A severidade de Jesus aos fariseus: Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão (Mateus 23, 37)


01.01.2018 - Nota de www.rainhamaria.com.br

Jesus Condena a Hipocrisia dos Fariseus e dos Mestres da Lei.

 

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Artigo publicado no site 13.04.2017

Muitos católicos, ao lerem o Evangelho, sentem certa estranheza e mal-estar vendo o modo tão severo com que Nosso Senhor Jesus Cristo trata a estrutura eclesiástica de seu tempo, isto é, os fariseus e doutores da lei. Não mereceriam eles pelo menos algum respeito pelo cargo que ocupavam na religião?

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Antes de entrar no cerne do problema, vejamos algumas das impressionantes palavras com que Nosso Senhor fustiga esses “sepulcros caiados”, essa “raça de víboras”: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mt 23,37). Quer dizer, aparentam virtude, mas no fundo são inteiramente corrompidos.

O divino Salvador questiona a idoneidade e boa fé deles: “Vós tendes por pai o diabo, e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se manteve na verdade, porque a verdade não está nele” (Jo 8, 44).

Por isso, até mesmo a pregação deles deve ser recebida com cautela: “Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração”. (Mt 12, 34).

Apesar de tudo, quando eles transmitem os bons princípios da religião, devem ser ouvidos. Mas com reservas: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem”. (Mt 23:3). Repreende-os ainda: “Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos”. (Mt 23:15). Ou seja, corrompem mesmo aqueles a quem atraem para a religião, tornando-os dignos da eterna perdição.

Resultado: se esses fariseus, escribas e doutores da Lei não se converterem e fizerem penitência, condenar-se-ão: “Como escapareis ao castigo do inferno?” (Mt 23, 33).

Para começar, devemos reconhecer que essa estranheza e mal-estar diante da severidade de Jesus são frutos sobretudo do liberalismo em que fomos educados, e de um exacerbado sentimentalismo que induz muitos a ter pena em alguns momentos até do próprio Judas, porque foi condenado eternamente.

É preciso compreender que, sendo Nosso Senhor Jesus Cristo a Sabedoria Encarnada, não poderia errar ao tratar assim aqueles representantes da religião. Deveria haver alguma razão que justificasse tal procedimento. E as há.

O excelente escritor americano do início do século passado, William Thomas Walsh, em seu esplêndido livro São Pedro, Apóstolo[i],[capa ao lado] nos dá interessantes dados esclarecedores a esse respeito.

É patente a má fé dos escribas, fariseus e doutores da Lei, que deveriam conhecer as Escrituras e saber que era chegada a hora da vinda do Messias. Pois, “para qualquer mente sã e justa, era impossível considerar Jesus de Nazaré como um louco”. “Quanto mais notável é um homem, menos provável se torna que se vanglorie de dons e poderes incomuns. A única exceção possível seria um homem que fosse realmente Deus. Também não seria fácil provar que fosse um impostor. Os charlatães procuram sempre qualquer coisa para si e não levaria tempo a um observador sensato descobrir a fraude. O objetivo pode ser dinheiro, poder, mulheres ou a satisfação de simples vaidade”. Ora, Jesus “parecia desviar-se do seu caminho para desagradar a todos os potentados que teriam podido, por razões pessoais e vantagens mundanas, fazer causa comum com ele”.

Além do mais, os fariseus, escribas e doutores da Lei deveriam saber que a vinda do Messias desejado estava próxima, pois o cetro havia caído nas mãos de estrangeiros e terminava o tempo predito pelo profeta Daniel para a vinda do Messias. E, sobretudo, as palavras de Jesus eram autenticadas por estupendos milagres, inclusive ressurreições, que ninguém de boa fé podia negar.

Por isso, pergunta Walsh: “Por que razão as principais autoridades de Israel se recusavam a encarar a evidência e a examinar o assunto [da divindade de Jesus] com seriedade? [...] As autoridades do Templo não acreditavam n’Ele porque, no fundo, também não acreditavam em Deus Pai e no seu profeta Moisés, cujos nomes andavam sempre nos seus lábios. Nesse caso, eram ateus, ainda que não ostensivamente. Mas, como era possível que tais homens, com a sua posição, tivessem caído num tal abismo de trevas espirituais?” (p. 81).

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Se, como diz o adágio latino, “nada de grande se faz de repente”, deve ter havido, portanto, todo um longo processo de decadência para levar um corpo religioso tão considerável, praticamente em seu conjunto, a tão lastimável estado.

