Deus Pai Fala à Seus filhos: Revelações à Santa Catarina de Sena - IV


Parte IV

DEUS PAI:

No batismo a luz da fé vos é dada na força do Sangue do Meu Filho. Associada à luz da razão ela vos alcança a vida para a verdade.

Esta iluminação revela ao homem a transitoriedade das realidades terrenas, que passam como o vento. Tal atitude supõe todavia, que tenhais consciência da própria fraqueza, tão inclinada a rebelar-se, já que existe nos vossos membros uma lei perversa (Rm 7,23), que vos leva a revoltar-vos contra Mim, vosso Criador. Tal "lei" não obriga ninguém a pecar contra sua vontade, todavia combate contra o espírito. Permiti semelhante lei, não para serdes vencidos, mas a fim de provar vossas virtudes. É nas situações adversas que às virtudes são experimentadas.

A sensualidade opõe-se ao espírito; é através dela que o homem comprova seu amor por Mim, o Criador, opondo-se às suas tendências derrotando-as. Quis Eu ainda essa perversa lei para que o homem fosse humilde.

De si mesma, a sensualidade não conduz ninguém ao pecado, mas induz ao reconhecimento do próprio nada; revela a fragilidade do que é terreno.

É preciso que a inteligência humana, sob a luz da fé, reconheça tal coisa; trata-se justamente daquela "iluminação geral" de que falei, indispensável para todos os que desejam participar da vida da graça aproveitando os efeitos da morte do Cordeiro Imolado. Ela é necessária para todos, qualquer que seja o estado de vida; é a iluminação da "caridade comum", universal. Todos (os cristãos) devem possuí-Ia sob pena de serem condenados; quem não a tem não está na graça divina; desconhece o pecado e suas causas...

... Toda obra boa será remunerada, como todo mal terá seu prêmio. Quando praticada no estado de graça, a boa obra merece o céu; quando feita em pecado, embora sem merecimento, terá sua paga de várias maneiras: umas vezes, concedo vida mais longa ou inspiro a Meus servidores contínuas orações em favor, com as quais tais pessoas se convertem; outras vezes, em lugar de vida mais longa e das orações, concedo bens materiais ...

... O cristão que possui BENS, deve fazê-lo na Humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria . Dou-vos os bens para o uso. Tanto possuis, quanto concedo; tanto conservais, quanto permito; e tanto permito, quanto julgo útil à vossa salvação. Tal há de ser a vossa atitude quanto ao uso dos bens materiais. Assim fazendo, o cristão obedece aos mandamentos - amando-Me sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - e conserva o coração desapegado das riquezas, afetivamente, como nada possuindo. Não se apega aos bens, não os possui em oposição aos Meus desígnios.

Possui externamente, ao passo que seu íntimo é pobre. Tais pessoas, como disse, eliminam o veneno do egoísmo. São os cristãos da "caridade comum".

Os bens materiais são bons em si mesmo; foram criados por Mim, bondade infinita. Os homens hão de usa-los como lhes aprouver, mas no temor e no amor autênticos.

Os cristãos não devem virar escravos dos prazeres sensíveis. Se querem ter posses façam-no; mas como dominadores dela, não como dominados. O afeto do coração deve estar em Mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo. Não tenho preferência por pessoas ou posição social, somente pelos desejos do coração.

Quem afastar de si o apego desregrado e se orientar para Mim na caridade e no santo temor, tal pessoa poderá escolher o estado de vida que quiser. Em qualquer um deles alcançará a vida eterna. Suponhamos que seja mais perfeito e mais agradável a Mim que o homem viva interior e exteriormente despojado dos bens materiais. Se uma pessoa não sentir a coragem de abraçar tal perfeição devido a alguma fraqueza pessoal, que permaneça "na caridade comum"* qualquer que seja seu estado de vida. Em Minha bondade dispus que assim fosse para que nenhuma pessoa viesse a desculpar-se por pecados cometidos em determinadas situações. Ninguém poderá dar desculpa, Sou condescendente com as tendências e fraquezas humanas. Se as pessoas desejam viver no mundo, possuir bens, ocupar altas posições sociais, casar-se, ter filhos, trabalhar por eles, façam-no. É lícito viver em qualquer posição social; contanto que se evite o veneno da sensualidade, o qual pode conduzir à morte perpétua.

Se prestares atenção verás que quase todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Disto nasce o orgulho de quem pretende ser maior que os outros, a injustiça para consigo mesmo e o próximo.

A riqueza empobrece e destrói a vida da alma, torna o homem cruel consigo mesmo, prejudica sua dignidade espiritual infinita, faz amar as coisas transitórias. Todos têm obrigação de amar-Me, bem infinito. Com a riqueza o homem perde o gosto pela virtude, o amor da pobreza, o domínio sobre si, torna-se escravo dos bens materiais. Ao amar realidades inferiores a si, torna-se insaciável. Só a Mim deve o homem servir; Sou seu fim último.

