Jornalista católico Sosa Laprida: Ensaio sobre a primavera bergogliana


15.07.2014 -

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O Estranho Pontificado do Papa Francisco.

Como católico, é sumamente doloroso ver-me obrigado por minha consciência a emitir críticas ao papa. E a verdade é que seria muito bom se a situação da Igreja estivesse normal e eu não encontrasse, por conseguinte, nenhum motivo para formulá-las. Desafortunadamente, somos confrontados com o fato incontestável de que Francisco, em apenas um ano de pontificado, realizou incontáveis gestos atípicos e efetuou um sem-número de declarações cheias de novidades e por demais preocupantes. Os fatos em questão são tão abundantes que não é possível tratá-los todos no marco necessariamente restringido deste artigo. Ao mesmo tempo, não é tarefa simples limitar-se a escolher só alguns deles, já que todos são portadores de uma carga simbólica que os torna inauditos aos olhos do observador atento, indicando uma situação eclesial sem precedentes na história. Depois de árduas reflexões, retive cinco que me parecem ser os melhores indicadores da tonalidade geral que é possível observar neste novo pontificado.

Esses fatos se agrupam em temas diferentes: o islã, o judaísmo, a laicidade, o homossexualismo e a maçonaria. Depois de havê-los expostos nessa ordem, na intenção de destacar em que medida são indicadores de uma inquietante anomalia no exercício do magistério e da pastoral eclesiais, apresentarei de maneira mais sucinta outra série de ditos e feitos que permitirão ilustrar ainda mais, se acaso fosse possível, a heterodoxia radical que resume os princípios e a práxis bergoglianos.

A questão do islã

Em 10 de julho de 2013, Francisco enviou aos muçulmanos de todo o mundo uma mensagem de felicitações pelo fim do ramadã. Devemos deixar claro que se trata de um gesto jamais produzido na Igreja Católica antes do Concílio Vaticano II. E devemos acrescentar que nenhum papa havia dirigido semelhantes saudações aos maometanos antes do pontificado de Francisco. A razão é muito simples, e certamente manifesta para qualquer católico que não perdeu completamente o sensus fidei: os atos das outras religiões carecem de valor sobrenatural e, objetivamente considerados, não podem senão privar os seus adeptos do único caminho de salvação: Nosso Senhor Jesus Cristo. Como não estremecer-se de espanto ao escutar Francisco dizer aos adoradores de “allah” que “somos chamados a respeitar a religião do outro, seus ensinamentos, seus símbolos e seus valores”? É impossível deixar de comprovar a distância intransponível que existe entre esta declaração e o que nos ensinam os Atos dos Apóstolos e as epístolas de São Paulo... Que se deva respeitar as pessoas que se encontram nos falsos cultos, isso não se discute, mas que se promova o respeito às falsas crenças que negam a Santíssima Trindade das Pessoas Divinas e a Encarnação do Verbo de Deus é algo insustentável do ponto de vista do magistério eclesiástico e da revelação divina. No entanto, é mister reconhecer que neste ponto não se pode atribuir a Francisco o título de inovador, já que não fez mais que continuar com a linha revolucionária introduzida pelo Concílio Vaticano II, o qual pretende, na declaração Nostra Aetate sobre a relação da Igreja com as religiões não cristãs (hinduísmo, budismo, islã e judaísmo), que “a Igreja Católica não rejeite nada do que é verdadeiro e santo nessas religiões. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas (...). Exorta os seus filhos a que (...) através do diálogo e da colaboração com os sequazes de outras religiões (...) reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores socioculturais que entre eles se encontram”. Palavras que provocam estupor, já que é algo manifestamente absurdo pretender que se deva “colaborar” com gente que trabalha ativamente para instaurar credos e muitas vezes costumes que são contrários aos do Evangelho. Como não ver nesse “diálogo” tão mentado uma profunda desnaturalização da única atitude evangélica, que é a de anunciar ao mundo a Boa Nova de Jesus Cristo, que nos disse claramente o que devemos fazer como discípulos: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt. 28, 18-20)? Esta noção de “diálogo” com as demais religiões carece de todo fundamento bíblico, patrístico e magisterial, e de fato não é mais que uma impostura tendente a desvirtuar o autêntico espírito missionário, que consiste em anunciar aos homens a salvação em Jesus Cristo, e de nenhuma maneira em um utópico “diálogo” entre interlocutores situados em pé de igualdade, enriquecendo-se reciprocamente e pretendendo buscar juntos a verdade. Essa pastoral conciliar inovadora fundada em um “diálogo” inscrito em um contexto de “legítimo pluralismo”, de “respeito” às falsas religiões e de “colaboração” com os infiéis não é mais que uma pérfida emboscada armada pelo inimigo do gênero humano para neutralizar a obra redentora da Igreja. A esse respeito, basta citar a única situação de autêntico “diálogo” que as Escrituras nos relatam, logo no início, a fim de alertar prévia e definitivamente sobre seu caráter intrinsecamente contaminado: trata-se do “diálogo” que Eva travou no jardim do Éden com a serpente, que haveria de desembocar na queda do gênero humano (cf. Gen. 3, 1-6). Poderíamos dar uma lista interminável de citações do Novo Testamento, dos Santos Padres e do magistério da Igreja para refutar a patranha segundo a qual os falsos cultos devem ser objeto de um “respeito sincero” às suas “maneiras de agir e viver, seus preceitos e suas doutrinas”, e para provar que, diferentemente das pessoas que os professam e que naturalmente devem ser objeto de nosso respeito, de nossa caridade e de nossa misericórdia, de nenhum modo as falsas doutrinas religiosas merecem “respeito”, que em ditas religiões não se encontra nenhum elemento de “santidade” e que os elementos de verdade que podem conter estão subordinados ao serviço do erro.

