Revelações particulares: O perigo dos profetas


04.08.2008 - De alguns anos pra cá, temos visto uma verdadeira "enxurrada" de pessoas que têm, ou alegam ter "dons", "carismas" ou "revelações". O objetivo deste artigo não é validar ou não tais afirmações, mas sim refletir na postura que devemos ter diante dessa situação.

E, sem dúvida eles existem sim, ainda hoje, sempre existiram na Igreja e sempre existirão enquanto nos é dado viver neste reino.

Como está dito, lá bem no início em Deuteronômio 18: 15 O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir. 17 E o Senhor disse-me: está muito bem o que disseram; 18 eu lhes suscitarei um profeta como tu dentre seus irmãos: pôr-lhe-ei minhas palavras na boca, e ele lhes fará conhecer as minhas ordens.

E devemos ter em mente que isto adiante foi predito pelo profeta Joel, 3, 1-2: "1. Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. 2. Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas.

Também o profeta Amós previu este tempo, e disse claramente que Deus nunca manda um castigo sobre seu povo, sem antes avisar, através de seus profetas. Por exemplo: profetas têm avisado que no Brasil também passariam a acontecer terremotos, porque nossa terra – ao contrário do que se imagina – é frágil e tem enormes rupturas desconhecidas no solo profundo. Mas quantos são os que acreditam neles? Quantos acreditam hoje, se lhes dissermos, que haverá em breve um grande abalo na terra do Brasil?

Então, estes tempos das profecias chegaram. Ultimamente está muito difícil conhecer alguém que não tenha alguma "experiência sobrenatural" para contar. Vozes, vultos, premonições, locuções, visões, revelações, é realmente muita coisa. Mas como agir diante disso?

A princípio, tendemos a ficar deslumbrados e maravilhados com tais manifestações. Sim, é realmente maravilhoso, é extraordinário. Dá ânimo à nossa fé. Sentimo-nos mais encorajados a perseverar, testemunhando Deus agir tão claramente na vida das pessoas.

Pois é exatamente por isso que muitas pessoas tropeçam e caem. Tanto as que recebem os "dons", como aqueles que acompanham tais pessoas.

Mas como isso acontece?

O primeiro e maior motivo é a falta de humildade. É muito comum ver pessoas agraciadas com dons, se achando maiores e melhores do que aqueles que não os tem. "Deus me escolheu". "Deus tem uma obra pra realizar na minha vida". "Eu tenho o discernimento do Espírito Santo". Pois é este exatamente o primeiro caminho do diabo: onde entra o orgulho da profecia, Deus está fora! E dificilmente volta!

Se os portadores dos dons não pensam e não agem assim, certamente as pessoas que os acompanham o farão. Começa então uma intensa propaganda boca-a-boca, exaltando as virtudes e os feitos do agraciado com os carismas. E as pessoas começam a se interessar e a querer conhecer, ver de perto tantas "maravilhas"... E quem sabe, também conseguir uma "graça", um milagrinho, por intermédio do "profeta"...? Então, começa o "endeusamento" da pessoa... E começa o seu declínio!

Claro está que muitos gostam de ser admirados. Entretanto, para o indivíduo manter o equilíbrio diante de tal admiração e endeusamento, é necessária muita humildade, muito desprezo de si mesmo. Não é à toa que o próprio São Paulo dizia de si:

7. Ademais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. (II Coríntios, 12,7)

Pessoas há que costumam "endeusar" os "profetas" e que assim o fazem geralmente por ingenuidade, inveja ou desejo de ter para si um pouco da glória da pessoa que se endeusa. Não raro tal endeusamento também é acompanhado de uma profunda desconfiança em relação ao carisma. Porém, assim que o "endeusador" deixa de obter "vantagens" pessoais em fazer isso, facilmente parte para o extremo oposto, caluniando e difamando o "escolhido". Também existe, infelizmente, o fanatismo exacerbado, cego, que mesmo diante das evidências negativas mais claras, continua engolindo tudo o que diz o falso profeta.

Essas atitudes demonstram no mínimo, imaturidade na fé. Quando não irracionalidade!

"Felizes daqueles que não viram e creram".

