Membros de Pontifícia Academia pedem saída de bispo que defendeu menina brasileira


19.02.2010 - CIDADE DO VATICANO,  (ANSA) - Membros da Pontifícia Academia pela Vida pediram hoje ao papa Bento XVI, em um documento, a destituição do presidente deste dicastério, arcebispo Rino Fisichella.

No texto, os religiosos argumentam que Dom Fisichella não fez a defesa correta da vida ao abordar em 2009 o tema da menina brasileira de Alagoinha (PE), que engravidou de gêmeos ao ser violentada e interrompeu a gravidez.

Em março do ano passado -- após o arcebispo de Recife e Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho, decidir excomungar a mãe da menina e os responsáveis pelo procedimento médico --, Fisichella saiu em defesa da menina e reiterou que "a violência sobre uma mulher é grave, e torna-se ainda mais deplorável quando perpetrada contra uma menina pobre, que vive em condição de degradação social".

Contudo, em seu texto, um artigo publicado pelo jornal vaticano L'Osservatore Romano, não ficou claramente explicitado sua condenação ao aborto e, portanto, o religioso foi criticado por outros membros da Igreja Católica e, inclusive, chegou a ser acusado de defender a morte.

"Trata-se de um estado de coisas absurdas para uma Pontifícia Academia 'pela Vida', que pode ser retificado apenas pelos responsáveis pela designação do presidente", diz o documento assinado por cinco acadêmicos da Pontifica Academia e que, segundo os religiosos, foi enviado ao Vaticano.

Segundo o grupo, em decorrência do posicionamento de Fisichella, a entidade se viu obrigada a emitir um esclarecimento em relação ao tema. Por isso, pede ao Papa e ao secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, a destituição do religioso de seu posto.

Questionado sobre o tema, o porta-voz da sala de imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, disse que "não foi enviada nenhuma carta ao Papa e nem ao secretário de Estado" com tal pedido.

"Este documento não foi visto pelas autoridades competentes, que são o Papa e o cardeal secretário de Estado", esclareceu.

Caso de Alagoinha

O caso da menina de nove anos, que foi violentada pelo padrasto e engravidou de gêmeos, gerou comoção mundial e uma grande polêmica sobre o aborto. Logo após a gravidez ser interrompida, o arcebispo de Olinda de Recife anunciou a excomunhão de todos os envolvidos, acusando-os de perpetrarem um "procedimento contra as leis de Deus".

Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos defensores dos médicos envolvidos. "Não é possível permitir que uma menina estuprada pelo padrasto tenha esse filho. Até porque a menina que corria risco de morte. Nesse aspecto, a medicina está mais correta que a igreja", disse o mandatário.

Fonte: UOL noticias

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Lembrando...

Caso da menina brasileira não muda ensinamento católico sobre aborto

10.07.2009 - Esclarecimento da Congregação para a Doutrina da Fé

CIDADE DO VATICANO.- Após as polêmicas surgidas sobre um artigo publicado no jornal vaticano pelo arcebispo presidente da Academia Pontifícia para a Vida sobre a menina brasileira que foi submetida ao aborto de gêmeos, a Santa Sé confirma que a doutrina da Igreja não mudou.

Explica-o um “Esclarecimento” publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé, na edição diária de 11 de julho de L’Osservatore Romano, como o próprio documento explica, em resposta a “várias cartas, inclusive da parte de altas personalidades da vida política e eclesial, que informaram sobre a confusão que se criou em vários países, sobretudo na América Latina”.

“A Congregação para a Doutrina da Fé confirma que a doutrina da Igreja sobre o aborto provocado não mudou nem pode mudar”, sublinha o “Esclarecimento”.

O documento se refere ao artigo publicado pelo L’Osservatore Romano no dia 15 de março de 2009, com o título “A favor da menina brasileira”, no qual o arcebispo Rino Fisichella, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, analisava o caso da menina que, aos 9 anos, vou estuprada repetidamente pelo seu jovem padrasto, ficando grávida de gêmeos e que depois foi obrigada a abortar no quarto mês de gestação.

No artigo, Dom Fisichella confirmava que “o aborto provocado sempre foi condenado pela lei moral”.

Pois bem, em resposta às crônicas publicadas pelos jornais, o arcebispo considerava que, segundo seu parecer, não era adequado que o bispo do lugar anunciasse de maneira tão pública e rápida a excomunhão – “algo que se aplica de maneira automática”, esclarecia – dos envolvidos, pois desta forma não se ajuda a mostrar o rosto materno da Igreja.

O “Esclarecimento” vaticano informa que, como foi possível saber depois, a menina “tinha sido acompanhada com toda delicadeza pastoral, em particular pelo então arcebispo de Olinda e Recife, sua excelência Dom José Cardoso Sobrinho”.

O próprio Dom Fisichella, em declarações posteriores à mídia, havia esclarecido que, antes de escrever o artigo, dada a urgência de responder rapidamente à enorme polêmica que havia sido suscitada, não tinha podido falar com Dom Cardoso Sobrinho, motivo pelo qual não estava informado deste fato.

O documento da Congregação para a Doutrina da Fé, cujo presidente é o cardeal americano Willian Levada, não entra nos detalhes concretos deste caso, mas se limita a ilustrar os textos de referência do magistério da Igreja sobre o aborto, em particular os números 2270-2272 do Catecismo da Igreja Católica.

O texto cita também várias passagens da encíclica Evangelium vitae, assinada por JoãoPaulo II no dia 25 de março de 1995, em particular o número 58, no qual se esclarece que o aborto provocado nunca pode ser justificado, ainda que aconteça em “situações difíceis e complexas”, seja para o bebê ou para a mãe.

No que se refere ao problema de determinados tratamentos médicos para preservar a saúde da mãe, o texto esclarece que “é necessário distinguir bem entre dois fatos diferentes: por um lado, uma intervenção que diretamente provoca a morte do feto, chamada em ocasiões de maneira inapropriada de aborto ‘terapêutico’, que nunca pode ser lícito, pois constitui o assassinato direto de um ser humano inocente”.

Algo totalmente diferente, continua indicando o “Esclarecimento”, é “uma intervenção não-abortiva em si mesma, que pode ter, como consequência colateral, a morte do filho”.

Para explicar este ensinamento da Igreja, a nota cita um famoso discurso de Pio XII, de 27 de novembro de 1951, no qual afirma: “Se, por exemplo, a salvação da vida da futura mãe, independentemente de seu estado de gravidez, requerer urgentemente uma intervenção cirúrgica, ou outro tratamento terapêutico, que teria como consequência acessória, de nenhum nenhum modo querida nem pretendida, mas inevitável, a morte do feto, um ato assim já não se poderia considerar um atentado direto contra a vida inocente”.

“Nestas condições, a operação poderia ser considerada lícita, igualmente a outras intervenções médicas similares, sempre que se trate de um bem de elevado valor –como é a vida– e que não seja possível postergá-la após o nascimento do filho, nem recorrer a outro remédio eficaz”, dizia o Papa Eugenio Pacelli nesse discurso.

No que se refere ao papel dos médicos nestes casos, o documento lhes recorda, com a Evangelium vitae (n. 89), “a intrínseca e imprescindível dimensão ética da profissão clínica, como já reconhecia o antigo e sempre actual juramento de Hipócrates, segundo o qual é pedido a cada médico que se comprometa no respeito absoluto da vida humana e da sua sacralidade”.

O documento vaticano não entra em detalhes sobre a aplicação automática da excomunhão no caso do aborto.

Fonte; ACI
 


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