Deve-se reconhecer que Francisco é perfeitamente coerente em sua mensagem com o que o documento conciliar disse acerca dos muçulmanos, a saber, que “a Igreja olha também com estima para os muçulmanos, que adoram ao Deus único, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração”. Pois bem, qualquer que seja a sinceridade dos maometanos na crença e na prática de sua religião, não por isso é menos falso sustentar que “adoram ao único Deus”, “que falou aos homens” e que “a cujos decretos procuram submeter-se de todo o coração”, pela simples razão de que “allah” não é o Deus verdadeiro, que Deus não falou aos homens através do Alcorão e que seus decretos não são os do islã. Trata-se de uma linguagem inédita na história da Igreja e que contradiz vinte séculos de magistério e de pastoral eclesiais. Essa prática heterodoxa conduziu aos múltiplos encontros inter-religiosos de Assis, onde se alentou aos membros dos diferentes cultos idolátricos a rezar às suas respectivas “divindades” para obter “a paz no mundo”. Falsa paz, naturalmente, uma vez que se persegue com injúrias o único Senhor da Paz e Redentor do gênero humano, assim como a sua Igreja, única Arca de Salvação. E esta noção enganosa de “diálogo” conduziu igualmente aos últimos pontífices a mesquitas, sinagogas e templos protestantes, nos quais, pelo gesto e pela palavra, deram destaque a esses falsos cultos e não hesitaram em denegrir publicamente à Igreja de Deus criticando a atitude “intolerante” da que Ela havia dado mostras no passado. Vejamos um exemplo recente desta nova mentalidade ecumênica malsã, sincretista e relativista, condenada solenemente por Pio XI em sua encíclica Mortalium Animos de 1928: em 19 de janeiro, por ocasião da Jornada mundial dos migrantes e refugiados, Francisco se dirigiu a uma centena de jovens refugiados em uma sala da paróquia do Sagrado Coração, em Roma, dizendo-lhes que é necessário compartilhar a experiência do sofrimento, para logo acrescentar: “que aqueles que são cristãos o façam com a Bíblia, e que aqueles que são muçulmanos o façam com o Alcorão. A fé que vossos pais vos inculcaram vos ajudará sempre a avançar”. Esta nova práxis conciliar é efetiva e plenamente escandalosa, por um duplo motivo: por um lado, mina a fé dos fiéis confrontados com essas falsas religiões valorizadas por seus pastores; por outro lado, compromete as possibilidades de conversão dos infiéis, que se veem confortados em seus erros precisamente por aqueles que deveriam ajudá-los a livrar-se deles anunciando-lhes a Boa Nova da salvação, recebida dAquele que dissera ser “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo. 14, 6).

 

A ideologia homossexual

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Durante uma coletiva de imprensa dada em 29 de julho de 2013 no voo entre Rio de Janeiro e Roma, de regresso das JMJ, Francisco pronunciou a seguinte frase: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Frase extremamente ambígua e perturbadora, já que o termo “gay” não designa genericamente aos homossexuais, mas especialmente àqueles que reivindicam publicamente a “cultura” e o estilo de vida da impureza contranatural. Por que utilizou uma palavra que gera confusão, totalmente estranha ao vocabulário católico e tomada justamente do jargão do lobby gay, endossando deste modo, indiretamente, sua linguagem subversiva e manipuladora? Por que não se apressou a acrescentar, para evitar mal-entendidos, que embora não se deve julgar moralmente a pessoa que padece nesta tendência, a passagem ao ato, no entanto, constitui um comportamento gravemente desordenado no plano moral? Surpreendentemente, não o fez, e naturalmente, no dia seguinte, a esmagadora maioria da imprensa mundial intitulou o artigo dedicado à atípica coletiva de imprensa pontifical retomando textualmente a pergunta formulada por Francisco (“Quem sou eu para julgar?”). Poderá falar-se de imperícia vinda de alguém que domina com perfeição a arte da comunicação mediática? É difícil de acreditar... E ainda se assim fosse, o contexto exigia eliminar todo risco de ambiguidade, indicando imediatamente os detalhes do caso. Mas os detalhes jamais chegaram. Nem durante a coletiva de imprensa, nem depois. Nem de sua boca, nem da do serviço de imprensa do Vaticano. Enquanto isso, a imprensa mundial se regozijava impudicamente com a infeliz saída bergogliana...

Na extensa entrevista concedida por Francisco às revistas culturais jesuítas nos dias 19, 23 e 29 de agosto e publicada no L'Osservatore Romano em 21 de setembro, poderia ter sido suposto que Francisco não deixaria passar a oportunidade para esclarecer esta espinhosa questão, dando fim às polêmicas que suas desafortunadas declarações haviam suscitado e dissipando drasticamente a confusão e a inquietude generalizada que haviam provocado. Vejamos se aproveitou a ocasião para fazê-lo: “Em Buenos Aires, recebi cartas de pessoas homossexuais que estavam ‘socialmente feridas’ porque me diziam que a Igreja sempre os tinha rejeitado. Mas essa não é a intenção da Igreja. No avião de regresso do Rio de Janeiro, disse: ‘Se um gay busca Deus, quem sou eu para julgá-lo’. Ao dizer isso, disse o que indica o Catecismo [da Igreja Católica]. A religião tem o direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez livres: não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal. Uma vez uma pessoa, para me provocar, me perguntou se eu aprovava a homossexualidade. Eu então lhe respondi com outra pergunta: ‘Diga-me, Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou a rechaça e a condena?’. Sempre é preciso ter em conta a pessoa. E aqui entramos no mistério do ser humano. Nesta vida, Deus acompanha as pessoas e é nosso dever acompanhá-las a partir de sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira ao sacerdote a palavra oportuna”. Há muito que dizer sobre estas declarações. Muito, para utilizar um eufemismo, exceto que se destaquem por sua claridade. Por uma questão de concisão, só farei algumas observações:

1. Contrariamente ao que afirma, seus ditos brilham por sua ausência no Catecismo. Neste se encontra claramente exposta a doutrina da Igreja (§ 2357 a 2359), precisamente o que Francisco não fez na entrevista, durante a qual cultivou a ambiguidade, usou uma linguagem demagógica e acrescentou ainda mais confusão.