Tais pessoas não concebem a fé como sendo produto também da decisão e da razão. São sentimentalistas, precisam dos sinais sensíveis que a toda hora lhes provem que estão no caminho certo. Isso é um grande risco, pois o "demônio se transforma em anjo de luz". Sem uma profunda e firme decisão pela fé verdadeira, sem uma profunda e humilde entrega a Deus, é muito fácil cair em armadilhas espirituais. Sem humildade, sem oração, ninguém resiste nestes casos! Caem os profetas e com ele os seus seguidores!

Todos os santos da Igreja relatam um período de "aridez espiritual" em suas vidas, onde realmente decidem seguir livremente e desinteressadamente a Jesus. Mas os "endeusadores" não se interessam por esta experiência. Exigem sempre mais e mais "milagres", para manter acesa a chama da fé nelas. Ao menor esfriamento, desabam.

Estas pessoas se esquecem que o "escolhido" não tem controle sobre os carismas, que quem os dá e dispõe é Deus, unicamente visando à salvação das almas. Deus não age de acordo com os desejos da platéia do momento. Pelo contrário, Deus trabalha no silêncio, na oração e na humildade. Sempre.

Mas avidamente, as pessoas exigem sempre mais "mensagens", mais "visões", mais "curas", mais "graças", mais "milagres", se esquecendo de que nada disso depende da vontade do "escolhido", mas sim da vontade de Deus, que é o dispensador de todos os dons e todas as graças. Esquecem-se do verdadeiro motivo pelo qual foi concedido o carisma, que é sempre e tão-somente o bem da Igreja, ou seja: a salvação eterna das almas, e não a satisfação de uma curiosidade mórbida.

Porque o verdadeiro profeta pode passar meses inteiros sem receber uma só mensagem, pois o Céu não se manifesta inutilmente e sem objetivo seguro e claro. Desconfie, pois, daqueles profetas que TODOS os dias trazem “mensagens”. Desconfie também daqueles que elegem um tema e falam sobre ele, todos os dias obsessivamente. Muitos fazem isso por pressão de seus seguidores! Eis aí um pobre, mas falso profeta!

Com tamanha pressão, o "escolhido" pode passar a "inventar" mensagens ou visões, para não decepcionar seus seguidores, porque Deus lhe dá o dom e não retira. Então se torna fácil de ele inventar, criar mensagens, com aparência celestial, mas são meros artifícios humanos. Então milhares de seguidores podem estar cumprindo determinações que “Deus pediu”, quando na verdade foi apenas o profeta que inventou tal coisa.

Como está dito em Ezequiel 13: 2 filho do homem, profetiza contra os profetas israelitas que (pretendem) profetizar, dize àqueles que profetizam de sua própria cabeça: escutai a palavra do Senhor: 3 eis o que diz o Senhor Javé: ai dos profetas insensatos que seguem sua própria inspiração sem terem tido (realmente) visão alguma.

Ou pior ainda, o próprio satanás pode intervir e, ele mesmo, dar ao "profeta" os tais "milagres" que este deseja, pra provar aos "seguidores" que ele ainda está no caminho "certo". Sim, porque os "seguidores", de tempos em tempos, exigem "provas", para continuarem "seguindo" o "profeta", acreditando nele, o divulgando, enfim, acompanhando o carisma.

É necessário aqui fazer uma ressalva: há muitas pessoas bem-intencionadas que acompanham uma pessoa que tenha dons ou carismas, com genuíno desejo de cooperar, aconselhar, evangelizar e ajudar a pessoa a bem cumprir sua missão. Estas o fazem gratuitamente, e também não desejam aparecer à custa do "escolhido". Geralmente trabalham no escondimento, ou também, apenas acreditam, mas sem endeusar, nem fanatizar, sem a sofreguidão por "milagres".

Infelizmente, em muitos casos, o dom recebido acaba se perdendo justamente por este motivo: pela sofreguidão dos "seguidores", e mesmo do próprio "escolhido". É que não basta a boa intenção, a boa vontade em ajudar: é preciso antes o discernimento. É antes necessário estudar tudo aquilo, em detalhes, buscando acima de tudo compreender se aquilo está ou não de acordo com as Escrituras.

