Santo Afonso de Ligório: Deus espera o pecador, a fim de que se corrija. Quando vê, porém, que o tempo que lhe é dado para chorar os pecados, só serve para os multiplicar, esse mesmo tempo será chamado a depor contra ele


09.02.2017 -

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Curavimus Babylonem, et non est sanata; derelinquamus eam — “Medicamos a Babilônia, e ela não sarou; deixemo-la” (Jer. 51, 9).

Não há maior castigo do que Deus fingir que não vê a iniquidade. Permite que os pecadores prosperem e amontoem pecados sobre pecados. É sinal de que Deus os reserva para os entregar à sua justiça na vida eterna, onde terão tantos infernos a padecer, quantos foram os pecados cometidos. Desgraçados dos pecadores que prosperam nesta vida. Tal misericórdia é mais terrível do qualquer castigo.

Deus espera o pecador, a fim de que se corrija. Quando vê, porém, que o tempo que lhe é dado para chorar os pecados, só serve para os multiplicar, esse mesmo tempo será chamado a depor contra ele (1): isso é, o tempo concedido e as misericórdias recebidas servirão para fazer castigar o pecador com mais rigor e para o entregar mais cedo ao abandono. Curavimus Babyloniam, et non est sanata; derelinquamus eam — “Medicamos a Babilônia, e ela não sarou; deixemo-la”. — E como é que Deus o abandona? Ou lhe envia a morte e o faz morrer no pecado, ou o priva das graças abundantes e só lhe deixa a graça suficiente, com que o pecador se poderia salvar, mas não se salvará. O espírito obcecado, o coração endurecido, o mau hábito contraído, tornar-lhe-ão a salvação moralmente impossível, e assim ficará, senão absolutamente, ao menos moralmente abandonado.

Auferam sepem eius, et erit in direptionem (2) — “Arrancar-lhe-ei a sebe e ficará exposta a ser roubada”. Que castigo! Quando o dono de uma vinha arranca a sebe e deixa entrar nela a todos os homens e animais, que significa isto? Significa que a abandona. Pois, é o que faz Deus quando abandona uma alma: tira-lhe a sebe do temor de Deus, dos remorsos da consciência e deixa-a nas trevas. Então entram na alma todos os monstros dos vícios. E o pecador, entregue a esta escuridão, desprezará tudo, graça de Deus, paraíso, exortações, censuras, e até escarnecerá da sua própria condenação. Impius, cum in profundum venerit peccatorum, contemnet (3) — “O ímpio, depois de haver chegado ao profundo dos pecados, desprezará tudo”.

Numa palavra, Deus deixá-lo-á nesta vida sem castigo; mas esta condescendência será para ele o maior dos castigos: Misereamur impio, et non discet iustitiam (4) — “Compadeçamo-nos do ímpio, e ele não aprenderá a justiça”. — Ah! Senhor, assim Vos direi com São Bernardo, não quero semelhante misericórdia, porque é mais terrível do que qualquer castigo.

Desgraçados dos pecadores que prosperam nesta vida! É sinal de que Deus os reserva para os entregar como vítimas à sua justiça na vida eterna. Pergunta o profeta Jeremias: Quare via impiorum prosperatur? (5) — “Porque é prosperado o caminho dos ímpios?” E responde: Congregas eos quasi gregem ad victimam — “Ajunta-os como rebanho para o matadouro”. Não há maior castigo do que deixar Deus ao pecador amontoar pecados sobre pecados. Fora melhor para o desgraçado que o Senhor o tivesse feito morrer em seguida ao primeiro pecado; porque, morrendo mais tarde, terá tantos infernos a padecer, quantos foram os pecados cometidos.

Meu Deus, no miserável estado em que me acho, reconheço que mereci ser privado da vossa graça e da vossa luz; mas vendo as luzes que agora me concedeis e ouvindo que me chamais à penitência, estou certo que não me abandonastes ainda. Já que não me haveis abandonado, Senhor, multiplicai as vossas misericórdias sobre a minha alma, aumentai a luz e aumentai em mim o desejo de Vos servir e amar. Transformai-me, ó Deus onipotente, e de traidor e rebelde, como tenho sido, fazei de mim um verdadeiro amante da vossa bondade, a fim de que chegue um dia ao céu a louvar eternamente as vossas misericórdias. Vós quereis perdoar-me e eu nada mais desejo senão o perdão e o vosso amor.

Arrependo-me, ó Bondade infinita, de Vos ter causado tantos desgostos. Amo-Vos, soberano Bem, porque mo ordenais; amo-Vos, porque sois digno de todo o amor. Suplico-Vos, meu Redentor, pelos méritos do vosso Sangue, que Vos façais amar por um pecador, que tanto tendes amado e que tantos anos sofrestes com paciência. Tudo espero da vossa misericórdia. Espero amar-vos sempre no futuro, até à morte e por toda a eternidade: Misericordias Domini in aeternum cantabo (6). Eternamente louvarei a vossa bondade, ó Jesus meu. Eternamente louvarei também a vossa misericórdia, ó Maria, que tantas graças me haveis alcançado; reconheço que as devo todas à vossa intercessão. Continuai a assistir-me, ó Senhora minha, e obtende-me a santa perseverança. (II 78.)

Thren. 1, 15.
2. Is. 5, 5.
3. Prov. 18, 3.
4. Is. 26, 10.
5. Ier. 12, 1.
6. Ps. 88, 2.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso

Fonte: http://catolicosribeiraopreto.com

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Santo Afonso de Ligório resume sabiamente, que o pecador não quer obedecer a Deus:

"O Senhor lhe diz: não te vingues, e o homem responde: quero vingar-me; ― não te aposses dos bens alheios: quero apossar-me deles; ― abstém-te desse prazer desonesto: não quero abster-me. O pecador fala a Deus do mesmo modo que Faraó, quando Moisés lhe levou da parte de Deus a ordem de restituir o seu povo à liberdade. Aquele temerário respondeu: Quem é esse Senhor, para que eu ouça a sua voz? Não conheço o Senhor (Ex. 5, 2). O pecador diz a mesma coisa: Senhor, não Vos conheço, quero fazer o que me agrada. Numa palavra, ultraja-o face a face, e volta-lhe as costas".

Então...

"Não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados, pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores". (Eclesiástico 5, 6-7)

Porque...

"A reunião dos pecadores é como um amontoado de estopas: seu fim será a fogueira. O caminho dos pecadores é calçado de pedras unidas, mas ele conduz à região dos mortos, às trevas e aos suplícios". (Eclesiástico 21, 10-11)

 

Veja também...

Santo Afonso de Ligório: Não digas; a misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados, pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores (Eclesiástico 5, 6-7)

 Santo Afonso de Ligório: Quantos cristãos porque não quiseram romper com o pecado e abusaram da divina misericórdia, estão agora queimando no inferno para sempre

 


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