Chico Xavier e o sincretismo religioso


03.04.2010 -

“O erro dos espíritas não consiste na pregação da caridade (nisso, pelo contrário, eles são dignos de aplauso e louvor); seu erro está em dizer que basta a caridade somente. Jesus Cristo nunca ensinou isso. Pois Jesus, o evangelista da caridade, foi também o evangelista da fé.”

- Frei Boaventura Kloppenburg
Espiritismo – orientação para católicos, VII, art. 3

Ontem, dia 2 de abril, Chico Xavier, se estivesse vivo, completaria 100 anos. Líderes espíritas do Brasil inteiro tiveram, esse ano, um motivo a mais para celebrar a morte do famoso médium brasileiro. Foi o lançamento do seu filme nos cinemas. A vida de Chico Xavier, no entanto, não comove somente praticantes da religião espírita. O nosso país, fortemente marcados por princípios de sincretismo religioso, acaba misturando, de maneira irresponsável, elementos da fé católica com aquilo que é contrário ao espírito da doutrina católica.

O G1 noticiou os comentários do Padre Júnior, sacerdote da paróquia São Judas Tadeu, de Uberaba, que disse que “[s]eja espiritismo ou catolicismo, todos nós somos cristãos e é isso que sempre vai nos unir”. Em outra parte, afirmou: “Não se pode levar em conta o distanciamento entre a filosofia do espiritismo e a do catolicismo. Ele era exemplo pelo apoio que oferecia aos mais necessitados”.

As afirmações do padre uberabense evidenciam o crescimento duma nova cultura em nossa sociedade. É a cultura da salvação [somente] pelas obras; a fé passa a ser considerada irrelevante. Esse pensamento está fortemente presente na doutrina do espiritismo kardecista: “A máxima: Fora da caridade não há salvação é a conseqüência do princípio de igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-se esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for a sua maneira de adorar o Criador, eles se dão às mãos e oram uns pelos outros.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 15, v. 8 ) Não estamos menosprezando a caridade, mas é preciso ter consciência de que o cristianismo a ensina justamente tendo em vista o maior exemplo de caridade, que é Jesus Cristo. Ele não foi um simples pacifista; não foi só uma pessoa que ajudou os pobres, os doentes e os mais necessitados. Ele também ensinou uma doutrina, doutrina essa que precisa ser respeitada. Ele também pregou uma fé e nos deixou valiosíssimos preceitos, que não podem ser considerados irrelevantes.

O Papa Paulo VI diz que “[n]ão minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas” (Humanae Vitae, n. 29). Verdade que precisa ser constantemente repetida para os católicos do nosso país. Não temos dúvida de que é preciso observar os preceitos da caridade nas suas mais diversas manifestações filantrópicas; mas há algo que é muito mais importante que isso. “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 16). Então, é claro que o distanciamento entre a filosofia cristã e a filosofia espírita é importante.

Vamos a um exemplo bem claro, cerne da mensagem cristã: Cristo morreu por nossos pecados. “Fomos curados graças às suas chagas” (Is 53, 5); “Vós sabeis que não é por bens perecíveis (…) que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver (…), mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum” (1 Pd 1, 18-19); “Ele mesmo é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2, 2); “Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu filho” (Rm 5, 10). Mas, o que diz o espiritismo sobre isso? Que “a missão de Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade”. E mais: “[o] sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém” (cf. Leão Denis, Cristianismo e Espiritismo, p. 88).

Se a redenção de Cristo não é importante, então o que é? Por essas e outras tantas contradições existentes entre o espiritismo de Allan Kardec e o cristianismo pregado por Nosso Senhor, a religião espírita não pode ser chamada de cristã. Isso primeiro abriria uma porta para a existência de um “falso ecumenismo”, que denunciei há alguns dias aqui no blog. “[É] preciso evitar não só o sincretismo, mas inclusive qualquer aparência de sincretismo que é totalmente contrário ao verdadeiro ecumenismo” (Papa João Paulo II, discurso Ad Limina Apostolorum aos bispos do Brasil, 1990). Além disso, a tentação de fazer da Igreja uma simples instituição filantrópica não é e não pode ser aprovada, pois sabemos que a Igreja é muito mais que isso; ela representa um Magistério, uma fé, que não pode ser de modo algum menosprezada.

E esse sincretismo, que sempre foi condenado pela Santa Sé, realmente existe, conforme bem observou uma edição de março do Globo Repórter, que homenageava Chico Xavier.

A piedade popular infelizmente “canonizou” Chico Xavier. Reconhecemos nele uma pessoa que praticou vários atos filantrópicos importantes e também uma pessoa que, em vida, foi um exemplo de humildade. O perigo está em extrapolar os limites do bom senso, atitude irresponsável que provoca confusões na mente do povo brasileiro.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

* * *

Leia mais: A mensagem de Cristo e o espiritismo, do arquivo do nosso blog.

Leia também: o livro “Espiritismo – orientação para católicos”, do Frei Boaventura Kloppenburg, disponível para download no site São Pio V.

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com

------------------------------------------------------------------------------

Leia: Uberaba MG: Padre exalta figura de Chico Xavier e o espiritismo

 


Rainha Maria - Todos os direitos reservados
É autorizada a divulgação de matérias desde que seja informada a fonte.
https://www.rainhamaria.com.br

PluGzOne