

- que estes sacerdotes não podem perder tempo, ouvindo a acusação dos pecados veniais;

- que a confissão se restringe aos pecados mortais;

- que basta confessar-se uma vez ao ano;

- que um mero ato de contrição supre a absolvição sacramental;

- que o ato penitencial de cada Missa é suficiente;

- que a absolvição coletiva dispensa a auricular, absolvição facilmente concedida, mesmo contra as limitações impostas pelo direito...

Ora, se alegações desse gênero provocam a indignação dos fiéis ainda fervorosos, acabam por confundir e demolir a consciência dos outros, de si já tíbios e negligentes. O resultado era previsível: presencia-se uma impressionante diminuição na prática da confissão sacramental.

A responsabilidade maior é dos senhores, reverendíssimos sacerdotes, totalmente esquecidos da missão de pastores que lhes compete, não mais se preocupando em visitar os enfermos e atendê-los, seja nas casas, seja nos hospitais. Daí chegarem mesmo ao absurdo de esperarem que o próprio moribundo lhes peça os últimos Sacramentos, enquanto caberia ao capelão incitá-los a isso e dispor-se a recebê-los.

Sistematicamente, negam-se a ouvir em confissão meninos para a Primeira Comunhão, fingindo ignorar que estes já sabem distinguir o bem do mal, o pecado venial do mortal...E que estes também necessitam de um aumento da graça para receber mais dignamente a eucaristia e, ás vezes, até mesmo, recuperá-la e reconciliar-se com DEUS...

Como explicar a atitude dos senhores, transformada cá e lá numa práxis habitual, com o conseqüente e sempre mais desalentador abandono de nossas igrejas? Nós, leigos, crentes, julgamo-nos no direito de pode-lo atribuir, provavelmente, a duas causas:

Receamos que a corrente do laicismo, a qual informa nossa cultura em todos os níveis sociais, esteja envolvendo também os senhores. Negado o caráter absoluto de todas as “leis”, também para os senhores a “consciência individual” passa a ser tudo, ou seja, o critério exclusivo de moralidade, em razão do que confundem facilmente o respeito à pessoa com a tolerância... Estão convencidos de que cada qual deve orientar-se por si mesmo, a margem de toda norma e prudência, e é por isso que consideram o pecado algo impossível, então, a confissão perde o sentido, é preciso deixar o homem livre, pois, segundo o Evangelho, interpretado pelos senhores, devemos ser indulgentes para com todos...

Ora, perdida a noção do pecado, cala-se a voz do dever, logo cessa a necessidade de acusar as próprias culpas, que deixam de ser culpas...

O sacerdote, que, repelindo os fiéis, tende a abolir o sacramento da Confissão, se comportaria como pessoa sensata. Este o primeiro (e mais radical) motivo pelo qual recusam ouvir em confissão os “penitentes”.

A segunda, mais provável, é compartilhada pelos “presbíteros”, que não mais crêem no próprio “sacerdócio ministerial”, nem tampouco no “poder das chaves”, conferido unicamente as sagradas Ordens. Conforme estes, empenhados em orientar as pessoas segundo uma estranha “via da fé”, quem verdadeiramente absolve não é o sacerdote, mas sim A COMUNIDADE ECLESIAL... Propriamente a esta, como dizem, é preciso confessar as próprias culpas, pois não é a outrem que o pecados deve reportar-se para a reconciliação com DEUS. O “sacerdote”, assim, é substituído pela ASSEMBLÉIA DOS FIÉIS, em cujo seio não há quem se destaque dentre os outros como “mediador” junto a DEUS...

Esta é uma das heresias que se insinuam também em ambientes católicos, sem que padres e bispos discirnam aí, presente, o intento diabólico de demolir a Igreja hierárquica...

Entre os senhores, mesmo os que não defendem um erro tão catastrófico, são por isso menos dignos de reprimenda, pois deixam de favorecer a prática da confissão; ao contrário, demonstram atribuir-lhe escassa importância. Na verdade, desestimulam as almas que buscam a confissão freqüente, denominada “de devoção”, consentindo que a Comunhão eucarística, quando não propriamente sacrílega, seja cada vez menos fervorosa, santificante; renunciando ao salutar dever de ascultar com paciência, fornecer explicações, encaminhar no sentido de alguma direção espiritual almas desejosas de progredir na vida da graça...

Quando, pois, se dignam sentar-se no confessionário, salvo honrosas e numerosas exceções, sobre serem expeditivos e intolerantes, com muita freqüência estão despreparados para resolver casos delicados de consciências, mas, sobretudo, não se mostram concordes entre os senhores, dando a impressão de que cada um segue sua moral, diversa da do outro...

Os casos mais correntes, analisados e resolvidos pelo Magistério, concernem ao pecado solitário, a situação dos divorciados, as relações extra-matrimoniais, ás práticas contraceptivas, aos homossexuais, etc... Em matérias de tal gravidade costuma acontecer que, um confessor absolve, e outro não... Em tal caso, o primeiro é tido como humano, compreensivo, aberto e sagaz, ao passo que o segundo é criticado, porque severo, intransigente, pastoral inepto... Daí advém o mais irreparável descrédito do sacramento e do Clero.