2. É inconcebível escutá-lo dizer que “a religião tem o direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas”. Perdão: A religião? Qual? Ou acaso trata-se das religiões em geral, isto é, das “grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia”? Linguagem surpreendente na boca de quem se encontra sentado no trono de São Pedro... Por que não dizer simplesmente “a Igreja”? E, sobretudo, corresponde proclamar de forma inequívoca que a Igreja não expressa de nenhuma maneira “sua opinião”; Ela instrui as nações, em conformidade com a ordem que recebera de seu Divino Mestre: “Ide e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt. 28, 19-20).

3. E logo a seguir acrescenta: “mas Deus na criação nos fez livres: não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal”. Ambiguidade sibilina, característica detestável vinda de quem recebeu a missão de “ensinar às nações”, mas que já é clássica nos lábios de Francisco... Porque se o homem pode, em virtude de seu livre arbítrio, negar-se a obedecer à Igreja, não é, no entanto, moralmente livre para fazê-lo: a Igreja recebeu de Jesus Cristo o poder de obrigar as consciências de seus fiéis (cf. Mt. 18, 15-19). Pretender que “não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal” equivale a divinizar a consciência individual e a fazer dela um absoluto: estamos diante do princípio fundamental da religião humanista e maçônica de 1789: “Ninguém deve ser inquietado por suas opiniões, inclusive religiosas” (Declaração dos direitos do homem e do cidadão, artigo X). Esta liberdade de consciência falaz e revolucionária foi condenada pelo magistério da Igreja: Gregório XVI afirmou que pretender “garantir a cada um a liberdade de consciência” não só é absurdo como também “um delírio” (Mirari Vos, 1832).

4. Finalmente, o fato de responder a uma pergunta (aprovava a homossexualidade?) com outra pergunta – o que é, aliás, de um hermetismo pouco comum – é indigno daquele a quem foi confiada a tarefa de ensinar à universalidade dos fiéis. Resposta na qual se encontra novamente esta ambiguidade exasperante que o caracteriza, aqui ao não distinguir entre a condenação do pecado e a do pecador, e dando a entender que o fato de “aprovar a existência” (sic!) do pecador tornaria inútil a reprovação que seu ato pecaminoso exige. No entanto, Nosso Senhor nos ensinou a falar de outro modo: “Que vossa linguagem seja sim, sim; não, não; todo o resto provém do Maligno” (Mt. 5, 37).

 

Francisco e a Maçonaria

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Francisco recebe o Grão-Mestre maçom da Ordem de Malta que o saúda.

No dia da eleição pontifical do cardeal Bergoglio, em 13 de março de 2013, o grão-mestre da franco-maçonaria argentina, Ángel Jorge Clavero, rendeu tributo ao novo pontífice saudando-o calorosamente.

No dia seguinte à sua eleição, o Grande Oriente da Itália emitiu um comunicado no qual o grão-mestre Gustavo Raffi dizia que “com o Papa Francisco, nunca mais nada será como antes. Esta eleição foi uma aposta indiscutível da fraternidade por uma Igreja de diálogo, não contaminada pela lógica nem pelas tentações do poder temporal (...). Nossa esperança é a de que o pontificado de Francisco marque o regresso da Igreja-Palavra no lugar da Igreja-Instituição, e que ele promova o diálogo com o mundo contemporâneo (...) seguindo os princípios do Vaticano II (...). Tem a grande oportunidade de mostrar ao mundo o rosto de uma Igreja que deve recuperar o anúncio de uma nova humanidade, não o peso de uma instituição que defende seus privilégios”.

A límpida homenagem tributada a Francisco pelo grão-mestre do Grande Oriente da Itália é um testemunho por demais inquietante em relação a seu pontificado. Como prova disso, e limitando-nos a tão somente um dos abundantes textos pontificais sobre a maçonaria, eis aqui o que dizia Leão XIII em sua encíclica Humanum Genus, de 20 de abril de 1884: “Nesta época, os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo e combatendo com veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada e difundida, a sociedade dos franco-maçons. Não mais fazendo qualquer segredo de seus propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Eles estão planejando a destruição da santa Igreja pública e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade, se isso fosse possível, das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador”.

 

Um ano de pontificado, um ano de confusão

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1. Na noite de sua eleição, Francisco apresentou-se como o “Bispo de Roma”, sem pronunciar a palavra “Papa”. Esse proceder, reiterado depois em várias ocasiões, foi confirmado pela nova edição do Anuário Pontifício, publicada em maio. Qualificando-se a si mesmo exclusivamente com o título de Bispo de Roma, e já não de Papa, Soberano Pontífice ou Vigário de Cristo, Francisco realiza um gesto inédito na história da Igreja, claramente revolucionário, que desfalca de maneira brutal a autoridade da Sé Romana.

2. Por ocasião das JMJ celebradas em julho de 2013 no Rio de Janeiro, Francisco declarou, durante uma entrevista concedida à televisão brasileira, que “se uma criança recebe sua educação dos católicos, dos protestantes, dos ortodoxos ou dos judeus, não importa. O que me importa é que a eduquem e saciem a sua fome”. Tais palavras não requerem comentário. Desde que, é claro, não se tenha perdido a Fé.

