Artigo do Padre José do Vale: Não servem a Cristo


15.02.2009 - “Porque estes tais não servem a Cristo, Nosso Senhor, mas ao próprio ventre, e com palavras melífluas e lisonjeiras seduzem os corações dos inocentes”. (Rm 16,18).

Concordo plenamente com o Presidente da União dos Ministros Batistas Independentes – UMBI, pastor Jackson Jean Silva em afirmar: “Observando o universo evangélico brasileiro atual, não consigo encontrar uma expressão que melhor o caracterize, do que esta: Tempos de Confusão! Infelizmente não existe palavra que possa retratar de maneira mais adequadamente a triste e deprimente realidade evangélica da atualidade. A verdade é que a idéia bíblica de culto tem se esvaído e muito do que temos visto hoje sob o pretexto de culto, não o é. São shows, espetáculos de gente famosa, exaltação de homens. São feitos muitos sacrifícios para ver os “famosos” e nenhum sacrifícios para servir a Deus” (1).
Realmente, estamos vivendo o auge da idolatria do culto à personalidade, do capitalismo religioso, da demolição da ética e da moral cristã é o último capítulo das heresias contra a verdade das doutrinas da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério Eclesiástico.
“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente etiquetado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, isto é, o fato de se deixar “aqui e ali por qualquer vento de doutrina”, aparece como o único comportamento à altura dos tempos atuais. Está se construindo uma ditadura do relativismo”, disse o Papa Bento XVI (2).
O relativismo vem causando a destruição da dogmática cristã e a exaltação da liturgia antropocêntrica. A ditadura do relativismo ratifica a razia da teologia liberal protestante e seus congêneres, como o humanismo secular.

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

“Na América Latina, principalmente no Brasil, a rápida expansão do pentecostalismo produziu um grave desvio ético na compreensão do evangelho. Surgiu um novo fenômeno religioso, mais comumente identificado como teologia da prosperidade”, diz o pastor assembleiano Ricardo Gondim (3).
A teologia da prosperidade é a mais terrível heresia no meio protestante da era pós-moderna.
Sua prática materialista e capitalista é blasfematória contra o Senhor Deus.
Na verdade, essa teologia pode ser chamada de teologia de Mamom, devido à busca gananciosa de dinheiro e riquezas.
Nada difere dos cultos às divindades pagãs antigas, como o comércio (Hermes ou Mercúrio), o prazer (Dionísio ou Baco), a glória e a fama (Zeus ou Júpiter), assim faziam os antigos idólatras.
A teologia de Mamom, têm causado grandes escândalos no arraial neopentecostal. Verdadeiros cristãos sofrem críticas e passam por situações delicadas diante da opinião pública por causa dos vexames dos líderes neopentecostais que vivem como Faraós e na “mais valia do pensamento econômico marxista”.
“A única força que poderia voltar-se contra o deus do mercado seria a religião. E a religião deixou-se contaminar. Essa resistência hoje foi minada principalmente por um grupo chamado neopentecostal, representado no Brasil entre outras, pela Igreja Universal do Reino de Deus”, afirma Ricardo Bitun, professor de Sociologia Jurídica e Sociologia da religião na Universidade Mackenzie –São Paulo. Para o professor Bitun: “A grande utopia cristã é que haverá novos céus e uma nova terra. Essas igrejas chamaram essa utopia aqui para a terra. Por que esperar pela chegada do grande reino, pela segunda vinda de Cristo? Vamos realizar a utopia agora”. (4) Isso significa viver o pensamento epicurista: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”.

