Sermão de São João Maria Vianney: O homem criado por amor não pode viver sem amor, ou ama a Deus, ou se ama o mundo


24.04.2016 - Hora desta Atualização - 08h12

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São João Maria Vianney - O Santo Cura d´Ars

O nosso corpo é um vaso de corrupção; é para a morte e para os vermes, tão só... E, entretanto nós nos aplicamos a satisfazê-lo antes que a enriquecer a nossa alma, que é tão grande que nada se pode imaginar de maior: não, nada, nada. Porquanto vemos que Deus, premido pelo ardor de sua caridade, não nos quis criar semelhantes aos animais; criou-nos à sua imagem e semelhança, vedes! Ó como o homem é grande!

O homem criado por amor não pode viver sem amor: ou ama a Deus, ou se ama e ama o mundo. Vede, meus filhos é a fé que falta. Quando o homem não tem fé, é cego. Aquele que não vê não conhece; o que não conhece não ama; o que não ama a Deus ama-se a si próprio e ao mesmo tempo ama os seus prazeres. Apega o coração a coisas que passam como fumo. Não pode conhecer nem a verdade nem bem algum; só pode conhecer a mentira porque não tem a luz; está na névoa. Se tivesse a luz, veria bem que tudo o que ele ama só lhe pode dar a morte eterna; é um antegozo do inferno.

Fora de Deus, como vedes, meus filhos, nada é sólido, nada, nada! Se é a vida, passa; se é a fortuna, desmorona-se; se é a família, é destruída; se é a reputação, é atacada. Nós vamos como o vento. Tudo passa com velocidade, tudo se precipita. Ah! Meu Deus, meu Deus! Como são, pois, para lastimar esses que põem o seu afeto em todas essas coisas! Põem-no, porque se amam demasiado; mas não se amam com amor razoável; amam-se com o amor de si mesmos e do mundo, procurando-se e procurando as criaturas mais do que a Deus. É por isto que nunca estão contentes, nunca tranquilos; estão sempre transtornados.

Vedes, meus filhos, o bom cristão percorre o caminho deste mundo montado num belo carro de triunfo; esse carro é puxado pelos anjos, e é Nosso Senhor quem o conduz; ao passo que o pobre pecador é atrelado ao carro da vida, e o demônio, que está na direção, o força a avançar a largas chicotadas.

Meus filhos, os três atos de fé, de esperança e de caridade encerram toda a felicidade do homem na terra. Pela fé nós cremos aquilo que Deus nos prometeu, cremos que o havemos de ver um dia, que o possuiremos, que estaremos eternamente com ele no Céu. Pela esperança guardamos o efeito dessas promessas: esperamos que seremos recompensados de todas as nossas boas ações, de todos os nossos bons pensamentos, de todos os nossos bons desejos; pois Deus leva em conta mesmo os bons desejos. Que mais é preciso para ser feliz?

No Céu, a fé e a esperança não existirão mais; porquanto as névoas que nos obscurecem a razão serão dissipadas. O nosso espírito terá a inteligência das coisas que lhe são ocultas neste mundo. Não esperaremos mais nada, visto que teremos tudo. Ninguém espera adquirir um tesouro que possui. Mas o amor! Ó seremos inebriados dele, seremos afogados, perdidos nesse oceano de amor divino, aniquilados nessa imensa caridade do Coração de Jesus! Por isto a caridade é um antegozo do Céu. Se soubéssemos compreendê-la, senti-la, saboreá-la, como seríamos felizes! O que faz que sejamos infelizes é não amarmos a Deus.

Quando dizemos: 'Meu Deus, eu creio! Creio firmemente, isto é, sem a menor dúvida, sem a menor hesitação...' Se nos compenetrássemos destas palavras: 'Creio firmemente que estais presente em toda parte, que me vedes, que estou debaixo dos Vossos olhos, que um dia Vos verei claramente eu próprio, que gozarei de todos os bens que me haveis prometido! Meu Deus, espero que me recompenseis de tudo o que eu tiver feito para Vos agradar! Meu Deus, eu Vos amo! Tenho um coração para vos amar!" Como este ato de fé, que é também um ato de amor, bastaria para tudo! Se compreendêssemos a ventura que temos de poder amar a Deus, ficaríamos imóveis no êxtase...

Se um príncipe, um imperador, fizesse comparecer perante si um de seus súditos e lhe dissesse: 'Quero fazer a tua felicidade; fica comigo, goza de todos os meus bens; mas cuida de não me desagradares em tudo o que for justo': que cuidado, que ardor esse súdito não poria em satisfazer o seu príncipe! Pois bem! Deus faz-nos os mesmos oferecimentos e nós não nos preocupamos com a sua amizade e não fazemos nenhum caso das suas promessas... Como é possível?  (Fonte: Sendarium)

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Lembrando o artigo publicado em 08.08.2014

Com a severidade própria dos santos, João Maria Vianney combateu os insultos a Deus

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Era 1827 e as multidões que chegavam à aldeia de Ars vinham de toda parte. A fama do Padre Vianney já havia se espalhado pelos quatro cantos da França. Barões, clérigos, camponeses, curiosos; todos queriam conhecer aquela figura a qual tinham por santo. Um médico, tomado pelas intrigas dos colegas, decidira visitar o sacerdote, a fim de confirmar suas injustas suspeitas. De volta à capital, Paris, não pôde dizer aos amigos outra coisa sobre o pobre cura senão: "eu vi Deus num homem".