3. Em 16 de março de 2013, no fim da audiência outorgada aos jornalistas do mundo inteiro na sala Paulo VI do Vaticano, Francisco lhes deu uma bênção totalmente atípica, uma “bênção silenciosa, respeitando a consciência de cada um”. Não se dignou a fazer o sinal da Cruz sobre a multidão de jornalistas nem a pronunciar o santo nome das Três Pessoas Divinas. O que Jesus nos ensinou situa-se nas antípodas dessa falsa noção de respeito: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28, 18-20). Nosso Divino Mestre nos disse também: “Qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt. 10, 32-33). Falemos claramente: o “respeito da consciência” alegado por Francisco para dispensar-se de exercer sua suprema autoridade apostólica carece de todo fundamento bíblico, patrístico e magisterial. Trata-se de uma noção cuja origem se encontra nos “filósofos” do Iluminismo e que faz parte do ensinamento dado nas lojas maçônicas. Na encíclica Mirari Vos (1832), Gregório XVI afirma que da “fonte lodosa do indiferentismo promana aquela sentença absurda e errônea, digo melhor aquele disparate, que afirma e defende a liberdade de consciência, erro do mais contagioso (...) que certos homens, por um excesso de impudência, não hesitam em apresentar como vantajoso para a religião”.

4. Durante essa mesma audiência, Francisco disse que desejava “uma Igreja pobre para os pobres”. É um desejo inovador e completamente estranho ao ensinamento e à prática bimilenar da Igreja. “Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento. Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: – Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (Jo. 12, 3-5).

5. Em 11 de setembro, Francisco recebeu em audiência privada o religioso peruano Gustavo Gutiérrez, sacerdote modernista, esquerdista e subversivo, quem deu origem ao nome “teologia da libertação” graças a seu livro homônimo publicado em 1971. Este “teólogo”, cúmplice dos movimentos marxistas e terceiro-mundistas latino-americanos comprometidos com a luta armada revolucionária, considera que a salvação cristã passa pela emancipação das servidões terrenas: “A criação de uma sociedade justa e fraterna é a salvação dos seres humanos, se por salvação entendemos o passo do menos humano ao mais humano. Não se pode ser cristão hoje sem um compromisso de libertação”, isto é, sem recorrer a uma práxis histórica marxista ordenada à emancipação revolucionária das massas “oprimidas” socialmente, no seio de uma “igreja popular” que, graças a sua “consciência de classe”, toma partido na luta dos pobres contra a classe opressora e contra a hierarquia eclesiástica. É interessante notar que na semana anterior o L'Osservatore Romano lhe havia consagrado um longo artigo por ocasião da publicação de um livro que havia co-escrito com Monsenhor Gerhard Müller, atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado “Da parte dos pobres, teologia da libertação, teologia da Igreja”.

6. No dia de sua eleição, antes de transmitir a bênção apostólica aos fiéis congregados na Praça São Pedro, Francisco pediu à multidão que rezasse primeiro por ele para que Deus o abençoasse. O simbolismo do gesto é claro: a bênção já não procede do alto, através do papa que recebeu sua investidura de direito divino, e que ele faz descer depois diretamente sobre os fiéis: encontramo-nos diante de um gesto que evoca os princípios democráticos revolucionários, segundo os quais o poder emana do povo, única fonte de legitimidade para o exercício da autoridade.

7. Durante sua homilia na Casa Santa Marta, no Vaticano, em 22 de maio de 2013, Francisco disse que o Senhor salvou “todos os homens” pelo Sangue de Cristo, e que deste modo se convertem em “filhos de Deus não só os católicos, mas todos, inclusive os ateus”. Gregório XVI, na encíclica citada anteriormente, censurava “o indiferentismo, essa perversa teoria espalhada por toda parte, graças aos enganos dos ímpios, e que ensina poder-se conseguir a vida eterna em qualquer religião, contanto que se amolde à norma do reto e honesto”.

8. Francisco organizou uma jornada de oração e jejum pela paz na Síria, o que é em si mesmo algo louvável. Desgraçadamente, este evento foi convocado seguindo o espírito do falso ecumenismo conciliar da Nostra Aetate e de Assis, uma vez que estende o convite “a todos os cristãos de outras confissões, aos homens e mulheres de cada religião, assim como aos irmãos e irmãs não crentes”. Isto se opõe diametralmente tanto à doutrina como à prática constante da Igreja até o Vaticano II. Eis aqui o que dizia Pio XI a respeito: “(...) Convocam, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo (...). Estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império. Erram e estão enganados, portanto, os que possuem essa opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na (...). Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada” (Mortalium Animos, 1928). Francisco prossegue dizendo que “a cultura do diálogo é o único caminho para a paz”. Pois bem, isto supõe uma concepção errônea da paz, fundada numa visão naturalista da vida e no relativismo religioso: estamos diante de uma utopia humanista e de um desconhecimento caracterizado da natureza humana real, decaída e redimida pelo Sangue de Cristo, redenção que se comunica aos homens através de seu Corpo Místico, a Igreja, fora da qual a humanidade, individual e socialmente considerada, permanece cativa do pecado e submetida ao império de Satanás. Em tais condições, falar de “diálogo” como o “único caminho para a paz” é um embuste grotesco e repulsivo. Perdoem-me a extensa citação que me vejo forçado a reproduzir para provar o que digo: “No dia em que Estados e governos considerarem ser um dever sagrado o atinar-se aos ensinamentos e às prescrições de Jesus Cristo em suas relações interiores e exteriores, só assim chegarão a gozar de uma paz proveitosa; manterão relações de confiança recíproca e resolverão pacificamente os conflitos que possam surgir. (...) Segue-se então que não poderá existir nenhuma paz verdadeira, a saber, a tão desejada paz de Cristo, se os homens insistirem em não seguir na vida pública e privada, com fidelidade, os ensinamentos, os preceitos e os exemplos de Cristo. Uma vez assim constituída ordenadamente a sociedade, possa por fim a Igreja, desempenhando sua divina missão, fazer valer todos e cada um dos direitos de Deus tanto sobre os indivíduos como sobre as sociedades. Nisto consiste a breve formula: o reino de Cristo (...). Tudo isso deixa claro que não há paz de Cristo sem o reino de Cristo” (Ubi Arcano, Pio XI, 1922). E também: “Se os homens reconhecessem a autoridade real de Cristo em sua vida particular e pública, imensos benefícios – uma justa liberdade, a ordem e a tranquilidade – se propagariam infalivelmente sobre toda a sociedade” (Quas Primas, Pio XI, 1925).

