Estados Unidos: suicídio mata mais policiais do que confrontos


12.04.2008 - Quando Matthew Morelli, um policial de 38 anos, foi encontrado caído em um estacionamento da cidade de Norwalk, em 21 de março, tendo nas mãos um fuzil de assalto AK-47, as autoridades locais e estaduais passaram dois dias procurando por um suspeito, com helicópteros e cães policiais vasculhando a área, na qual testemunhas alegavam ter ouvido diversos tiros. A culpa, porém, cabia a um matador mais sorrateiro, ainda que surpreendentemente familiar nas vidas dos policiais: o suicídio.

"Nós estamos todos sem ação", disse William Curwen, presidente do sindicato dos policiais de Norwalk, falando em nome de muitos dos presentes ao velório de Morelli, quase uma semana depois.

Recentemente, na mesma semana, um policial estadual de Nova York se suicidou com sua arma de serviço depois de ser informado que seria alvo de medidas disciplinares por delitos de conduta menores. Uma policial da cidade de Nova York foi encontrada morta em sua casa, na parte norte de Manhattan, acomodada na cama e tendo em uma mão a pistola de serviço Glock que usou para atirar na cabeça e na outra uma lata de cerveja.

E o Departamento de Polícia de Los Angeles, que tem registrado média de um a dois suicídios anuais nos últimos anos, no mês passado divulgou um relatório que apela por programas de prevenção online para todos os funcionários, treinamento adicional para os chefes e a presença de psicólogos nas reuniões diárias das delegacias, para discutir o assunto com os policiais.

Embora as mortes em serviço atraiam mais manchetes, especialistas dizem que duas ou três vezes mais policiais morrem por suicídio do que no cumprimento do dever. É difícil comparar o índice de suicídio entre os policiais ao da população mais ampla, porque as estatísticas são registradas por agências diferentes e é difícil ponderar os fatores demográficos.

Além disso, a população mais ampla não passa pelos exames psicológicos e físicos intensos que a maioria dos policiais realiza, o que torna questionáveis as comparações. Mas muita gente que estudou o fenômeno concorda em que o estresse do trabalho e o acesso fácil a armas contribuem para um risco mais forte de suicídio.

"Estamos perdendo um policial a cada 19 ou 20 horas devido a ferimentos auto-infligidos", disse Robert Douglas Jr., ex-oficial de polícia em Baltimore e hoje pastor e presidente da Fundação Nacional do Suicídio de Policiais, em Maryland. "É muito sério. E triste, porque aquilo que vimos no Connecticut acontece o tempo todo".

Douglas estima que entre 400 e 450 policiais se suicidem a cada ano, ante cerca de 150 a 200 policiais mortos no cumprimento do dever. Em Norwalk, pelo menos cinco policiais haviam cometido suicídio antes de Morelli, de 1974 para cá; quatro policiais morreram em ação desde que a polícia local foi estabelecida, em 1913; as duas mortes mais recentes aconteceram em 1971 e 1982.

Algumas agências policiais reforçaram seus programas de prevenção depois de altas perturbadoras no número de suicídios. A polícia rodoviária da Califórnia expandiu os esforços de aconselhamento e os programas de treinamento relacionados ao suicídio depois de perder cerca de 10 de seus 7,9 mil integrantes em casos de suicídio em 2005 e 2006. No ano passado, disse a capitão Susan Coutts, da divisão de assistência a policiais, "nós tivemos um caso".

A polícia estadual de Maryland viu diversos suicídios, incluindo dois no mesmo quartel, nos anos 90, e iniciou programas para identificar policiais em situação de risco, e um regime de consultas psicológicas compulsórias e de reorientação quanto a armas para policiais envolvidos em incidentes de trocas de tiros que causaram vítimas fatais.

"Sei que, depois disso, não tivemos mais suicídios", disse David Mitchell, superintendente da polícia estadual de Maryland entre 1995 e 2003 e hoje secretário estadual da segurança. Mas alguns líderes de agências policiais preferem não admitir o problema, dadas as implicações emocionais e financeiras que podem estar envolvidas.

Policiais que morrem no cumprimento do dever têm seus nomes inscritos em um muro da honra no Memorial Nacional da Polícia, em Washington, e veiculados em sites de Internet. Os funerais deles contam com forte comparecimento, e suas famílias em geral são elegíveis para até US$ 300 mil em assistência apenas do governo federal, bem como para programas de bolsas de estudo universitárias.

"Quando um policial morre no trabalho, recebe uma despedida honrosa", disse Mitchell, que também foi chefe de polícia no condado de Prince George, Maryland. "É um fim digno de um herói, mas isso não acontece para quem se mata. O suicídio causa um estigma". Mitchell diz ter visto "alguns suicídios encenados para que parecessem homicídios", como no caso de Morelli.