Mas muitos falam da "infabilidade" do "escolhido". Outras vezes também podemos ver, nas pessoas, o "fanatismo". Estas agem crendo que tudo o que o "escolhido" diz é um dogma de fé, mesmo se as afirmações forem contrárias aos próprios ensinamentos da Igreja. Esquecem-se, os profetas e seus seguidores, de que a Igreja Católica é a única instituição deixada por Jesus para questões de doutrina, fé e moral.

Para estes, o profeta Ezequiel continua dizendo no mesmo capítulo 13: 6 Vêem só visões disparatadas, só fazem predições enganosas, eles que dizem: oráculo do Senhor! quando o Senhor não os enviou; e, todavia, esperam a realização de sua palavra. 7 Não é verdade que não tendes senão visões ineptas e não fazeis senão predições enganadoras, quando dizeis: oráculo do Senhor, quando eu não falei coisa alguma?

Vemos isso em muitos dos falsos profetas da atualidade. Envolvidos profundamente com o "escolhido", ao perceber qualquer coisa errada ou não condizente com a doutrina (isso quando há conhecimento da mesma), os "seguidores" preferem calar a questionar, por não querer voltar atrás e se contradizer perante os outros. Ficam com vergonha! Também alguns dos profetas: eles sabem que não estão mais tendo contato com o Céu, entretanto montou-se já uma estrutura, com empregos e salários e se a mensagem secar, tudo desaba. Então eles preferem continuar, com risco grave da própria alma.

Pois Ezequiel avisa a estes profetas: Capturais as almas do meu povo, enquanto vós conservais em vida vossas próprias almas! 19 Vós me aviltais perante o meu povo por alguns punhados de cevada e uns pedaços de pão, fazendo perecer vidas que não deveriam morrer, e dando vida a quem não deveria viver. Assim, enganais o meu povo, que não quer senão ouvir fábulas. 20 Eis por que diz o Senhor: vou contra as ligaduras de que vos servis para dar caça às almas: eu as arrancarei de vossos braços e darei vôo às almas que, como pássaros, apanhastes na armadilha.

Recado bem mais duro para eles, já nos é dado desde o início, como está dito no livro do Deuteronômio 18: 20 o profeta que tiver a audácia de proferir em meu nome uma palavra que eu lhe não mandei dizer, ou que se atrever a falar em nome de outros deuses, será morto. Muito cuidado então, profetas, vós que dizeis falar em nome do Senhor

Um dos motivos pelos quais é difícil voltar atrás em caso de erro, é precisamente o fato das pessoas já terem presenciado "milagres", "intervenções divinas" por intermédio do vidente, coisa que causa extrema confusão. Isso quando muitas vezes os sinais acontecem por causa da fé das pessoas presentes, mas nunca por força do profeta ou vidente. Acaso não está dito que a fé faz milagres?

Acreditar ou não acreditar? Na verdade a Igreja NUNCA obriga ninguém a crer – nem pode obrigar a deixar de acreditar – numa aparição ou manifestação do Céu, mesmo que ela tenha aprovado, através de seus bispos ou do papa. Por exemplo: nenhum católico está obrigado a acreditar nas aparições de Fátima, em Portugal.

Entretanto, veja bem, isso em si não esgota a matéria, porque não nos é dado também ignorar completamente tais manifestações, e a razão nos obriga a estar atentos aos sinais. Trata-se de sinais, de frutos conversão, de durabilidade do fenômeno e até mesmo de fatos inexplicáveis que somente uma intervenção divina poderia causar.

Ocorre que muitos, neste sentido desprezam simplesmente, todos os sinais e avisos de Deus, como falsa profecia, não se dando conta de que isso ofende ao Deus que os envia. Desprezam sem conhecer, falam sem saber, combatem porque “ouviram dizer”, ou, também, porque dão ouvidos a satanás: Entrementes nos adverte o Deuteronômio 18: 19 Mas ao que recusar ouvir o que ele disser de minha parte, pedir-lhe-ei contas disso.

A Igreja Católica reconhece a validade de algumas revelações particulares autênticas. Tanto é que muitas das devoções praticadas hoje em dia têm seu início em revelações particulares. Exemplos: o Santo Rosário, o Escapulário do Carmo, a devoção à Divina Misericórdia, a devoção à Maria Rosa Mística.