9. Por ocasião da cerimônia do lava-pés da Quinta-feira Santa, celebrada em um centro de detenção de menores de Roma, entre as pessoas que representavam os doze apóstolos havia mulheres e muçulmanos, o que infringe gravemente a tradição litúrgica, que sempre recorreu a homens batizados, já que as mulheres não são admitidas no sacerdócio cristão nem os infiéis nas cerimônias litúrgicas. A menos que se pretenda utilizar o culto divino como uma oportunidade de promover o feminismo e buscar transformar a santa liturgia em um espaço consagrado ao relativismo e ao indiferentismo religioso; a menos que se procure converter a Santa Missa em uma vulgar representação de humanitarismo miserabilista e demagógico, através de uma indigna operação de comunicação destinada ao serviço mediático planetário, sempre ávido do menor gesto “humanista” e “progressista” de Francisco... A Missa da Santa Ceia do Senhor não foi, pois, celebrada na basílica de São Pedro, nem na basílica de São João de Latrão, na presença do clero e dos fiéis romanos e dos peregrinos procedentes do mundo inteiro para assistir às festividades da Semana Santa, mas nada menos que num cárcere, lugar completamente inconveniente para uma ação litúrgica, na presença de uma maioria de não católicos, em uma cerimônia confidencial, inacessível para os fiéis... E como por casualidade, esse gesto insólito de ruptura com a tradição litúrgica teve lugar no dia em que a Igreja celebrava solenemente a instituição da Santa Eucaristia e do Sacerdócio por Nosso Senhor Jesus Cristo... Visitar os prisioneiros é certamente uma ação mui louvável, uma vez que é uma obra de misericórdia. No entanto, servir-se dela como pretexto para rebaixar o culto divino celebrando a Missa in Coena Domini em uma prisão, sem clero nem assembleia, sem pregação sobre a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio cristão por Nosso Senhor, convidando a participar os infiéis na cerimônia, está muito longe de ser uma ação louvável: trata-se simplesmente de um sacrilégio. Fiéis, quase não havia. Fotos e imagens para a televisão, sim. E deram a volta ao mundo. Ao que tudo indica, a operação foi um sucesso.

10. Em 28 de agosto, Francisco recebeu na basílica de São Pedro um grupo de 500 jovens peregrinos da diocese de Piacenza-Bobbio. Ao final, pediu-lhes: “rezem por mim, porque este trabalho é insalubre, não faz bem”. A missão de pastor universal das almas, de vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo na terra para “apascentar as suas ovelhas” (Jo. 21, 17) e para “confirmar seus irmãos na fé” (Lc. 22, 32) não constitui para ele mais que um trabalho, e ainda por cima, insalubre... Jamais se escutou um papa expressar-se nesses termos, nos quais a vulgaridade e o ridículo concorrem a uma dessacralização notória do ministério petrino.

11. Assim como a primeira missiva oficial de Francisco não teve por destinatários os católicos, mas os judeus de Roma, assim também sua primeira viagem oficial teve por beneficiários os adeptos de outra religião, optando por um deslocamento altamente simbólico e extremamente mediático, com sinais de manifesto ideológico. Com efeito, em 8 de julho foi a Lampedusa, em memória dos imigrantes clandestinos muçulmanos que se afogaram tentando alcançar essa ilha italiana vindos da África, no decorrer dos últimos quinze anos. E isso no mesmo instante em que a Europa, inteiramente descristianizada, observa como o islã se torna de maneira irresistível a religião preponderante, especialmente graças à imigração massiva de muçulmanos procedentes da África.

12. Na reportagem concedida às revistas culturais jesuítas no mês de agosto, organizada pelo padre Antonio Spadaro S.J., diretor da La Civiltà Cattolica, publicada no L'Osservatore Romano em 21 de setembro, Francisco expressou um ponto de vista totalmente inovador no que concerne a natureza da virtude teologal da Fé, asseverando que a dúvida e a incerteza deveriam fazer parte dela, sob pena de cair na “arrogância”, de encontrar um Deus que seria “à nossa medida”, de ter sobre Ele uma visão “estática e não evolutiva”, de ter de um modo exagerado a “segurança doutrinal”... Pode-se considerar honestamente que se trata, como de costume, da nossa parte, de uma enésima citação mal-intencionada, de caráter tendencioso e tomada fora de seu contexto? Eis aqui as declarações incriminadas: “Neste procurar e encontrar Deus em todas as coisas fica sempre uma zona de incertezas. Tem de ser assim. Se uma pessoa diz que encontrou Deus com certeza total e não aflora uma margem de incerteza, então não está bem (...). O risco no procurar e encontrar Deus em todas as coisas é, pois, a vontade de explicar demasiado, de dizer com certeza humana e arrogância: ‘Deus está aqui’. Encontraremos somente um Deus à nossa medida (...). Quem hoje procura sempre soluções disciplinares, quem tende de modo exagerado à ‘segurança’ doutrinal, quem procura obstinadamente recuperar o passado perdido, tem uma visão estática e não evolutiva. E deste modo a fé torna-se uma ideologia entre tantas”. Francisco reiterou a mesma ideia em sua Mensagem para a Jornada das comunicações sociais, apresentada em 24 de janeiro, na qual sustenta que “dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para dizer, dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que sejam únicas e absolutas”. Observar-se-á a contradictio in terminis flagrante da última frase, e forçoso é comprovar que com tais princípios se firma, nem mais nem menos, a sentença de morte da Fé, para naufragar nos abismos do subjetivismo e do relativismo modernistas mais explícitos.