A RELIGIÃO DE MERCADO

A religião existe para promover a grande fraternidade universal. No entanto, estamos vendo várias religiões envolvidas em guerras, terrorismo, cismas, escravidão e no mercado financeiro exacerbado.
A revista londrina The Economist na edição da semana 04/01/2008 traz uma reportagem sobre a Igreja Universal do Reino de Deus em que ironiza as práticas do bispo Edir Macedo.
“Sacrifício é divino, ele diz para a congregação. Talvez seja, mas inventar modelo de negócios genial é humano”, afirma a revista (5).
“Diz Macedo: Quem quiser prosperar precisa pagar o dízimo e oferecer ofertas de fé para merecer colher multiplicada. São as regras impostas pelo próprio Deus. Quem não se submeter a essas regras não tem direito à colheita. São os dízimos e as ofertas que ‘obrigam’ Deus a fazer a diferença na qualidade de vida do fiel” (6).
Que terrível heresia, que tamanha confusão na cabeça do povo. Isso é uma grande engenharia da patranha.
Não são sacrifícios, dízimos, ofertas, obras, campanhas, correntes, romarias, e outras coisas mesquinhas que obrigam o Senhor Deus nos abençoar. Tudo isso e a nossa justiça são como trapo de imundícia (Is 64,6).
Toda essa pregação de sacrifício e de dinheiro para receber graças, milagres e prosperidade é de obras da lei, portanto, está debaixo de maldição (ler Gl 3,10-13 e 22).
Como somos abençoados pelo bom Deus? São Paulo Apóstolo responde: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo” (Ef 1,3).
Somente em Cristo somos ricamente abençoados. Por que? “Porque tudo é Dele por Ele e para Ele. A Ele glória pelos séculos! Amém”. (Rm 11,36).
O mercado religioso está na moda. Na china se vê o crescimento de um budismo consumista.
Os monges budistas, na expectativa de maximizar seus lucros estão chegando a cursar programas de MBA que oferecem aulas de administração de templos. “A comercialização é uma das mais perigosas tendências do budismo chinês” diz Xuan Fang, professor de estudos religiosos na Universidade do Povo, em Pequim (7).
No Golfo Pérsico está surgindo uma nova Arábia. Uma nova geração de governantes está se libertando dos padrões de pensamento tradicionalmente nacionalista ou religioso. (...) Do Bahrein a Dubai os xeques constroem centros urbanos como símbolo do mesmo progresso que no século passado era representado por Nova Iorque e pela Califórnia. (...)
A maior agitação da construção civil está em Dubai, provavelmente a cidade com o crescimento mais rápido do mundo. (...)
Os xeques não conhecem a palavra “impossível”. A sua sensacional megalomania é parte de sua campanha de relações públicas. (...)
Dubai a Bahrein ainda vão mais longe na repressão à religiosidade islâmica. Bares com grande variedade de bebidas alcoólicas, uma vida noturna pulsante e até a prostituição estão presente de forma tão escancarada que dá para imaginar que todos os vícios condenados pelo islamismo recebem a bênção dos governantes (8).
O consumo per capita de ouro de Dubai chega a 34 gramas por ano, o mais alto do mundo. O ouro faz parte do seu dia-a-dia (9).
Petróleo, ouro, política e a prosperidade do mercado religioso, qual será o fim de tudo isso? “Ai, ai, ó grande cidade, vestias linho puro, púrpura e escarlate, e te adornavas com o ouro, pedras preciosas e pérolas: numa só hora tanta riqueza foi reduzida a nada!” (Ap 18,16).
A matriz da teologia da prosperidade são os Estados Unidos. O fundamento dessa teologia é o capitalismo americano e a ideologia da auto-ajuda. Esta filosofia falaciosa adentrou em todo seguimento social, principalmente nas denominações pentecostais e neopentecostais. A morte da dogmática cristã foi definida pela teologia da prosperidade. Os novos conceitos religiosos são guiados pelo hedonismo e narcisismo.
“Quanto mais rica a comunidade religiosa, maior a radicalização de seus pastores. A mistura de púlpito e política é parte fundamental da história americana”, afirma o pesquisador Timothy Nelson, da Kennedy School of Governmente, da Universidade de Harvard (10).
Os pastores megalomaníacos com suas megaigrejas nos Estados Unidos, romperam com a tradição histórica da Reforma Protestante.
Diz o pesquisador Dr. John Vaughan,, do Centro Internacional de Pesquisas das megaigrejas: “Os dias dos fogos do inferno e do castigo eterno acabaram. Não se pode enfiar religião goela abaixo dos fiéis. Eles só querem saber do que lhes será útil. A cruz foi retirada para não assustar as pessoas”(11).
Essa gente se tornou inimiga da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição. (Fl 3,18.19).
Deus não é Deus de confusão (1 Cor 14,33). Mas, por que tanta confusão doutrinária e tantas divisões denominacionais?
Vejamos o que disse um dos líderes do Movimento G12 (Mudou para: Visão Celular no Modelo dos 12), René Terra Nova: “Como resultado da Visão, nasceu uma Igreja Viva para o Deus Vivo em que todos são consolidados para um só destino: Jesus, o Messias”(12).
Uma pergunta, antes da Visão G12, a igreja estava morta para o Deus morto?
O falso profeta Joseph Smith, fundador dos Mórmons, disse que a Igreja de Jesus Cristo foi restaurada por ele em 06/04/1830, e antes?