Prescreve o Código de Direito Canônico que o confessionário seja constituído de “grade fixa entre o penitente e o confessor” (c. 964/2), a fim de tornar mais livre a acusação dos pecados, ato por si só penoso, principalmente em se tratando de alguns que não querem ser identificados.

Hoje, contudo, em muitas igrejas, em especial, se novas ou reformadas, ao invés de darem acesso ao “confessionário”, introduzem o penitente numa “saleta”, onde a acusação dos pecados passa a ser sobretudo conversa amigável...

Comodamente sentado, o fiel não mais se apresenta com traje de “pecador”, arrependido, confuso, que humildemente pede perdão de suas faltas, resolvido a mudar de vida, disposto a todas as penitências para satisfazer a Justiça Divina... Por sua vez, o confessor não procura apresentar-se com a dignidade própria do pai, mestre, e notadamente juiz, mas, como um velho amigo, que prefere animar o penitente a ter confiança na Misericórdia de DEUS, criando assim uma atmosfera de tolerância, a qual atenua a gravidade do pecado como ofensa a Ele, relativiza a necessidade de uma radical conversão e, no final das contas, acaba quase por excluir a possibilidade do inferno, no qual muitos já não crêem... E, então, ao invés de tocar as consciência, fazem-nas adormecer. Caso absolvam do pecado, não lamentam as omissões, não estimulam ao progresso na virtude, ao heroísmo, a santidade...

Pastores pouco experimentados dirigem um povo formado de medíocres, rotineiros, supersticiosos, dispostos a ceder ante a opinião geral, seguir a moda, permanecendo estranhos a quase tudo o que se refira a vida da graça, indiferentes as vicissitudes da Igreja, a causa da fé.

Muitos sacerdotes desconhecem que, se o batismo faz nascer a alma, a confissão fá-la renascer e crescer, ignoram que a vida interior desta se deve não tanto aos padres pregadores, professores a administradores, quanto á laboriosa e obscura obra do confessor que, no segredo da consciência, sabe compreendê-la e santificá-la

VI – ESGOTAM-SE MUITO, MAS CONVENCEM POUCO

A) Observações dolorosas
É fácil comprová-lo, quase diariamente, porquanto somos testemunhas dos habituais acessos de pessimismo que tomam conta dos senhores.

Indubitavelmente, os escassos frutos de seus trabalhos pastorais são devidos, em grande medida, a nefasta influência da cultura materialista e atéia que grassa em toda parte. A técnica, hoje avançadíssima, busca apenas satisfazer a concupiscência humana, que é senhora de um mundo em permanente estado de revolta contra a Transcendência, o Cristianismo, a Igreja.

O que não surpreende a ninguém, pois já se falou demais disso. A luta entre o bem e o mal, verdade e erro, espírito e matéria, é de fato irredutível. JESUS nos sempre ensinou, e é por essa razão que ordenou aos Apóstolos fossem a luz do mundo, pressupondo que este se achasse nas trevas... Da mesma forma, que fossem o sal da terra, conhecendo bem que o saber profano, malgrado seu prestígio, não passa de insipiência, por onde a sociedade moderna cai no desvario e, obstinando-se na negação de DEUS, precipita-se na catástrofe.

Ora, em tudo isso, após o segundo milênio de evangelização da velha Europa, a maior parcela de responsabilidade cabe aos senhores, pois não estão empenhados, quanto deviam, em ser luz da verdade e sal da sabedoria.

O declínio da civilização cristã hoje é ainda mais preocupante. Estreitíssimo o número, já não falemos dos batizados, mas dos crentes que aceitam o dogma em todos seus artigos de fé, que praticam todos os preceitos da moral católica, especialmente os referentes ao amor, ao sexo, á vida, a família, que participam ativamente do culto, na recepção consciente e alegre dos sacramentos, que mostram, e disto se ufanam, ser membros vivos da Igreja.

Entretanto, é antiguíssima, na Itália, a tradição cristã, está em Roma o centro do mundo católico, a Cidade santificada pelo sangue dos Mártires, honrada pela passagem de incontáveis Santos... Não obstante as perseguições dos governos jacobinos e anticlericais, nossa Pátria forneceu o maior número de sacerdotes, sempre privilegiados, honrados, favorecidos, nas melhores condições possíveis para iluminar as consciências, impor-se á obediência e ao respeito dos fiéis: hoje tudo isso parece praticamente esquecido. A quase totalidade dos jovens está ausente, revelando, senão completa irreligiosidade e impiedade, ao menos indiferença quanto ao “sagrado”, amoralidade, aceitação de todas as capitulações no tocante ao sexo, a violência, a droga... Não faltam os que têm o hábito de blasfemar, escarnecer da fé e das tradições outrora mais veneráveis. São carentes de ideal, não sabem amar, não tem futuro, tampouco querem ouvir falar de amor a pátria, são causa de ansiedade e angústia para os pais.

Quanto á vida religiosa, diminui também o número dos anciãos: morrendo estes, amanhã, talvez tenhamos um povo de ateus e infelizes.