13. Em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (§ 247 a 249), publicada em 24 de novembro, Francisco afirma que a Antiga Aliança “nunca foi revogada”, que não se deve considerar o judaísmo talmúdico atual, estruturado na oposição a Cristo e à missão evangelizadora da Igreja, como “uma religião alheia”, nem dizer que os judeus são chamados a “deixar os ídolos para se converter ao verdadeiro Deus”, uma vez que juntos cremos “no único Deus que atua na história” e “acolhemos com eles a Palavra revelada comum”. Mas para a infelicidade de Francisco, o cristão verdadeiro sabe bem que seus ensinamentos são falsos e que eles não podem provir senão do pai da mentira, já que aprendeu que “todo aquele que nega o Filho, também não reconhece o Pai; aquele que confessa o Filho, reconhece também o Pai” (1 Jo. 2, 23) e também que “todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito que divide Jesus, não é de Deus” (1 Jo. 4, 2-3). Francisco prossegue em suas afirmações insensatas, em ruptura total com o magistério e a tradição unânime da Igreja durante vinte séculos, dizendo que “Deus continua a operar no povo da Primeira Aliança e faz nascer tesouros de sabedoria que brotam do seu encontro com a Palavra divina. Por isso, a Igreja também se enriquece quando recolhe os valores do Judaísmo (...). Há uma rica complementaridade que nos permite ler juntos os textos da Bíblia hebraica e ajudar-nos mutuamente a desentranhar as riquezas da Palavra”. Perdão, mas a Palavra de Deus é idêntica ao Verbo de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que “se fez carne e habitou entre nós” (Jo. 1, 14) e da qual se diz igualmente que “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo. 1, 11): os “seus” são os judeus, que em sua grande maioria rejeitaram Jesus Cristo, o Verbo encarnado, a Palavra de Deus feita carne. Atrever-se a sustentar, contra o ensinamento explícito da Sagrada Escritura, que “acolhemos com eles a Palavra revelada comum” e que “tesouros de sabedoria brotam do seu encontro com a Palavra divina” supõe ou uma ignorância supina, ou uma má-fé diabólica. Em qualquer caso, estamos diante de um sério problema, se se me permite o eufemismo... E confesso que não posso deixar de interrogar-me: chegará acaso o dia em que se proibirá os fiéis de rezarem pela conversão dos judeus, por ser considerado um ato de “intolerância religiosa”, “discriminação” e “antissemitismo”? Veremos o dia em que nos será imposta coativamente a nova teologia conciliar a fim de deixar-nos assim “enriquecer com os valores do judaísmo” atual, falso, talmúdico e anticristão? Seremos por fim obrigados a adotar a exegese judaica para “ler juntos os textos bíblicos” e “aprofundar as riquezas” contidas nas Escrituras? Até onde nos conduzirá a loucura desatada pela Nostra Aetate? Não é preciso ser profeta para prever que se a lógica interna desse documento revolucionário for implantada até as suas últimas consequências (e, humanamente falando, é difícil enxergar um resultado diferente), chegar-se-á inelutavelmente à apostasia generalizada dos fiéis, devidamente aclimatados há décadas por lobos despiedados disfarçados de ovelhas a essa mutação radical da Fé que é a imposição do ecumenismo “judaico-cristão”; encontrar-se-iam preparados para acolher o “messias” esperado pela Sinagoga, que não é outro que o Anticristo, como nos adverte claramente Nosso Senhor profetizando diante dos judeus incrédulos de sua época: “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo. 5, 43). Nessas proféticas palavras de Nosso Senhor se encontra a chave interpretativa dos tempos históricos nos quais nos é dado viver, ao lado de 2 Tessalonicenses 2 e Apocalipse 13.