CAMINHO PARA O INFERNO

Sem a verdade de Cristo e da palavra de Deus no coração e na razão, muita gente está servindo aos líderes religiosos e aos ídolos.
Essa gente não quer saber da Teologia da Cruz de Cristo. Não quer a renúncia do pecado e do mundo hedonista e narcisista.
Essa gente está embriagada com os prazeres e as soberbas oferecidas pela teologia de Mamom. Esta teologia dá suporte ao Movimento do show gospel, as megaigrejas, aos pastores eletrônicos, ao teatro da fé com os espetáculos de curas e milagres. A coreografia de quinta categoria, a onda de apóstolos, profetas, bispos e suas células (não mais membros ou irmãos), a falsa conversão de artistas e a igreja como um mercado financeiro.
A teologia da prosperidade é hoje um dos principais caminho para o inferno.
São Paulo Apóstolo nos exorta: “Cuidado com os cães”. Quem são os cães? São os pastores bandidos (Is 56,11).
O diabo tem levantado líderes na estirpe do rei Herodes. O Herodes de hoje está matando muita gente com falsas doutrinas e errônea interpretação da Sagrada Escritura. Ele faz de tudo para ninguém ver o Rei da Verdade.
O Pilatos de hoje está lavando as mãos no jogo do poder. E a lavagem de dinheiro não pára na rede de corrupção. Todavia, ele não quer saber dos seus crucificados.
Anãs e Caifás de hoje estão rejeitando o Messias revelado e fazendo da casa de Deus uma mega empresa com cafetinas e mafiosos.
Realmente, essa clientela que vão aos templos em busca de bens materiais e de soluções mágicas, não serve a Cristo, junto com seus cães servem ao ventre (Fl 3,19; 2 Pd 2,2.3).
CONCLUSÃO

Vivemos uma era de muitos desafios para servir a Cristo verdadeiramente. Não há tempo e nem espaço para viver como cristãos vacilantes.
Diante da confusão denominacional, dos falsos líderes que se intitulam de apóstolos, profetas, bispos, missionários, videntes e gurus, diante de tantas seitas e heresias, podemos afirmar e reafirmar e professar com valentia, graça , fé e amor toda nossa convicção a Igreja de Deus: Una, Santa, Católica e Apostólica.
A nossa santíssima fé é límpida em Cristo e Sua Santa Igreja. Com ela caminhamos seguros para as moradas eternas, os lugares celestiais, a cidade do Deus Vivo, a Jerusalém celestial, e de milhões de anjos reunidos em festas (Hb 12,22).
Maranata!!! Maranata!!! e Maranata!!!

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]


REFERÊNCIAS

(1) Jornal Luz nas trevas, Março de 2008,16.

(2) L’Osservatore Romano, 19/04/2005, p.5.

(3) Ultimato, Março-Abril de 2008, p.40.

(4) Valor, sexta-feira, 30 de junho e fim de semana, 1 e 2 de julho de 2006, p.7.

(5) http://gazetaonline.globo.com/noticias/minutoaminuto/nacional/nacional-materia.php?cd-matia+38989&cd-site+0844.

(6) Folha universal, 06/01/2008, p.2.

(7) Valor, 17/01/2008, p.A14.

(8) Chamada da Meia-Noite, maio de 2007, pp.8-10.

(9) Valor, sexta-feira e fim de semana, 15,16 e 17 de fevereiro de 2008, p.23.

(10) O Globo, 23/03/2008, p.39.

(11) Manchete, 01/08/1992, p.67.

(12) Enfoque Gospel, março de 2008, p.13.
 


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