A lição do bebê Charlie: Eles ficaram perversos, ficaram maus, cruéis, loucos insensíveis, incapazes de comoção verdadeira; eles dizem que são compassivos com você, mas, no fim, eles desprezam você. Eles poderiam, se quisessem, voltar a nos proteger


03.07.2017 - Nota de www.rainhamaria.com.br

No dia 27/06/2017 um bebê de 10 meses, Charlie Gard, foi condenado à morte. O fato em si já deveria ser chocante, mas há outras nuances do processo que o tornam ainda mais amedrontador. Charlie Gard é um bebê que sofre de uma rara doença genética, que causa danos ao seu cérebro e vem sendo tratado no Hospital Great Ormond Street em Londres. Segundo o Hospital, o bebê não tem mais condições de recuperação e, por isso, seus aparelhos devem ser desligados, ou seja, o Hospital decidiu mata-lo por eutanásia. Os pais do bebê, Charlie, Connie e Chirs, conseguiram arrecadar 1,4 milhão de libras, para que ele possa ser transferido para os Estados Unidos, para continuar o tratamento. o Hospital não quer permitir a liberação da criança, insistindo em matá-la! Os pais recorreram à lei e, após passar por todas as instâncias possíveis, chegaram na Corte Europeia de Direitos Humanos, que negou o pedido dos pais. (Padre Silvio Roberto)

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Por Paola Belletti

Útil é aquilo que serve para ser usado. Nós não nascemos para ser usados. Nós nascemos para amar e ser amados.

“Helicóptero ataca tribunal na Venezuela”.

“Inventada vacina contra ataques hackers”.

Entre os mais lidos: “Canguru com uma garrafa de uísque”.

Selecionados pelo editor: “Como tratar um cão com transtorno obsessivo-compulsivo?”.

“A guerra dos gorilas”. E futebol, fofocas sobre gente famosa…

Não, Charlie, amado, você não está na página inicial de quase nenhum grande site mundial de notícias.

Preencho o campo de busca: Charlie Gard. Artigos repetidos sobre a sentença. “Família perde a causa”. É a sentença final. Segundo a corte, você não tem esperança. Tentar novos tratamentos para você só serviria para aumentar o seu sofrimento.

Doença raríssima, fim inevitável. São eles que nos dizem isso, você entende? Como se nós não soubéssemos o pouco que a medicina conseguiu nos dizer até agora sobre a doença do nosso próprio filho! E é isso, meu amorzinho, o que nos assusta e o que faz explodir dentro do nosso coração uma raiva que nunca sentimos antes! Você é o nosso filho! Você foi confiado a nós! Pela vida, por Deus, pelo destino, não importa: você é nosso, mas não do mesmo jeito que um cachorrinho é nosso, ou um ursinho de pelúcia, caramba! Nós temos que explicar tudo do zero para essa gente…

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Tudo bem, eu vou tentar ficar calma. Venha cá com a mamãe. Sim, eu sei que é a mamãe quem tem que vir até você. O aparelho para você respirar faz um barulhinho o tempo todo, mas não me incomoda mais. Aliás, até me ajuda a conciliar o sono. Eu estou com sono, meu Charlie. Estou cansada, sabe? Não de você, meu amor, não! É que sentir essa dor tão grande e ingovernável há tanto tempo está me derrubando… O papai resiste. Mas, talvez, quando ele está sozinho com você, ele se permite os soluços que, do meu lado, ele acha que tem que omitir. Ele também poderia chorar, meu amor, e não perderia nem sequer um grama de virilidade e coragem. Ele chorou quando você nasceu. E eu o achei um homem de verdade!

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Eles decidiram que você sofreria demais se continuasse vivendo assim. Mas eles pensam que você não tem que sofrer e para isso é melhor matar você, eliminar, transformar você em nada? Não faz sentido, nem no mundo implacável da lógica…

E eles nos dizem que, no fundo, eles são melhores do que nós, mais bondosos, porque eles sim pensam em você, no seu verdadeiro bem. Enquanto nós somos só egoístas.

Mas é claro que nós somos egoístas! Nós queremos você para nós! Nós somos profundamente felizes com a sua presença! Não importa se o céu azul desta sua vida silenciosa, pequenina, é todo pontuado de uns escuros de angústia e uns brancos de lágrimas e uns vermelhos de sangue. O que é que eles sabem sobre isso? Será que a vida não deu a cada um deles também alguma tia idosa e doente? Algum primo que morreu criança, alguma vizinha generosa que lhes dava doces e biscoitos e que um dia sofreu um derrame? Será que eles nunca foram visitá-la apesar do derrame? Será que eles nunca intuíram o que é que ainda restava lá dentro dela apesar do derrame?

Os filantropos, os bons, os garantidores da bondade distribuída de modo igualitário, os arautos da qualidade de vida, eles não se lembram mais da verdadeira, da única e decisiva qualidade da vida?

A qualidade da inutilidade! A vida não é para ser útil.

A vida tem que cantar! A vida só existe nos rostos, no narizinhos, nas mãos, nos braços, nos pulsos das meninas que se enchem de pulseiras, nos pés tortos e ossudos dos idosos que foram perdendo a consciência, nos olhos velados pela catarata! A vida existe e é essas faíscas entre mim e o seu papai, que nos atraímos com uma força irresistível, mesmo agora, que somos mamãe e papai e estamos sempre pensando em você!