14. Em uma entrevista com o jornalista ateu Eugenio Scalfari em 24 de setembro no Vaticano, publicada pelo jornal esquerdista La Repubblica em 1 de outubro, Francisco fez algumas declarações espantosas. Cabe destacar que esta entrevista foi publicada na página web oficial da Santa Sé, o que lhe conferiu um feixe magisterial. Foi retirada depois de um mês e meio, por causa das incessantes polêmicas e dos numerosos protestos que havia suscitado em ambientes católicos conservadores. Mas a entrevista permanece considerada “confiável em linhas gerais”, conforme garante o padre Federico Lombardi, diretor da sala de imprensa da Santa Sé. Além disso, o texto foi integralmente publicado pelo jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, inclusive em sua versão semanal italiana, de 8 de outubro. Sem essas polêmicas e protestos, a entrevista ainda estaria na página web oficial do Vaticano, entre os documentos oficiais do novo pontificado... Assim, tendo definido o contexto, lemos algumas passagens: “O mais grave dos males que afligem o mundo nestes anos é o desemprego dos jovens e a solidão em que são deixados os idosos”. Diante de semelhante sentença, é impossível não interrogar-se: mais graves inclusive que a legalização da pornografia e do aborto, do divórcio e da contracepção, do “matrimônio” homossexual e da adoção “homoparental”? Mais graves ainda que a apostasia das nações outrora católicas, que a escola sem Deus, que a “cultura” de massa hedonista e que a ignorância religiosa quase absoluta da juventude? Logo em seguida, o jornalista, ao supor que Francisco poderia tentar convertê-lo, recebe uma resposta tranquilizadora em termos inverossímeis: “O proselitismo é uma solene besteira, não tem sentido. É preciso que nos conheçamos, nos escutemos e cresçamos no conhecimento do mundo que nos circunda (...). Parece-me que já disse que o nosso objetivo não é o proselitismo, mas a escuta das necessidades, dos desejos, das desilusões, do desespero, da esperança. Devemos voltar a dar esperança aos jovens, ajudar os idosos, abrir para o futuro, difundir o amor”. Afirmações deste tenor poderiam ser rubricadas sem hesitação por um maçom, um “livre-pensador” ou um filósofo “humanista”... Não é à toa que Scalfari pôde dizer acerca das declarações de Francisco que “uma abertura para a cultura moderna e laica dessa amplitude, uma visão tão profunda entre a consciência e a sua autonomia, nunca tinha sido sentida da cátedra de São Pedro”. Eis aqui outra sentença bergogliana: “Cada um de nós tem uma visão do Bem e também do Mal. Devemos incitar a proceder para aquilo que cada um pensa que seja o Bem (...). E o repito: cada um de nós tem uma ideia do Bem e do Mal e deve fazer a escolha de seguir o Bem e combater o Mal como o concebe”. Isto não é mais que um puro naturalismo, um relativismo moral e um indiferentismo religioso. E pensar que nós acreditávamos, sem dúvida ingenuamente, que a principal tarefa dos clérigos consistia em anunciar aos homens a salvação em Jesus Cristo! Mas retomemos a seriedade: é evidente a todo fiel medianamente instruído que a doutrina católica se situa nas antípodas dessas palavras inauditas e escandalosas, expelidas da boca de quem ocupa a sede de São Pedro... Aqui temos duas das proposições solenemente reprovadas por Pio IX em seu Syllabus de 1864: “As leis morais não carecem da sanção divina, e não é necessário que as leis humanas sejam conformes ao direito natural ou recebam de Deus o poder obrigatório” (nº 56); “A ciência das coisas filosóficas e morais e as leis civis podem e devem ser livres da autoridade divina e eclesiástica” (nº 57). Passemos agora a outro disparate de Francisco: “Eu creio em Deus. Não em um Deus católico, porque não existe um Deus católico, existe Deus (...). De minha parte, vejo que Deus é luz que ilumina as trevas, inclusive se não as dissipa, e que uma chispa desta luz divina se encontra dentro de cada um de nós (...). [Mas] a transcendência permanece, porque esta luz, toda a luz que se encontra em todos, transcende o universo e as espécies que o habitam durante esta fase”. Francisco faz sua a posição teológica de seu amigo e mentor, o cardeal jesuíta Carlo Maria Martini, que em duas oportunidades o cita elogiosamente em sua conversa com Scalfari, consignada em seu último livro, editado em 2008 e intitulado “Diálogos noturnos em Jerusalém: sobre o risco da fé”, no qual este eclesiástico progressista e franco-maçom, reconhecido como tal pelo Grande Oriente da Itália, afirmava que “não se pode converter Deus em católico. Deus está além dos limites e das definições que estabelecemos”. As palavras apavorantes de Francisco eximem de maior comentário: elas correspondem mais a uma gnose naturalista e panteísta à la Teilhard de Chardin (outro jesuíta! Santo Inácio de Loyola deve estar se revirando em sua tumba...) que ao que nos ensina a revelação divina e o magistério da Igreja sobre a natureza de Deus, a criação e a ordem sobrenatural.

15. Durante uma homilia pronunciada na sexta-feira, 20 de dezembro, na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, Francisco deu a entender que a Santíssima Virgem Maria experimentou sentimentos de rebeldia ao pé da Cruz, que foi tomada de improviso pela Paixão de seu divino Filho, que acreditou que as promessas formuladas pelo anjo Gabriel no dia da Anunciação eram mentiras e que, portanto, havia sido enganada. Cito suas palavras: “Ela estava silenciosa, mas, dentro do coração, quantas coisas ela devia falar com Deus! ‘Tu me disseste que ele ia ser grande; tu me disseste que darias a ele o Trono de Davi, seu pai, que ele reinaria para sempre, e agora ele está aqui [na cruz]!’. Maria era humana! E talvez ela sentisse o desejo de dizer: ‘Era mentira! Eu fui enganada!’”. Essas palavras são simplesmente escandalosas. A tradição nunca atribuiu a Maria sentimentos de revolta diante do sofrimento. Sua disposição permanente em toda circunstância foi assumida no dia da Anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc. 1, 38). A Igreja venera Maria como Rainha dos Mártires, o que não seria possível se não houvesse consentido em realizar o infinito sacrifício que Deus lhe pedia: entregar a vida de seu divino Filho à salvação da humanidade decaída, coisa da qual ela era plenamente consciente desde a profecia que lhe fizera Simeão no dia da Apresentação do Menino Jesus no Templo: “E uma espada transpassará a tua alma a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc. 2, 35). Como explica Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, em sua obra As Glórias de Maria: “Com o aumento do amor, mais aumentava também a dor, à só lembrança de perder esse Filho por uma tão cruel morte. E quanto mais se avizinhava o tempo da Paixão, mais cruelmente a espada, predita por Simeão, atravessava o coração materno de Maria” (Segunda parte, Primeira Dor). E também: “(...) Maria, que por amor de nós consentiu em vê-lo imolado à justiça divina pela barbárie dos homens. Os espantosos tormentos que Maria padeceu, tormentos que lhe significaram mais de mil mortes (...). Contemplemos por alguns instantes a amargura desta pena, que fez da divina Mãe a Rainha dos mártires, dado que seu martírio supera o de todos os mártires (...). Como a Paixão de Jesus começou em seu nascimento, segundo São Bernardo, assim Maria, semelhante em tudo a seu divino Filho, sofreu o martírio durante toda sua vida” (Segunda parte, Discurso XI). Nenhum sinal de rebeldia nem de ignorância em Maria, mas uma completa submissão à vontade divina e uma total consciência em seu ato livre e voluntário de consentimento na imolação de seu divino Filho pela salvação dos homens. Assim como Eva foi intimamente associada à falta de Adão, assim também Maria, a nova Eva, foi associada estritamente ao sacrifício redentor de Jesus, o novo Adão, sobre o altar da Cruz. Essa é a doutrina tradicional da Santa Igreja de Deus, em conformidade com a revelação divina, nas antípodas das palavras ímpias e blasfematórias proferidas por quem ocupa a cátedra de São Pedro.