Nós, leigos, seríamos hipócritas se nos tivéssemos na conta de exemplares, ao contrário, devemos reconhecer nossa parcela de culpa na falta de correspondência as sábias admoestações da Hierarquia e dos santos pastores das almas.

Muitos, porém, não são tais e, se nos compete rezar por eles, compadecer-nos e defender a dignidade e missão de que estão investidos, não nos é lícito calar e ocultar, pois, em tal caso, eles poderiam ficar presunçosos e tornar-se piores, além de que os que se acham mais distantes da fé julgariam que o verdadeiro sacerdote católico corresponde a tais modelos.

B) O grande Desconhecido
Cremos achar-se na raiz de tudo, o que devemos particularmente lamentar, o habitual desprezo que os senhores manifestam pela vida interior, pela intimidade com DEUS, pela contemplação, pela mística, pela graça.

Parecem quase envergonhar-se de crer no sobrenatural, dão a impressão de comportarem-se como funcionários da liturgia resignados, que executam as tarefas como se tratasse de um ofício qualquer a assegurar-lhes sustento, posição na sociedade, sinais de respeito e atenção... Em suma, demonstram não estar de todo persuadidos de sua missão, de considerar-se privilegiados, como atesta a preocupação de fazer pantomimas, deixando transparecer frustração, arrependimentos...

A vida eucarística dos senhores é cheia de langores, revelada pelo modo maquinal e enfastiado de celebrar. Perderam (ou melhor, talvez nunca tenham adquirido) o hábito de “preparar-se devidamente, pela oração para a celebração do Sacrifício eucarístico, e de agradecer a DEUS no final”, segundo lembra o Código de Direito Canônico (c. 909).

Mostram-se animados por uma fé tão fraca, que não mais se dignam fazer a genuflexão diante do tabernáculo, nem ensinar aos outros, especialmente as freiras e as crianças...

Nos folhetos das Missas festivas, divulgados com aprovação dos senhores e distribuídos aos fiéis, consigna-se apenas ficar de pé, nunca falam em ajoelhar-se, mesmo durante a consagração e depois da comunhão (ação de graças).

Após haverem expulsado a Eucaristia do altar (seu único trono digno), quiseram relegá-la para fora da Igreja, construída unicamente para DEUS... Assim, dificultam sempre mais o acesso dos fiéis ao tabernáculo para adorarem o Santíssimo, parecem fazer todo o possível para levar o culto ao esquecimento e, por fim, a abolição. As maquinações da conjuração maçônica surtem efeito, pois, diante do cibório, as vezes não há uma lamparina acesa, nem flores, tudo é pequeno, esquálido, como se estivesse no abandono. A sepultura de um ente querido é muito mais bem cuidada...

C) Comunhão na mão?
Eclesiásticos, de alto a baixo na Hierarquia,os senhores não tiveram sossego enquanto não puderam “arrancar” de Paulo VI licença para ministrarem a Comunhão na mão. O Papa não queria fazê-lo, não podia comprazer-se com a atitude dos senhores, foi para ele uma tragédia, se desejam conhecer pormenores a respeito, basta consultar a “Reforma litúrgica”, de A Bugnini ( Edições Litúrgicas, Roma, 1983).

Procuraram deslealmente fazer crer:

a) que o rito em vigor não era o da igreja primitiva, o que é falso, porque em primeiro lugar nas duas primeiras décadas do século II, sob o pontificado de Sixto I (115-125) quando ainda viviam os discípulos dos Apóstolos, proibiu-se aos leigos até mesmo tocar nos vasos sagrados, de onde é licito supor que se lhes vedasse também tocar nas sagradas espécies (cfr. Mansi I, 653), em segundo, constitui erro “fazer retornar tudo, de todos os modos, ao procedimento antigo”, (Pio XII, Mediator Dei, 50). Somente os protestantes são capazes de sustentar isso, pois negam a Igreja hierárquica aquela santidade que a torna infalível também no processo histórico de sua evolução;

b) que o novo rito significaria um progresso, o que é errôneo, já que o verdadeiro progresso se deu no primeiro século, quando a Igreja, mais instruída acerca dos ministérios, mais fervorosa na participação do culto eucarístico, mais vigilante na prevenção das profanações e sacrilégios, mais cauta e resoluta no combate à heresia, estabeleceu uma práxis que, de Roma, propagou-se a todo o Ocidente, consagrando-se uma tradição que duraria muitos séculos, fruto maduro de uma experiência altamente providencial... Logo, a nova práxis eucarística é anti-histórica, representa um retrocesso: a suposta “reforma” deformou a liturgia católica num dos pontos mais nevrálgicos da vida da Igreja... É o que propriamente exprime, de forma categórica, Paulo VI na famosa instrução Memoriale Domini, de 29 de maio de 1969 (cfr, Acta Apostolicae Sedis 61, 1969, págs. 541-5);

c) sempre de forma desleal, procuram fazer crer que a reforma seria então mais que oportuna, porquanto ansiada por uma comunidade eclesial cívica e espiritualmente mais madura, a que a Igreja, complacente e maternal se dignaria condescender. Tudo falso, como nos assegura Paulo VI que, informadíssimo de tudo, observa:

“É UMA MUDANÇA IMPORTANTE DA DISCIPLINA, ELA TRAZ RISCO DE DESORIENTAR MUITO FIÉIS, QUE NÃO SENTEM NECESSIDADE DISSO E QUE JAMAIS SE PUSERAM TAL PROBLEMA...”