Quantos perigos enfrenta o homem, por terra e por mar, a fim de adquirir riqueza e poder voltar a sua cidade natal entre satisfações e honras; já para ,conseguir a virtude, é incapaz do menor esforço, não aceita dificuldade alguma! E dizer que as virtudes são a riqueza da alma.

Caridade comum* - os que seguem a Cristo obedecendo os mandamentos.

Diz Meu Filho no Evangelho que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha* que o rico entrar na vida eterna". (Mt. 19,24) referia-se àqueles que possuem ou desejam possuir riquezas com desordenado e pecaminoso apego à elas. Afirmei também existirem pobres, que se pudessem possuíam com desordenado apego o mundo inteiro. Também eles não passarão pela porta estreita e baixa (agulha). Se não se abaixarem até o chão, se não dominarem o próprio apego, se não dobrarem humildemente a cabeça, como poderão atravessá-la? Outra porta não existe que conduza à vida eterna. Pelo contrário, é larga aquela que conduz à eterna condenação. (Mt. 7,13).

As realidades terrenas são menores que o homem, para ele foram criadas, não vice-versa. Por tal motivo os bens materiais não o satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de Mim, e sofrem...

Querem saber como sofrem? Quando alguém perde algo com que se identificara seu apego faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos, com os bens materiais. Eles se materializam. Uns se identificam com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns se afastam de Mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro. Todos eles assim se nutrem de bens terrenos. Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. Passam como o vento. São perdidas por ocasião da morte e de outros acontecimentos por Mim dispostos. Diante de tais perdas, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação se compara a desordenada afeição à posse.

Todos estes se carregam com a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem diversificamente doentes e se não se corrigirem vão para a morte eterna. São homens feridos pelos espinhos das contradições a torturarem-se interna e externamente. E por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, nada merecem; é sem paciência que padecem estes males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor.

É preciso encher a alma de virtudes, sob o alicerce da caridade.

Agulhas* - portas secundarias das cidades antigas cercadas de muros a fim de evitarem invasões. Essas portas baixas e estreitas serviam apenas para circulação de pessoas. Quando alguma caravana chegava fora de horário, os camelos para entrarem na cidade tinham que ser descarregados e ainda pelo impedimento da altura, entravam ajoelhados.

Em matéria de virtudes necessita-se da perseverança . Quem não persevera, jamais realiza seus desejos, levando a termo o que começou ...

... O Meu Filho como Ponte possui três degraus. No primeiro degrau o cristão se afasta da afeição terrena, despoja-se dos vícios, no segundo, adquire as virtudes; no terceiro, goza a paz. No primeiro o (homem) se comporta como servo assalariado, no segundo como servo fiel, no terceiro como filho, ou seja como pessoa que Me ama sem interesses pessoais.

São três estados que podem acontecer em diversas pessoas ou sucessivamente numa única pessoa. Acontecem ou podem acontecer numa mesma pessoa quando ela progride esforçadamente, aproveitando o tempo, e passa do estado servil ao liberal e do liberal ao filial. Temos assim o amor servil, o amor Interesseiro e o amor amizade...

Relativamente ao. modo como se chega ao amor amizade e filial dá-se da seguinte maneira: inicialmente imperfeito, o homem vive no temor servil;* com perseverança e esforço, chega ao amor interesseiro das consolações (espirituais) no qual se compráz* olhando-Me como algo útil para si mesmo. Tal é o roteiro de quem deseja chegar ao amor amizade e filial. Este último é o amor perfeito com ele alcança-se a herança do reino. O amor filial inclui o amor amizade; nesse sentido se passa do amor amizade ao amor filial.

Mas qual é a estrada? Vou dizê-lo. Toda perfeição e virtude procede da caridade; a caridade alimenta-se da humildade; a humildade nasce do auto- conhecimento e da vitória sobre o egoísmo da sensualidade. Para se atingir o amor filial é necessário, pois perseverar na cela do auto-conhecimento. Nesta ceia o homem conhecerá o Meu perdão através do Sangue de Cristo, atrairá sobre si pelo amor, a Minha caridade, procurará destruir em si toda má vontade espiritual e temporal...

... A fé viva consiste na prática perseverante das virtudes, em não voltar atrás por motivo algum, em não deixar a oração jamais - exceto por obediência ou caridade - pois nenhuma outra razão existe.

É na oração contínua, fiel e perseverante que todas as virtudes são adquiridas. Mas é preciso perseverar, nunca a deixar: nem por ilusão do diabo, nem por fraqueza pessoal, qual sejam os pensamentos e impulsos íntimos, nem Por conselhos "alheios". Como é agradável ao orante e a Mim a prece feita na cela do auto-conhecimento.

