O ressurgimento da moral pagã


21.04.2010 - Orientações filosóficas

No entanto, mais destruidora que a guerra material é a guerra espiritual: o conflito de ideologias. O comunismo, mística religiosa da matéria, ateísmo absoluto, negação de todo valor espiritual, está dominando uma imensa região da Europa e, dali, penetra em todos os países, inclusive o nosso [Chile] (…). No México e na Espanha, enquanto teve influência na vida pública, proibiu a religião, assassinou sacerdotes, incendiou as igrejas, tornou ateu o ensino. No México iniciou-se uma campanha sistemática para perverter os costumes; a educação sexual mais descarada foi introduzida em todas as escolas de maneira horrivelmente realista1.

As teorias filosóficas que professam o racismo e os sistemas totalitários autênticos, que aparentam apresentar maior cultura e sabedoria ocidental, encerram uma ideia tão pagã e materialista como o comunismo; naquelas, porém, o veneno está escondido por trás de vocabulários tradicionais, que expressam, apesar das aparências, conceitos totalmente diferentes dos da filosofia cristã. Uma filosofia que visa justificar o triunfo de uma raça determinada, baseando-se na negação de uma ideia ética que possa constituir um perigo a ela, é fundamentalmente anticristã. Desconhece o valor do espírito, da dignidade da pessoa humana, do valor absoluto da religião e da lei moral, fundada na existência de um Deus transcendente. Logicamente, essas filosofias justificam a esterilização e todos os meios que tendam a assegurar o predomínio da raça. Em alguns lugares chegou-se aos excessos de uma política racial poligâmica? É improvável, mas a aplicação dos princípios racistas pode conduzir a isso. Por isso o Sumo Pontífice tem elevado sua voz contra a concepção moderna e pagã de Estado, e a Congregação dos Seminários tem condenado as principais proposições da filosofia racista.

O fundo geral da filosofia moderna é o materialismo agnóstico, o pragmatismo ou utilitarismo e o relativismo. Suas teses fundamentais são a negação dos valores espirituais, a incapacidade da mente para alcançar uma verdade que não seja de experiência imediata; o critério de utilidade como norma de verdade em tal forma que chegam a afirmar que algo é verdadeiro se é útil, que a verdade é variável e relativa segundo as satisfações que dá. Esses são os conceitos com que filósofos americanos desde James a Dewey vêm formando a mentalidade da geração moderna.

Ressurgimento da moral pagã

Esse materialismo agnóstico, unido ao pessimismo que tem pesado sobre o mundo nos últimos 20 anos, têm sido os grandes responsáveis da perda gradual dos costumes. Os jovens europeus tinham crescido com a convicção que iam servir de isca em uma guerra em que ninguém poderia atacar; e nisso tinham razão. Nessa situação, tendo-se perdido os valores que deram um sentido ao sacrifício, não restavam outros caminhos a não ser o abrir das comportas do prazer e o dar-se à vida fácil, que depreciavam os chamados “prejuízos da moral e da religião”.

Nesse ponto se tem chegado a extremos inauditos na Europa e na América do Norte, onde é ostentada a impureza mais repugnante, em representações teatrais e em espetáculos grosseiros, que haviam ofendido até os tempos do paganismo romano. A queda da natalidade em alguns países é alarmante.

Flagrante manifestação de tomar o gozo e suprimir o dever. Disso tem se queixado recentemente o Marechal Pétain, atribuindo a derrota francesa à ânsia por diversão, vida fácil e prazer. O número de divórcios é alarmante. Na Alemanha, há 60 anos atrás, em 100 mil matrimônios, havia anualmente 80 divórcios; há 30 anos, 133; há 15, 178. Em 1925, havia, pois, 36.450 divórcios ao ano, número que deve ter crescido enormemente esses últimos anos. Na França, em alguns anos, o número de divórcios chegou a 32 mil2.

O número de abortos declarados é preocupante. Esse crime de homicídio, tão real como qualquer outro homicídio, se comete centenas de milhares de vezes cada ano por pais desnaturados que não se horrorizam com a monstruosidade desse ato. O Dr. Clement3 estima que na Alemanha o número de abortos ao ano chegue a 1 milhão, de maneira que pode se admitir que a metade dos seres a caminho da vida não nasce por causa dos crimes de seus pais. Essa proposição pavorosa se repete em outros países. No Chile, segundo cálculos de médicos que conhecem o problema, se estimam 50 mil abortos anuais.

Todos os moralistas saudáveis se queixam amargamente do relaxamento dos costumes e pedem uma reforma séria, pois não querem ver perecer a sociedade. Alexis Carrel, em um artigo, resume assim a mentalidade moral contemporânea: “Tudo tem sido muito fácil para a maioria de nós. Todo vivente sempre ambicionou uma existência de fim de semana inglesa; umas férias de quinta a segunda, com um mínimo de esforço e o máximo de prazer. As diversões têm sido a aspiração nacional; ter uma vida boa, nossa principal preocupação. A vida perfeita como a entendem os jovens e os adultos, é uma sucessão de diversões: filmes, programas de rádio, festas e excessos alcoólicos e eróticos. Esse sistema de vida indolente e indisciplinado tem esgotado nosso vigor individual… Nosso povo precisa com urgência de novos modelos de disciplina, moralidade e inteligência. No século XII os estudantes caminhavam mais de 150 quilômetros para escutar uma conferência de Abelardo. Hoje em dia, os jovens se sentam na poltrona para assistir a um filme idiota ou buscam o estímulo degradante do baile ao som de uma orquestra radiofônica. (…) É uma coisa que consterna”4.

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1. A revista argentina Criterio, 25 de janeiro de 1941, se refere a uma campanha desmoralizadora no México. Afirma com documentos “que as escolas secundárias, salvo poucas exceções, não se tornaram outra coisa senão centros de perversão para os jovens de ambos os sexos”. A educação sexual se pratica com todo tipo de detalhes diante de meninos e meninas, juntos. Em certa escola, a diretora descobriu que todas suas alunas, jovens de 15 a 20 anos, tinham cartões de saúde [tarjetas de salubridad] para exercer clandestinamente a prostituição. Um diário mexicano, no seu editorial, afirma: “No Hospital de Morelos, qualquer um pode se convencer de uma realidade extremamente dolorosa: a maior parte dos asilados são adolescentes.”

2. A crise do Matrimônio [La Crise Du Mariage], pág. 146, Association du Mariage Chrétien. Paris, 1932.

3. Contra a Aparição da Vida [Contra la Aparición de la Vida], pág. 114. Barcelona, 1936.

4. Seleções [Selecciones], dezembro de 1940, pág. 1.

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Texto extraído do livro

¿Es Chile un país católico?

, de Santo Alberto Hurtado Cruchaga, S.J., e traduzido pelo autor deste sítio.

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com


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