“PARECE QUE ESTA NOVA PRÁTICA, CÁ E LÁ INSTAURADA, CONSTITUI OBRA DE UM PEQUENO NÚMERO DE SACERDOTES E LEIGOS, QUE PROCURAM IMPOR O PRÓPRIO PONTO DE VISTA AOS OUTROS, E PRESSIONAR A AUTORIDADE”.

“APROVÁ-LO SERIA ENCORAJAR ESTAS PESSOAS QUE JAMAIS ESTÃO SATISFEITAS COM AS LEIS DA IGREJA” (Carta de 18 a 22 de outubro de 1968, corrigida e anotada pessoalmente por Paulo VI, cf. A Bugnini, op. Cit. Págs. 627 e seguintes).

Portanto, não havia nenhuma expectativa por parte do povo; e nenhuma iniciativa “graciosa” por parte da Igreja. Os únicos verdadeiros responsáveis se reduzam a uns poucos padres e leigos presunçosos e agitados. Esta a verdade histórica...

d) bispos, teólogos e liturgicistas, os senhores tiveram a pretensão de apresentar- nos a reforma como novidade inteiramente acidental e inócua, enquanto que, contra os repetidos desmentidos e advertências de Paulo VI, ela teve “uma incidência fortemente pastoral e mais ainda psicológica. O culto, insiste, e a veneração, bem como a própria fé no Santíssimo Sacramento, ficarão não pouco influenciados por isso” (cfr. A. Bugnini, op. Cit., pg. 624).

Queiram dizer-nos, em que devemos crer nos senhores ou no Papa?...

Por que não quiseram curvar-se as razões expostas por Paulo VI e que, há 26 anos, os fatos vem comprovando, mas ao contrário, fizeram prevalecer as dos inovadores, inconsistentes e mesmo ridículas?

Os temores do Papa Montini não eram infundados. No dia 3 de setembro de 1965, ele assinava a Mysterium Fidei contra os transviados teólogos holandeses, e confirmava solenemente a doutrina católica sobre a presença real, a transubstanciação e o caráter essencialmente sacrifical da Missa. Ora, coerentemente, poucos anos depois (carta de 18-22 de outubro de 1969 e instrução Memoriale Domini, 29 de maio de 1969), ele não podia deixar de sentir-se gravemente alarmado, quando se pôs a discutir sobre a nova práxis proposta, a qual, segundo definira com precisão, expunha o dogma eucarístico aos ataques da heresia, abalava a fé do povo, afrouxava o fervor, eclipsava o devido e tradicional esplendor do culto, abria a porta a horrendas profanações.

Tudo efetivamente se verificou da perda da fé (recusa da presença real em virtude da transubstanciação, e do Sacrifício eucarístico, substituído pelo “banquete fraterno”) as profanações, na negligência dos fragmentos caídos, pisados, e na fácil subtração das hóstias consagradas para “missas negras”, e vendidas a alto preço. “Chegam-nos notícias - lamentava João Paulo II, a 24 de fevereiro de 1980 de deploráveis casos de falta de respeito em relação ás Espécies eucarísticas... (Domini Cenae, 11).

Excelentíssimos e reverendíssimos sacerdotes, se estão informados sobre isso tudo, por que se obstinam em aproveitar-se desta inábil e infeliz concessão de Paulo VI? Prefeririam, talvez, uma proibição seca e definitiva em relação a indigna proposta de banalizar o mais nobre dos Sacramentos? Não lhes bastaram as sapientíssimas e perenemente válidas razões alegadas, por meio das quais se apelou á sensibilidade espiritual, á cultura, a experiência, ao zelo pastoral dos senhores?

Dos senhores, pois, a responsabilidade pelos constrangedores incidentes que ofereceram abundante material para as crônicas de jornais e revistas...

Tão só ignorância, leviandade e má fé podem explicar a obstinação com a qual muitos, dentre os senhores, se opõem ás próprias normas do decreto da Conferência Episcopal Italiana, que:

- considera “o modo costumeiro de receber a Comunhão, pelo qual se deposita a partícula sobre a língua (...) o mais conveniente de todos”, ao passo que o novo é simplesmente permitido “conjuntamente com o uso da Comunhão na boca...” (idem, 15) a quem o desejar. Então, trata-se de uma possibilidade. Os senhores, porém, invertendo as coisas, estão fazendo todo o possível para abolir a antiga práxis, substituindo-a pela nova, que o decreto não apresenta como única ou a preferível... Ora, isso significa enganar os fiéis;