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A vida não tem nenhuma qualidade que não seja a de estarmos aqui, para nos espantar, para tremermos ao pensar no próprio fato de estarmos neste mundo! Tão bonito, tão cheio de sensações, tão cheio de perfumes, águas, flores e frutos e folhinhas de grama! E tão brutalizado pela violência, pela desordem, pelas explosões, pelas punhaladas, pelas bombas… Tão desperdiçado em passatempos estúpidos… O tempo aqui nesta vida não é para ir passando e pronto; é para nos levar a outro lugar. Eu sinto isso!

Charlie, meu pequenininho, eu tenho pijamas novos para colocar em você! Achei um amarelo! Eu nunca gostei do amarelo, mas deste aqui sim… Ele é um pouquinho grosso, mas aqui, no hospital, tem esse ar friozinho. Vou colocar esse pijaminha em você porque você vai ficar parecendo um pintinho, todo cheio de peninhas macias! E vou tirar fotos! Está bem, meu amorzinho, não vou postar nas redes sociais, essas não.

Charlie, meu amor, você sabe o quanto eu amo você! Você sabe que eu sou cega, que eu consigo levantar as pálpebras e os meus olhos enxergam, mas eu sou cega porque não consigo ver que você está morrendo. Eu sei, o tratamento nos Estados Unidos é uma tentativa desesperada, mas ainda é a nossa esperança! Alguma coisa pode ser feita e nós queremos tentar! Nós sentimos que temos que tentar!

Eu sou cega, mas ainda vejo, por trás da aparência grave e dura daqueles juízes, que eles são iguais a mim. E iguais a você, se não fosse pela sua inocência, por essa inocência que sustenta você no ar, suspenso na pureza do céu por cima do barro que respinga nos nossos calçados, enquanto nós andamos, tristes, por esse mundo vasto…

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Eles ficaram perversos, ficaram maus, cruéis, loucos insensíveis, incapazes de comoção verdadeira; eles dizem que são compassivos com você, mas, no fim, eles desprezam você. Mas eles não caíram de outro planeta. Ah, meu pequenino, Charlie, você mesmo poderia se tornar mau se o bom Deus lhe desse o tempo e a saúde e privasse você da Sua graça! Mas eu não ia deixar! Você sabe! Eu rezo o tempo todo, insisto, importuno a Deus sem descanso por você! Ah, meu pequenino, eles são, sim, iguais a nós…

E isso quer dizer que eles também podem ver, eles também têm que ver, eles também têm que descobrir que são pobres e enfermos e donos de muito pouco, ou de nada! Se eles quiserem, eles podem parar de se achar Deus, ou o que resta neles da ideia de Deus. Eles podem voltar a ter um aspecto mais suave, mais leve, podem parar de ter aquela urbana aparência de monstros…

Imagine, Charlie! Eles poderiam muito bem perceber, até, que são nobres leões, e poderiam decidir defender de novo os filhotinhos, inclusive os filhotinhos das outras leoas, defendê-los das hienas, dos bichos de rapina… Quem são mesmo os predadores dos filhotes de leão, filhinho? Bom, eles poderiam, se quisessem, voltar a nos proteger!

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Mas eles decidiram dizer que não querem que você sofra e, por isso, chega de respirador, chega de tentar tratamentos, chega desta vida que não dá nada a ninguém e tira dinheiro, tira um leito, tira espaço no jornal.

Você vê então, meu tesouro, que eles não sabem de nada? Você vai perdendo a força dos seus musculinhos, o seu cérebro sofre, os seus olhinhos pesam… A sua vida já está indo embora sozinha, pouco a pouco… Ela mesma já está fazendo esse trabalho sujo de ir tirando você de nós, um pouquinho de cada vez… A não ser que… Sim, a não ser que! Nós temos esperança, tentamos, tanta gente junto conosco também tem esperança, reza, apela aos homens e a Deus! Nós somos loucos e, por amor, queremos você aqui conosco! E muitos outros loucos deram dinheiro, um monte de dinheiro, para que nós pudéssemos levar você até lá do outro lado do oceano, para tentar tratar você de novo! E se fosse só um pretexto para ter você do nosso lado mais um pouco, o que é que importa para eles? Charlie, por favor, faça alguma coisa você! Invente uma cena, porque eles estão mentindo! Para eles, você é muito útil, sim! Eles sabem muito bem como usar você. E eles vão usar você se você não inventar alguma coisa rápido!

Eles querem que você seja o primeiro. Eles querem usar você contra outras crianças inúteis e custosas. Você é um investimento importante para eles. Filhinho, querido, ainda temos um pouco de tempo. A burocracia… Você encontra um jeitinho de pará-los? Eu estou cansada. Agora vou dormir um pouco, até que o papai volte.

P.S.: O texto acima não é de autoria da mãe de Charlie Gard, Connie Yates, mas sim da jornalista italiana Paola Belletti, que o assina. Paola procura colocar-se no lugar da mãe do bebezinho a quem a “justiça” do Reino Unido e da União Europeia negou o direito de tentar um tratamento experimental nos Estados Unidos. Fonte: Aleteia

 

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