Compráz* - sentir prazer.

Temor servil* - medo dos castigos infernais.

Ali o homem crê e ama na abundância do Meu amor, que em Meu Filho tornou-se visível e provado no Sangue. Sangue que inebria a alma, reveste-a com as chamas do Amor Divino, Eucaristicamente a alimenta.

Foi na despensa da hierarquia eclesiástica que Eu guardei o Corpo e Sangue do Meu Filho, perfeito homem e perfeito Deus, pois ENTREGUEI AOS SACERDOTES, A CHAVE DO SANGUE, A FIM DE QUE O DISTRIBUÍSSEM.

Tal Alimento fortifica de acordo com o amor de quem o recebe, seja sacramentalmente, seja espiritualmente. Sacramentalmente, na comunhão Eucarística; espiritualmente, ao se comungar pelo desejo da Eucaristia ou meditando-se a Paixão de Cristo crucificado. Em qualquer oração a pessoa deve começar pela vocal, passando depois à mental. Faça-o logo que sentir o espírito bem disposto. Tal maneira de agir conduzirá o orante à perfeição do amor.

Quanto mais o homem desvencilhar sua afeição e prendê-la a Mim, mais Me conhecerá, mais Me amará, mais Me experimentará.

Como vês, não é pela quantidade de palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Mim e de si mesmo, cada um desses conhecimentos completando o outro...

... Nas orações concedo consolações de diversas maneiras: uma vez será contentamento; outra vez arrependimento que agita interiormente; vezes há que Me torno presente na alma sem que ela o perceba, pois faço estar no espírito a pessoa de Meu Filho em vários modos: ora sentirá na profundidade da alma grandíssimo prazer, ora nem O perceberá, como se poderia esperar.

Sabes o que faço para tirar o homem da imperfeição? Costumo permitir- lhe pensamentos molestos e aridez espiritual, deixando-o como que abandonado por Mim, sem nenhuma consolação. A pessoa já não se sente do mundo, que de fato abandonou, nem lhe parece que está vivendo em Mim. Uma única fonte de paz lhe resta: a certeza de não querer ofender-Me.

Quanto à vontade que constitui como que a porta de entrada da alma, não permito que se abra ante os inimigos; seja os demônios como os demais adversários poderão penetrar por outros setores, mas não pela vontade, que é a porta principal da cidade da alma. Como defensor está o livre-arbítrio. Só ele pode deixar ou não que alguém passe.

As portas que dão ingresso ao interior do homem são muitas. As principais são três: a memória, a inteligência e a vontade. Delas, somente uma abre quando quer e serve de defesa para as outras, é a vontade. Com sua permissão o primeiro inimigo a entrar é o egoísmo.

Os outros vêm depois: a inteligência se obscurece; a memória dá acolhida ao ódio, e faz lembrar as ofensas recebidas e se opõe a caridade pelo próximo; a memória recorda, também, os prazeres ilícitos.

Depois de abertas essas portas, escancaram-se os portões dos sentidos, que refletem em si o amor desordenado e as más ações. O olho ocupa-se em ver coisas que não devem; por sua volubilidade, vaidade, desonestidade, capta a morte para a própria pessoa e para os demais. Óh, olho infeliz! Eu te fiz para ver o céu, as belezas da criação, Meus mistérios, e tu te fixas na lama, na baixeza, à procura da morte! O ouvido compraz-se em assuntos desonestos ou fica à espreita de notícias, a fim de se emitir julgamento, no entanto, Eu o dei ao homem, para escutar Minha palavra e tomar conhecimento das necessidades alheias. Quanto à língua, criei-a para anunciar Minha palavra, confessar as culpas e promover a salvação dos homens; mas dela serve-se a pessoa para reclamar de Mim, seu Criador, e para prejudicar o próximo. Murmura contra ele, diz que suas ações são más, blasfema, dá falso testemunho, põe em perigo a si mesmo e os demais com palavras desonestas, diz frases ofensivas que, como punhais, ferem os corações, provocando raiva. Como são numerosos os pecados - homicídios, desonestidades, rancores, ódios, perda de tempo - provocados pela língua. O olfato também peca por desordenado prazer de sentir perfumes; se for cheiro de alimento, dá origem a gula, e a insaciável procura de comida, seja pela quantidade, seja pela qualidade, a fim de satisfazer o estômago. Quem abre este portão da alma, infelizmente não percebe que a gula incentiva a sensualidade e conduz a corrupção. As mãos foram feitas para prestar serviço ao próximo e socorrê-lo com esmolas, mas são usadas para furtar e praticar ações desonestas. Os pés têm a função de conduzir o homem a lugares santos e úteis, seja para si, como para os outros, com vistas a Minha glória e louvor; no entanto são usados para ir-se a lugares escusos, onde conversas e divagações corrompem as pessoas.

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