- muitos há que, tendo abolido o uso da patena, obrigam os fiéis a receber a Eucaristia na mão, enquanto todos os documentos concernentes ao histórico do problema são concordes em reconhecer a caráter totalmente facultativo da novidade litúrgica. E a prepotência dos senhores “donos do culto”, excede todos os limites quando, segundo ocorre com freqüência, chegam a impor aos adultos que recebam a Comunhão na mão, na esperança de habituar as crianças a fazerem o mesmo...

contudo, os senhores frisam o respeito a liberdade, não cessam de falar em dignidade da pessoa, combatem todas as ditaduras e violências;

- o decreto da Conferência Episcopal Italiana (C.E.I.), que talvez muitos dentre os senhores nunca tenham lido ou procurado torná-lo conhecido do povo, acrescenta: “cada qual atente para não deixar cair NENHUM FRAGMENTO”,em razão do que a hóstia deve ser “feita de maneira tal que torne mais fácil tal cuidado”. Mas os senhores expressamente se riram de tal “precaução” , deixando tranqüilamente cair, dispersar-se e pisotear os fragmentos eucarísticos, demonstrando não terem jamais crido na transubstanciação, em seu mistério e desconhecer os elementos primários do Catecismo católico. Os senhores induzem á perda da fé na presença real de CRISTO;

- e a prova de uma tal desvairada indiferença se nos oferece quando, voluntariamente, assoprando no cibório, espalham pelo ar centenas de minúsculos fragmentos acumulados no fundo, enfim, também quando, ao cair a hóstia, autorizam este ou aquele a apanhá-la, sem verificar onde ela vai parar, igualmente, quando, tendo dado a Eucaristia na mão, não obrigam os senhores, aos fiéis a consumi-la diante dos senhores, como prescreve o decreto, e favorecem, dessa forma, a subtração de partículas, etc.

- torna-se corrente, por outro lado, o hábito de sentarem-se comodamente, deixando que “ministros extraordinários” distribuam a Comunhão, embora se saiba que a estes foi concedida a licença apenas “em caso de especial necessidade: na ausência do sacerdote e do diácono, ou quando há um grande número de fiéis” (iv, 12).

- Uma última confirmação da inconsciência dos senhores está em deixar a Eucaristia sobre o altar e convidar os fiéis a pegá-la e a comungar sozinhos... Não obstante isso, ainda a tal propósito, o decreto é inequívoco: “não é permitido aos fiéis apanhar com a própria mão ou diretamente da patena o pão consagrado, nem mergulhá-lo no cálice do vinho, nem passar as espécies eucarísticas de uma mão a outra”, (iv,16). Quem lhes conferiu o direito de dispensar da norma? Esta, reportando-se á estrutura hierárquica da Igreja, obriga a refletir que apenas CRISTO e quem é por ele autorizado, segundo a série de Seus ministros, pode dar-se a si mesmo aos fiéis...

Permitindo-se arbitrariedades do gênero, como poderão confirmar em nós a fé na presença eucarística?

Desconcertados, desiludidos, não mais podemos compreender nem suportar. Estão destruindo a própria autoridade.

Precisamente, o suicídio de que se falou acima.

e) Não mais casa de oração.

Descurando da Eucaristia (que deixou de ser “CUME E FONTE DE TODO O CULTO”, se olharmos como os senhores a tratam), a Igreja deixou de apresentar-se como “casa de DEUS”. A qualquer propósito, transformam-na em sala de concertos, encontros, conversas... Lá se vê aberto o comércio de objetos religiosos. Fazem entrar todos na Igreja, homens de calção e camiseta, mulheres de mini-saia e até mesmo reconhecem direito de ingresso aos animais.

Na Igreja, hoje, fala-se, ri-se, as pessoas movem-se a esmo, bisbilhotando cá e lá. As novas Igrejas oferecem aos visitantes (não mais fiéis e adoradores, mas turistas), apenas cadeiras para sentarem-se, estando abolidas, como no teatro, os genuflexórios. A celebração das núpcias é tão só ocasião de espetáculos, não mais de Sacramento. Autorizam a exercerem funções de testemunhas até mesmo pessoas não batizadas. Para participar das cerimônias, gente de toda espécie (inclusive, amancebados, divorciados, abortistas, empresários desonestos, médicos assassinos, etc...) se amontoa para receber a Comunhão, como se tratasse de um agradável gesto de conveniência imposto pelas circunstâncias...

Infelizmente os senhores acreditam que seria mais prudente calar, fechar os dois olhos, deixar correr, pois do contrário, alegam, ninguém mais entraria na Igreja... Método fácil, pastoral adaptada aos novos tempos de declínio do sagrado. Já se deram então por vencidos?

Acerca dos jovens, com quem “tanto se preocupam”, podemos afiançar-lhes que não souberam entendê-los, se pensam que tudo está resolvido apenas porque organizam equipes de futebol, passeios a praia e as montanhas, reuniões, “camping”, excursões culturais, peregrinações... Talvez não estejam igualmente empenhados em ensiná-los a rezar, participar da liturgia, rechaçar as solicitações do sexo, a indecência das modas... Não pensaram, quanto era necessário, em educá-los para a liberdade do cidadão honesto, do filho temente a DEUS...