16. Francisco recebeu José Mujica, presidente do Uruguai, no dia 1 de junho para uma longa audiência privada. Logo depois, declarou à imprensa sentir-se “muito contente por ter se reunido com um homem sábio”. Este homem “sábio” foi membro dos Tupamaros, uma das principais organizações terroristas latino-americanas durante as décadas de 60 e 70, cuja atividade criminal começou muito antes do golpe de estado militar de 1973. Passou 15 anos na prisão, condenado por assassinato, sequestro e atos de terrorismo. Foi libertado em 1985, “anistiado” pelo governo de Julio Sanguinetti. Mijuca se negou a assistir à cerimônia de inauguração do novo pontificado, em virtude de seu ateísmo militante. Cabe destacar que seu governo aprovou a lei autorizando o aborto em outubro de 2010, a do “matrimônio” homossexual e da adoção “homoparental” em abril de 2013 e a da legalização do cultivo, da venda e do consumo de marijuana em dezembro de 2013. Que um homem da Igreja possa receber em audiência pública um indivíduo como este, deixar-se fotografar ao seu lado sorridente e dando-lhe um abraço, para depois fazer a ele um elogio incendido à imprensa é algo que supera o imaginável. Sobretudo considerando que esse “homem da Igreja” é nada mais nada menos que quem aos olhos do mundo passa como o sucessor de São Pedro...

17. Como consequência de todos esses gestos politicamente mui corretos e mediaticamente irresistíveis, Francisco foi eleito “Homem do ano” pela edição italiana da revista Vanity Fair. O mesmo fez a revista norte-americana Time três dias depois, dedicando-lhe a capa com o título “O Papa do povo”. A Vanity Fair interrogou várias celebridades sobre o novo papa, todas fascinadas por sua humildade e seu carisma. Assim, por exemplo, o famoso cantor sodomita “Sir” Elton John declara que “Francisco é um milagre da humildade na era da vaidade. Espero que sua mensagem chegue até os mais marginalizados da sociedade. Penso, por exemplo, nos homossexuais. Este Papa parece querer trazer a Igreja de volta aos antigos valores de Cristo e, ao mesmo tempo, trazê-la para o século XXI”. Outra “celebridade” de fama mundial, o estilista pederasta alemão Karl Lagerfeld, disse por sua vez que gostou do novo papa: “Tem um sei lá o que de divino, com um grande senso de humor”, mas acrescenta em seguida que não necessita “da Igreja” e que não crê “nem no pecado nem no inferno”. Tempos depois, em dezembro, a revista Time o elegeu também “Homem do ano de 2013”, tornando-o sucessor do militante pró-aborto e pró “matrimônio” gay Barack Obama. No mesmo mês de dezembro, a famosa revista da comunidade homossexual norte-americana, The Advocate, lhe outorgou igualmente o prêmio de “Pessoa do ano de 2013”, explicando a seus leitores que as declarações de Francisco são “as mais alentadoras que um pontífice já pronunciou em relação aos gays e às lésbicas” e que, graças a ele, “os católicos LGBT têm agora fundadas esperanças de que o tempo propício à mudança chegou”. A Francisco foi dedicada a capa da famosíssima revista pop norte-americana Rolling Stone do mês de fevereiro, sob o título “Pope Francis: The times they are a-changin” (Papa Francisco: Os tempos estão mudando), que retoma o nome da lendária canção contestatária de Bob Dylan dos anos 60 para aplicá-lo à sua ação durante seu primeiro ano de pontificado. Time, Vanity Fair, The Advocate, Rolling Stone: estamos falando de quatro das publicações emblemáticas da cultura subversiva, libertária e decadente que prevalece no mundo ocidental desde o final da Segunda Guerra Mundial. As quatro fazem de Francisco o “herói” do “progresso”, o ícone da “mudança”; veem nele a encarnação da abertura mental à “modernidade”, e as quatro se desfazem em louvores ditirâmbicos à sua pessoa. De nada serve negar a realidade, por mais difícil que seja encará-la: isto é algo que não tem precedentes na história da Igreja e não pode senão perturbar profundamente a alma dos fiéis. Nestes tempos diabólicos em que a confusão reina soberanamente na imensa maioria das almas, não se deve perder de vista que, no que toca às nossas relações com o mundo, que se encontra “inteiramente sob o império do Maligno” (1 Jo. 5, 19), Nosso Divino Mestre nos advertiu explicitamente: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” (Jo. 15, 18-19).

Estou desacorçoado por ver-me, em consciência, obrigado a escrever tudo isto. Entristecido em sumo grau. Aturdido, para dizer a verdade. Como desejaria que as coisas fossem diferentes! Poder confiar e deixar-me guiar. Horroriza-me a oposição à autoridade, a disputa, o conflito: é uma atitude alheia à minha natureza. Todos os dias imploro ao Senhor para que abrevie esta situação tão penosa, humanamente insuportável. À espera de que Ele se digne intervir, considero impossível guardar silêncio, embora eu gostaria de fazê-lo, mais do que poderia imaginar-se. Mas simplesmente não posso: sentir-me-ia envergonhado de mim mesmo. A hora é grave. A confusão reina. O mal é profundo. Calar é tornar-se cúmplice. O que está em jogo é vital: trata-se, nada mais nada menos, de conservar a Fé e de seguir professando-a publicamente, dentro e fora da Igreja. Ser testemunhos da Verdade diante de nossos contemporâneos, presa do erro e da mentira tornados sistema. Institucionalizados. É preciso dar testemunho “a tempo e fora de tempo”, nos exorta São Paulo (2 Tim. 4, 2). Como sabem, “testemunha” em grego quer dizer “mártir”. Essa é a nossa situação. No sentido literal, quiçá ainda não em nossos países, mas no figurado muito frequentemente, e em todas as partes. Saúdo-os fraternalmente no Senhor. Queira Ele alumbrar nosso caminho terrestre com sua luz divina e guiar nossos passos à glória de seu Reino próximo. Maranatha: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap. 22, 20).

Artigo em 2 de fevereiro de 2014, na solenidade da Apresentação do Menino Jesus no Templo e da Purificação da Santíssima Virgem Maria.

Por Sosa Laprida  - Tradução: Carlos Wolkartt – Catolicidade.com

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