A santidade de João Maria Vianney causava constrangimentos. Apegado desde cedo à oração, agia em tudo conforme à vontade divina, fazendo de sua vida um perpétuo louvor a Deus. Tinha um fervor imensurável. Passava horas à frente do sacrário, gastando-se em severas penitências e na meditação dos santos mistérios: "O meu terço vale mais que mil sermões". Por isso, não poupou esforços no combate às blasfêmias e à libertinagem. Era o zelo pela casa do Pai que o consumia.

Os primeiros anos de Vianney em Ars foram de grandes desafios. A pequena aldeia estava atolada no indiferentismo. Trabalhava-se no domingo, blasfemava-se no campo, a falta de modéstia e os divertimentos profanos reinavam no coração daquela gente. A situação era desesperadora. E para uma alma apaixonada como a do Cura D'Ars, assistir àquele espetáculo de imoralidades era como ver a Cristo sendo crucificado. Com efeito, tratou logo de agir.

Sem fazer concessões, apressou-se em instruir os mais novos na catequese e nas práticas piedosas. Vianney estava convencido de que a ignorância religiosa era a causa de todos os males: "Este pecado condenará mais almas do que todos os outros juntos, porque uma pessoa ignorante quando peca não conhece nem o mal que faz, nem o bem que perde". Do alto do púlpito, atacava a todos pulmões as tabernas e o trabalho no domingo. Começava uma guerra sem tréguas, e o santo não iria recuar enquanto não visse a sua paróquia, de joelhos, diante do Senhor.

"Ah! Os taberneiros, o demônio não os importuna muito, pelo contrário, despreza-os e cospe-lhes em cima". Com essas palavras, o humilde cura fustigava a bebedeira, para desespero daqueles que se lançavam a tão vergonhoso vício. E assim também procedia com o trabalho nos dias de guarda. "Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos: 'Que acabais de fazer?' - repreendia o Cura D'Ars - "eles bem poderiam responder: 'Acabamos de vender a nossa alma ao Demônio e de crucificar a Nosso Senhor… Estamos no caminho do inferno". Pouco a pouco, as blasfêmias foram desaparecendo e as tabernas se fechando. Pesava-lhes a maldição de um homem santo. "Vós vereis, profetizava, vereis arruinados todos aqueles que aqui abrirem tabernas". Mas um derradeiro combate ainda estava por vir.

Em 1823, erguia-se na pequena paróquia de Ars uma segunda capela. Atendendo à vontade do pároco, ela seria dedicada a São João Batista, santo que tomara por patrono no dia de sua Confirmação. A cerimônia de inauguração foi de grande júbilo. Contudo, para os amantes dos prazeres profanos, motivo de despeito. Vianney mandara esculpir no arco do pequeno oratório a seguinte inscrição: "A sua cabeça foi o preço de uma dança". Uma alusão ao martírio de São João Batista e uma clara reprimenda aos bailes.

A luta de Vianney contra os serões durou cerca de dez anos. A ele se opunha grande parte da comunidade, sobretudo os rapazes apegados aos encantos da luxúria. À medida que o povo se afastava das danças, com efeito, mais raiva tinham do sacerdote os fanfarrões. Chegaram a organizar encontros a fim de puni-lo, mas o brado de Vianney foi tão forte que a eles não restou outra alternativa senão ceder. "O demônio rodeia um baile como um muro cerca um jardim… As pessoas que entram num salão de baile deixam à porta o seu Anjo da Guarda e o Demônio substitui-o, de tal modo que há tantos Demônios quantos são os dançadores." Era o fim dos bailes em Ars.

Os hereges também não tinham vez com o santo. Certo dia, um jovem de espírito petulante resolveu atacá-lo na frente da multidão. "Quem é o senhor, meu amigo?" questionou Vianney. O rapaz disse que era protestante. Com a firmeza de um verdadeiro pastor, retorquiu-lhe o santo padre: "Oh! meu pobre amigo, o senhor é pobre e muito pobre: Os protestantes nem sequer possuem santos cujos nomes possam dar aos filhos. Veem-se obrigados a pedir nomes emprestados à Igreja Católica". Foi o suficiente para que o sujeito se colocasse no seu lugar.

A santa intransigência de Vianney tinha um motivo igualmente santo: ele amava a seus paroquianos com amor de predileção. Por isso faria tudo que estivesse a seu alcance para lhes assegurar a salvação eterna. E seus esforços foram recompensados. Após poucos anos de ministério, Ars não era mais Ars. O povo havia se convertido, já não se trabalhava mais aos domingos e a igreja permanecia sempre cheia. Vencera a santidade do pobre cura. Os paroquianos compreenderam o que há tanto lhes ensinava o São Cura D'Ars: "Tão grande é o amor de Deus, é um fogo que queima na alma sem, contudo, a consumir. Ter Jesus no coração é já possuir o céu". TROCHU, Francis. O Cura D'Ars. Ed. Theologica. Braga. 1987.

Fonte: Christo Nihil Praeponere

 


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