E certamente os senhores se enganam quanto á iniciativa de se aproximarem de todos, em todas as partes, vestindo-se como uns quaisquer, fumando e bebendo, tomando atitudes liberais e as vezes até indecorosas, fazendo-se chamar pelo nome, dando-se o tratamento de “você”... È dessa forma ainda que, sem mesmo se darem conta, vão extinguindo em si mesmos o sagrado, o sobrenatural, que convém a ministros de CRISTO, de Quem deveriam ser testemunhas sobranceiras, nobilíssimas.

Ora, mesmo que o desejassem, como podem esperar que as pessoas ainda creiam na dignidade dos senhores, e queiram abrir a própria alma, confidenciar as próprias misérias para obter o perdão de DEUS?

Associaram as funções do ministério sagrado o ensino da religião nas escolas, para o que muitos dentre os senhores não se achavam preparados...

Freqüentemente, tal coisa redundou em algo insosso, inútil e até prejudicial... Hoje, uma massa enorme de jovens não mais crê em nada. Conforme um levantamento sobre a aula da religião nas escolas públicas, por de traz do otimismo de fachada, os dados revelam, que, nas grandes cidades, o número das defecções está em progressão constante.

Em todas as dioceses, também proibiram os professores de convidar as crianças de família cristãs a fazer o sinal da cruz; e estão destruindo a fé católica ao obrigarem professores das escolas médias e superiores a exporem o Cristianismo do ponto de vista exclusivamente histórico, isto é, nivelando-o com todas as outras religiões. O discutível ecumenismo dos senhores parece tender apenas ao favorecimento das outras religiões, difundido um indiferentismo que, ao final, acabará por excluir todas, arrastadas pelo vendaval do agnosticismo, cada vez mais decididamente orientado no sentido do triunfo do humanismo ateu.

O “achado” da sala cinematográfica dirigida pelos vigários continua sendo muitíssimo infeliz. A hierarquia católica, não obstante as renovadas recriminações do público, deixa correr, favorecendo a “pornografia no campo católico”. Os senhores autorizam a representação de peças teatrais abertamente blasfemas, nas quais JESUS, a Virgem, a Igreja, etc... São escarnecidos e blasfemados, entre aplausos e gargalhadas dos espectadores, como até a imprensa local informa. A tolerância é cumplicidade que agrava e difunde o fenômeno de uma descrença, que invade todos os lugares.

Em várias dioceses da Itália, além dos verdadeiros mestre da fé, encontra-se também padres pornógrafos, abortistas e pró-divórcio, que desconcertam e aviltam os honestos, armam ciladas aos inocentes, cobrem de lama a Igreja...

Que não bata na velha tecla de que devemos ouvir o que o padre diz, e não o que ele faz, sabem que o “fazer” (ou seja, o modo de proceder) dos senhores, ou bem pode confirmar, ou bem pode negar o “dizer” dos senhores, tampouco ignoram que, para quase totalidade dos leigos como nós, se é comumente difícil de apreender o que dizem quando falam em mistérios, deveres heróicos, é igualmente fácil deixar-nos convencer por aquele que faz o bem, mas, muito mais, por aquele que faz o mal... Na prática, pressupõem no povo uma fé que este ainda não tem, isto é, amadurecida, como deveria ser, e não entendem que somente o exemplo pode fazer a semente germinar, ou seja, transformá-la desde logo em planta, capaz de resistir as forças demolidoras de todos os escândalos. Sempre, obviamente, admitindo-se que seja sempre verdadeiro e correto o que o padre diz... Isso, porém não ocorre quando o padre é despreparado, e sobretudo quando não tem convicções, e está contra o Magistério, ou mesmo se tem receio de pecar por presunção, caso ouse afirmar decididamente a verdade e distingui-la do erro... Nesse caso, estamos verdadeiramente perdidos...

Surpreender-se-ão se, após tanto esforço, não convencem ninguém, ao ponto de estarem sós, desprezados, provocando sentimentos de comiseração em todos quantos não mais conseguem identificá-los, nem lhes atribuir uma específica posição social? Qual é, afinal, a causa a que se entregaram, que ideais os atraem?

Não é a todos que podemos endereçar estas inquietantes perguntas: muitos são admiráveis e, já informados acerca de tudo o que dizemos, estão sofrendo mais do que nós, isto por verem a própria obra dificultada, e quase inutilizada, á vista do comportamento indigno de seus irmãos.

VII- VIDA CONSAGRADA FRUSTRANTE

Também aos senhores, reverendíssimos e caros religiosos, temos algo a dizer. Conhecemos muitos, irrepreensíveis, fiéis á própria vocação, ciosos do patrimônio de uma espiritualidade que forneceu a Igreja uma falange de santos, de contemplativos, missionários, mártires... Mas não ignoramos que determinados coirmãos seus não os entendem mais, e, além de os hostilizarem, em nome de uma “reforma” conciliar da qual não apreenderam jamais nem o sentido, nem o alcance.

A esses, pois, nos dirigimos.

Não cessam de reportar-se ao “espírito” do Vaticano II, o qual, entretanto, não pode contradizer-se ao inculcar normas e propor medidas que condenam os senhores.