Mais de 32 mil americanos se suicidam a cada ano, o equivalente a 11 vítimas por 100 mil pessoas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Diversos estudos acadêmicos estimam o índice de suicídios entre policiais em cerca de 18 por 100 mil, ainda que a contagem de Douglas, compilada com base em notícias e contatos pessoais em departamentos de polícia, resulte em total duas ou três vezes mais elevado.

Não há indícios de que estresse causado pelo trabalho tenha influenciado a morte de Morelli. Nos seus quase 12 anos como policial, ele não participou de qualquer tiroteio, e sempre recebeu elogios da comunidade. Mas ele havia passado por um divórcio e por uma batalha judicial pela guarda de sua filha, decidida em 2006 em favor de sua ex-mulher, que manteve a guarda da menina.

Morelli fez da filha a beneficiária de uma apólice de seguro de vida de US$ 100 mil e de outros US$ 58 mil em benefícios contratuais a serem pagos pela cidade de Norwalk em caso de morte do titular em serviço. As autoridades de não comentaram sobre o dinheiro que a família de Morelli receberia. Harry Rilling, chefe da polícia de Norwalk, preferiu elogiar o policial pelos seus anos de serviço.

Em 28 de março, cerca de 700 policiais vestiram seus uniformes de gala e luvas brancas e acompanharam o funeral de Morelli, em um cemitério da cidade que ele protegia.

Fonte: Terra notícias

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Lembrando...

Estados Unidos: suicídio é causa comum de morte para jovens

25.01.2007 - Há muitas crianças norte-americanas que usam psicotrópicos? O número de suicídios de adolescentes é muito alto nos Estados Unidos? Talvez maior do que em outros países. De acordo com dados do Instituto Nacional de Saúde Mental norte-americano, o suicídio, se computadas todas as faixas etárias, era a 11ª entre as causas de morte no país (32.439 vítimas) em 2004. Mas entre as crianças (10 a 14) adolescentes (15 a 19) e jovens adultos (20 a 24 anos), o suicídio era a terceira maior causa de morte, com índices iguais ou superiores à média nacional de 10,9 suicídios por 100 mil habitantes.

As estatísticas também demonstram que a causa principal de suicídio entre os jovens é a depressão. No entanto, antidepressivos são receitados com grande freqüência para as crianças e jovens deprimidos do país. Seria possível supor um vínculo entre esse tipo de medicamento e o suicídio, se bem não seja possível medir com precisão o impacto do tratamento químico. Em outubro de 2004, a Food and Drug Administration (FDA, agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios), ordenou que os laboratórios suspendessem toda publicidade (comercial e em forma de divulgação junto a médicos) de antidepressivos usualmente receitados para crianças e adolescentes. Estudos clínicos haviam demonstrado que certos medicamentos usados no combate à depressão nos adultos faziam crescer o risco de comportamento suicida entre os adolescentes.

Depois dessa recomendação, as vendas de antidepressivos a adultos se estagnaram, e houve queda profunda no número de receitas desse tipo de medicamentos para adolescentes. Na metade de 2005, um estudo norueguês revelou que as pessoas tratadas com paroxetine (um antidepressivo comercializado na França com a marca Deroxat) corriam o risco de ver encorajados os seus impulsos suicidas. Mas em maio de 2006, novo estudo publicado pelo American Journal of Psychiatry, demonstrava, depois de considerar os resultados do tratamento de 65 mil pacientes, que os antidepressivos podiam atenuar os comportamentos suicidas, especialmente entre os adolescentes.

Parece difícil estabelecer conclusões definitivas. Todos os antidepressivos passaram a ser vendidos em embalagem com tarja preta, o que sinaliza que eles não podem ser divulgados por publicidade. Os norte-americanos são menos reticentes que os europeus quando se trata de receitar antidepressivos e outros medicamentos destinados ao sistema nervoso central para pacientes infantis. Em março de 2006, o doutor William Cooper, do hospital infantil Vanderbilt, estimou que 2,5 milhões de crianças recebiam receitas de psicotrópicos nos Estados Unidos a cada ano. O volume é cinco vezes superior à média que existia no começo da década de 90.

Fonte: Terra notícias

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Nota do Portal Anjo, www.portalanjo.com

Nos Dez Mandamentos, encontramos um que diz: “Não matarás” (Ex 20,13). É certo que a expressão negativa enfática de não matar se refere às mais variadas formas que levam à morte. Dentre elas, lembramos do assassinato, da eutanásia e do aborto. O suicídio também é considerado como a quebra desse mandamento, tendo em vista que significa autodestruição, ou negação da própria vida. O termo se origina do latim sui, que quer dizer a si mesmo, e caedere que significa cortar, matar.

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