Nem sempre fora assim. Nos idos tempos, os fariseus fizeram causa comum com os Macabeus em sua revolta contra o domínio pagão. Isto lhes granjeou a simpatia dos israelitas, pelo que “o seu poder aumentou tanto, que passaram a identificar-se virtualmente com o judaísmo oficial, e a serem reconhecidos como a autoridade docente em Israel. [...] A presença de devotos e homens sinceros como Hilel, Gamaliel, Nicodemos e Saulo de Tarso nas suas fileiras, recordava a Israel as nobres tradições farisaicas doutros tempos”.

Como esses homens de Deus começaram a se corromper? Escreve Thomas Walsh: “A tentação característica dos bons é o orgulho [“Sereis como deuses”]. A partir do momento em que esses heróis tomaram em mãos os destinos do povo judeu, e seus olhares começaram a desviar-se das causas de Deus e de suas infinitas perfeições para se deterem na contemplação de si próprios [...] perderam os fariseus o dom da fé. E a fé — a certeza da verdade não vista — foi a essência da antiga religião. [...] Perdido o precioso dom da crença sobrenatural, tornaram-se materialistas [...]. Deus, não sendo para eles mais do que um nome, era como um mero guarda-livros que atribuía a cada pessoa a sua recompensa numa proporção matemática em relação às suas obras”.

Isso os levou, segundo o escritor, a formar uma sociedade secreta iniciática, antes do advento de Cristo, para melhor obterem seus fins. (p. 83)

E o que falar dos saduceus, que muitas vezes faziam causa comum com os fariseus para discordar e provocar o Messias? Livres pensadores da época, eles negavam a ressurreição dos mortos e a imortalidade da alma. “Sendo ambos [saduceus e fariseus] essencialmente materialistas, secularistas, pragmáticos e mundanos, os dois grupos procuravam atuar em estreita harmonia quando estavam em causa interesses comuns” (p. 84), ou seja, boicotar de todos modos possível os ensinamentos de Jesus de Nazaré.

Anás e Caifás

“Através do controle do Sumo Sacerdócio [que já no tempo de Nosso Senhor lhes era atribuído, não por Israel, mas pelos romanos], algumas famílias abastadas e interligadas dominavam toda a vida judaica e cobravam tributo a quase todos os judeus do mundo. [...] É a estes, e não ao povo judeu, que os quatro Evangelistas se referiam geralmente quando escreviam os ‘judeus’”.

Durante a vida de Nosso Senhor, o Sumo Pontífice era Anás. Para saber de quem se tratava, diz Walsh: “Ele e seus filhos [...] subornavam e corrompiam juízes, intimidavam o Sinédrio ou o Conselho dos Setenta Anciãos, e colaboravam discretamente com Pilatos e outros oficiais romanos, enquanto simulavam denunciá-los em público”.

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Quando Anás foi substituído pelo seu genro Caifás, as coisas não foram diferentes, pois “Anás continuava a segurar as rédeas do poder por detrás da cortina, e não só ‘aconselhava’ Caifás a título informal, como também presidia o Sinédrio na sua qualidade de Nasi ou príncipe. Na realidade, era o rei não coroado dos judeus” (p. 84).

Para Anás, “nada o afetava. Nada lhe interessava, a não ser ele próprio e o poder que o dinheiro lhe proporcionava. Apenas honrava com seu ódio o que ameaçava o seu poder. E foi esse ponto de vista que prevaleceu para formar uma opinião sobre Jesus de Nazaré. Logo que O viu e ouviu, concluiu que, se O aceitasse como Messias, teria de confessar a si próprio sua condição de ladrão e opressor do povo, um hipócrita servo de Deus; teria de devolver sua riqueza roubada e seu bem-estar. Demasiado depravado para encarar tal hipótese, concebeu um ódio mortal ao Senhor ao vê-Lo transpor o Pórtico de Salomão. Anás fora sempre mau; agora era satânico” (p. 86).

É sabido que não há maior ódio que o religioso. As guerras de religião no-lo provam. Foi esse ódio que tiveram os fariseus do tempo a Nosso Senhor, a ponto de negarem seus milagres, escolherem um assassino e malfeitor em seu lugar, e mandá-Lo crucificar impiedosamente. Além do mais, a se comprazerem com seus sofrimentos.

Por isso Cristo Jesus — que é “manso e humilde de Coração”, mas também, como sua Santíssima Mãe, “terrível como um exército em ordem de batalha” — fustigou tanto esses religiosos, que deviam ser “a luz do mundo e o sal da terra”, mas infelizmente, como muitos dos seus similares hoje, trabalhavam contra a própria instituição que deveriam representar.

Tudo isso justifica a atitude enérgica da Sabedoria Encarnada com relação aos escribas, fariseus e doutores da Lei.

[i] Editora Civilização, Porto, 2004, páginas 81 a 86.

Fonte: www.abim.inf.br 


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