O documento que lhes concerne conduz á reflexão sobre a riqueza do Corpo Místico, evocando a variedade dos carismas que deram origem a inumeráveis formas de consagração. A isso se deve aquela diversidade de gêneros, de onde provém a fisionomia espiritual única que constitui cada Ordem religiosa, distinguindo-a das demais. Tal compreende o “espírito” que a vivifica, o “fim específico” para o qual foi erigida, e ao mesmo tempo, “os meios necessários” para concretizá-lo, as “tradições” que concorreram para confirmá-lo e propagá-lo conforme as “Regras” aprovadas pela Hierarquia. “Tudo isso lê-se no decreto conciliar constitui o patrimônio de cada instituto” (PC 2).

“Patrimônio”, contudo, que muitos dentre os senhores desconhecem, ou até rejeitam, no afã de degustarem uma maior liberdade espiritual que jamais puderam entender, nem realmente desfrutar. Assim , a secularização, inflando-os até o ridículo, fá-los negar mesmo a ordem do amor, que impõe a primazia do amor de DEUS sobre a caridade em relação ao próximo, da contemplação sobre a ação, da santidade pessoal sobre todas as formas e supostas conquistas do apostolado.

Com efeito, o zelo “pelos outros” leva-os a agitarem-se de modo febricitante, a ponto de se esgotarem fisicamente, sem que obtenham com isso nada de sério e duradouro, ao preferirem o aplauso de um público de medíocres, a notoriedade fátua e falaciosa que todos esquecem, após uns curtos momentos de barulho.

É desse modo que o orgasmo da atividade e a busca do sucesso vão dissipando o espírito dos senhores, cada vez menos propenso a refletir sobre os problemas pessoais, a aplicar-se nos estudos, a preparar-se para responder as tremendas expectativas dos não crentes.

O “social”, todavia, cativa-os a ponto de aturdi-los, olvidam-se dos interesses da alma, das suas relações com DEUS...

O confessionário é lhes quase intolerável. Descontínua, superficial e ineficaz a catequese para os adultos, a preparação dos meninos para a Primeira Comunhão, para o Crisma, e a dos noivos para o matrimônio.

Facilmente, fazem-se substituir por leigos, tantas vezes imaturos, geologicamente ignorantes, espiritualmente medíocres. Parece que perdeu o sentido falar-lhes em direção espiritual, a mediocridade é o corriqueiro, e a santidade ilusão e presunção...

A onda de laicização agita-os insensivelmente, levando-os a considerar difícil e estranho o gênero de vida consagrada...

Daí muitos conventos se terem transformados em “casas de acolhida”. Apraz-lhes conviver com pessoas de ambos os sexos, rezar, cantar, passear e fazer excursões com eles. O silêncio outrora, para os senhores, norma irrevogável já não é mais tolerado. A “clausura” está extinta, os tradicionais jejuns ficaram sendo coisas do passado. Solidão, distanciamento das criaturas, recolhimento habitual, etc. O que, há séculos, delineava a fisionomia dos senhores , são idéias que não mais exercem algum atrativo para suas almas...

O constante relacionamento com o mundo induziu-os de tal modo á adaptação, que acabaram por jogar o hábito às traças. De fato, muitos há que contrariamente a uma prescrição do Direito Canônico (c. 669/1) recusam-se a aparecer em público com hábito da Congregação, e até mesmo com o clergyman, esquecendo que o venerável hábito, além de tudo, faria o mundo conhecer a Ordem, sua missão, suas benemerências, seus Santos, atraindo, assim, para junto de si as pessoas melhores...

Inteiramente aburguesados, vestidos como operários da mais ínfima categoria sua apresentação é deplorável, lamentavelmente canhestra...Contudo, em matéria de finanças, estão bem providos, de tal modo que a poucos falta o automóvel e portanto, a possibilidade de andar correndo por aí, até mesmo viajar ao Exterior, misturar-se com todos, em todos os ambientes, subtrair-se a regularidade da vida comunitária, á obediência devida aos superiores, aos incômodos da pobreza religiosa... Muitos diocesanos não se podem permitir semelhantes liberdade, muito menos as comodidades de que os senhores gozam, ou as despesas que contraem com extrema facilidade...

Nada disso, com efeito, é próprio a torná-los modelares, nem para fazer com que os diferenciemos uns dos outros, segundo a carisma que antigamente definia cada Congregação, tal como fora idealizada e estabelecida pelo Fundador. Por outro lado, se imaginam dedicar-se ao serviço da Igreja, adaptando-se para fazer tudo, em todos os setores do vastíssimo campo do orbe católico, ao final, em nada se especializarão, pois as suas não se distinguirão das atividades das outras Congregações, além de cometerem o erro de invadir outro terreno, suscitando rivalidades e conflitos dolorosos. Em conclusão não atraem o interesse, muito menos o entusiasmo dos jovens, para os quais uma Congregação vale tanto quanto outra. Isto, em grande parte, explica a impressionante redução do número de noviços...