Porém, a Igreja também se mostra extremamente cautelosa, geralmente só aprovando uma revelação particular após muitos anos ou até mesmo décadas de estudos. Até a aprovação e o reconhecimento das mensagens e aparições como dignas de fé, geralmente a Igreja adota a postura de recomendar aos fiéis que leiam o conteúdo das mensagens como "Meditações", excluindo a intervenção sobrenatural nos escritos.

De qualquer forma, disse-nos um sacerdote: é louco quem não acredita nos profetas atuais! Sim, tudo depende de qual profeta, e de que tipo de profecia.

Enfim, como discernir se um profeta é falso ou verdadeiro? Veja o que diz o livro do Deuteronômio 18: 21 Se disseres a ti mesmo: como posso eu distinguir a palavra que não vem do Senhor? 22 Quando o profeta tiver falado em nome do Senhor, se o que ele disse não se realizar, é que essa palavra não veio do Senhor. O profeta falou presunçosamente.

Mas como está em 1 Tess 5: 19 Não extingais o Espírito. 20 Não desprezeis as profecias. 21 Examinai tudo: abraçai o que é bom.

Sinceramente, é muito difícil discernir as profecias, a não ser em virtude de um dom ou graça especial, e só pela intervenção do Espírito Santo. Há pessoas que imaginam assim: se o profeta falou que se deve rezar, então é verdadeiro, porque o demônio não manda ninguém rezar! Bem, mandar ele não manda, mas deixa que seja, porque ele tem na frente um objetivo maior: mal as pessoas percebem, já caíram na armadilha dele!

Devemos ter, assim, todo discernimento quanto a aquilo que divulgamos em termos de profecia, pois somos co-responsáveis pelo que transmitimos. Existe a boa e a má profecia. Tanto uma como a outra, se conhecem pelos frutos. Se são furtos de conversão, de amor, de humildade, de caridade e obediência e fidelidade, devem ser seguidos e vividos. Se são frutos de dissensão, de discórdia, de arrogância e de endeusamento, caiam fora.

A palavra de Jesus está em Mateus 7, 15 Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. 16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? 17 Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 20 Pelos seus frutos os conhecereis.

Profetas que se dizem santos, que se fazem papas, que vestem trajes de monge e usam coisas que os façam ressaltar da multidão; que vivem a reclamar de perseguições, que falam mal de padres e da Igreja, e têm obsessão em divulgar suas pretensas “visões e revelações”, fora com eles. E cuide de cair fora, quando começam a pedir dinheiro e a vender livros coisas caras para construir obras vultosas e caras, coisas que a Igreja já tem de sobra, e que certamente Deus não pediu.

Mais uma coisa: desconfie do profeta que fala exatamente TUDO aquilo que os outros falam! Cuidado, pois é exatamente ali que mora o perigo! Na verdade eles apenas se copiam, sem endossam! Eles copiam dos antigos profetas e santos da Igreja, ou dos profetas atuais verdadeiros! Deus não precisa se repetir, pelo menos não trinta vezes num mesmo mês!

Desconfie também dos profetas que vivem a dar encontros e palestras, em longas viagens caríssimas, que vivem a explicar mensagens e revelações, que falam mal dos outros profetas, especialmente daqueles que não têm uma vida de profunda oração pessoal, e vivência assídua dos sacramentos, especialmente o da Confissão e da Eucaristia. Cuidem destes: Deus pode não estar ali, e não está!

Ao contrário, profetas que vivem na humildade, no escondimento, na vida de oração, na submissão à Igreja, que não reclamam quando são perseguidos, que não revidam quando insultados, e não emitem mensagens de endossamento, nem falam mal de padres ou da Igreja; profetas que têm coragem de dizer o inédito mesmo à custa de muito sofrimento; que não enriquecem a custa dos outros e não vivem de viagens por outros continentes “para consagrar o Brasil”, ou que nunca buscam atrair sobre si as luzes do mundo, a estes, ouçam o que eles dizem! Deus pode estar ali, e está com certeza!

Por Maria
Fonte: www.recados.aarao.nom.br
 


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