Pela mesma razão, há sempre menos conventos, os edifícios religiosos são fechados, e os senhores se vêem assim obrigados a cerrar suas portas, vendê-los, abandoná-los.

Para sobreviver, acolhem prazerosamente vocações adultas, estas, porém, trazendo consigo uma bagagem de idéias e hábitos inveterados, fazem com que os senhores adaptem a disciplina religiosa a tais situações, de fato que, passo a passo, leva a decadência da vida espiritual da Congregação, desnatura-lhe a fisionomia, acelera-lhe a extinção.

Ora, quando isso começa a anunciar-se por meio de indícios inequívocos, não devem culpar exclusivamente as pressões do laicismo que tende a dessacralizar tudo; mas também aos senhores, na medida em que perderam de vista a idéia inspiradora do Fundador, a consciência que este possuía das verdadeiras necessidades da Igreja, bem como a confiança no poder irresistível da graça, a convicção da eterna incompatibilidade entre os critérios do Evangelho e os de um mundo que age sempre sob o signo da matéria, do dinheiro, do prazer, do egoísmo desagregador, que conduz a loucura e a destruição.

Perdida de vista a idéia originária do Fundador - obscurecida, discutida, traída, automaticamente perde o ímpeto, e logo a seguir morre, a única força que os mantinha unidos, daí a recíproca intolerância, que confunde e destrói, fazendo cessar todos os vínculos de obediência aos superiores, de solidariedade fraterna, de colaboração no campo do apostolado.

Somente aí se descobre que tais religiosos vivem sem se conhecer e morrem sem lamentar-se.

CONCLUSÃO

Nós, leigos, ousamos queixar-nos ao Clero, mas não somos anticlericais, são tais, esses sim, os que renegando o sacerdócio, recusam a instituição, sua dignidade, seus poderes.

Não nos consideramos nem um pouco anticlericais, exatamente porque defendemos a todo custo indivíduos que, ornados com as insígnias do sacerdócio, podem desonrá-lo, agindo em dissonância com seus deveres.

A história comprova que, inúmeras vezes, tal possibilidade traduziu-se em fatos, de tal modo que a Igreja, na pessoa de seus ministros, sempre encontrou os mais terríveis inimigos, foi das suas fileiras que saíram os maiores responsáveis de cismas e heresias...

Estes precisamente empregaram todas as energias e fizeram todos os esforços para demoli-la. Tal intento frustrado constitui a iniludível confirmação da origem divina da Igreja.

É preciso, pois, distinguir a instituição dos que a compõem, isto é a dignidade das sagradas ordens, do caráter humano, próprio ás pessoas que dela puderam e ainda podem abusar, consagrando-se, assim, a um mundo dominado pelo Maligno. Constituem eles a anti-Igreja.

É correto, portanto, deplorarmos sua ação maléfica, certos de que se os atacamos além de incitá-los ao arrependimento defendemos a Igreja, constantemente empenhada, ao longo dos séculos, na reforma do Clero, por meio das solenes advertências canônicas, das constituição de novas Ordens religiosas, da canonização dos Santos.

Nosso anticlericalismo, nesse sentido, assemelha-se ao sofrimento que provocavam os alertas de JESUS, de Estevão e de Paulo contra o sinédrio, assim como a de Dante contra a Cúria Romana de seu tempo, “lá onde o próprio CRISTO, a cada dia, vai sendo mercantilizado”. (par.XVII). Nisso está a angústia de todas as almas na resistência do que é humano ao divino, por parte de uma sociedade insolentemente obstinada na recusa em deixar-se transformar pelo fermento evangélico.

Anticlericalismo haveria, então, em todos os Santos, numa plêiade de almas reparadoras, numa multidão desarmada e obscura de fiéis que acompanham e detestam escândalos, arbitrariedades, extravagâncias e profanações.

Nossa reação não é agressiva e amarga, mas fraterna e, ademais, movida por nobilíssimo interesse, pois os senhores, graças aos poderes de que dispõem, nos são indispensáveis.

Nos senhores e pelos senhores, é CRISTO que opera, com o Espírito Santo, a Sua graça, a missão da Igreja hierárquica não pode ser substituída pela voz de nossa consciência, pelo nosso fervor pessoal; são os senhores, de fato, que, ao exercerem o sagrado ministério, nos fazem ouvir essa voz, alimentam nosso fervor.

Entendamo-nos, porém: aludimos ás vozes que transmitem a verdade isto é, a verdade absoluta e objetiva de um Magistério que a todos se impõe, bastando para isso ser fiel á palavra de DEUS, a tradição apostólica, á práxis universal dos Santos. Contra a verdade, membro nenhum da Hierarquia tem direito de exigir nossa obediência. A autoridade é legítima unicamente se estiver a serviço da VERDADE.

A luz da verdade revelada pelos senhores infalivelmente ensinada e por nós aprendida é que nos estimula a escrever para desabafar, dizendo que NÃO AGÜENTAMOS MAIS!

Nosso silêncio poderia ser culposa aquiescência, logo cumplicidade, que convidaria o mundo ridicularizar nossa fé, pisotear nossos mais amados e eternos valores.

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