Artigo de Ian Farias: Celibato: amor sem limites


Adicionado ao  www.rainhamaria.com.br  em 10.08.2010 -

Foi-me dada para leitura uma reportagem da revista Aventuras na História, Edição 85, deste mês de agosto, o tema proposto era: A Igreja e o Sexo. Em primeiro momento pensei que seria sobre a questão da defesa da Igreja nos valores morais e as propostas inaceitáveis que a sociedade hodierna apresenta-nos, mesmo que, como sabemos, o seguimento a Cristo, para muitos é inaceitável e radical; no entanto, o que se deu foi um verdadeiro “bombardeio” contra a nossa Santa Mãe Igreja e contra os Papas. Não escrevo para cobrir erros dos Papas. Sabemos que alguns levaram uma vida devassa, entregue às paixões deste mundo. Mas alguns! Porque a grande maioria deu testemunho de vida santa, radicada unicamente em Jesus Cristo e nos seus ensinamentos. A mídia não recorda Papas como Pedro, Pio X, Pio V, João XXIII, João I, Cornélio, e mesmo em nossos tempos atuais João Paulo II, João Paulo I, Pio XII, que salvou de 700.000 a 850.000 judeus da morte certa, no regime nazista. E tantos outros que se doaram totalmente à concretização do Reino de Deus, prefigurado já neste mundo pela Igreja.

Porém o objetivo não é “fazer justiça” e mostrar à humanidade os erros de alguns filhos da Igreja; o objetivo verdadeiro, que se esconde nesta farsa, é atacar a invencível Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que Ele resgatou com seu sangue (cf. At 20, 28) para que nela os homens encontrassem o verdadeiro caminho da salvação. Mas estes, que o fazem, não sabem (ou ignoram) a promessa do Seu Fundador: “Et porta inferi non prevalebunt – E nem as portas do inferno prevalecerão contra ela” (Mt. 16,18).

Mas retornando ao tema do celibato, vemos que esta preciosidade, à qual são chamados os sacerdotes, muitas vezes é interpretado de maneira precipitada. Quantos acham que o celibato é uma renúncia ao amor? Quantos vêem os padres como criaturas que não amam? Que são chamados a uma vida afastada, por assim dizer, do mundo e das pessoas. Tal interpretação é totalmente errônea, e tentarei provar o por quê.

Em primeiro lugar muitos, se perguntam: o por que de os padres não podem casar-se? “São Pedro foi Papa e se casou”, afirmam muitos categoricamente. Para começar desejo valer-me da diferença entre celibato e castidade. Poderíamos conjecturar que a castidade é o mesmo que celibato mas, na verdade, são diferenciais. Alguém que guarda o celibato, já pode ter sido casado. Outro que vive a castidade, deveras, nunca pode ter sido casado, exceto se, como a Virgem Maria, vivesse a castidade dentro do casamento.

São Pedro poderia ser viúvo. Não basta apenas afirmarmos que ele tinha uma sogra; isso seria argumento sem fundamento. De qualquer forma, estando viva ou não a sua esposa,  ele deixou tudo para seguir o Mestre. Prova disto é sua afirmação: “Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?” Ao que Jesus respondeu-lhe: “Todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 27.29).

O Papa Paulo VI afirmou: “O celibato sacerdotal, que a Igreja guarda desde há séculos como brilhante pedra preciosa, conserva todo o seu valor mesmo nos nossos tempos, caracterizados por transformação profunda na mentalidade e nas estruturas” (Carta Encíclica Sacerdotalis Caelibatus, nº 01).

Bem nos recorda este Servo de Deus que hoje em dia, em todo o âmbito social, somos confrontados com uma mudança de mentalidade que deseja apoderar-se também da Igreja, e aos poucos essas ideologias anti-evangélicas atingem membros, mesmo do clero, que desejam aplicar esses pensamentos também na Igreja. Essa invasão foi muito bem esclarecida pelo mesmo Papa, ao dizer que: “Por alguma brecha a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus: existe a dúvida, a incerteza, a problemática, a inquietação, o confronto. Não se tem mais confiança na Igreja; põe-se confiança no primeiro profeta profano que nos vem falar em algum jornal ou em algum movimento social, para recorrer a ele pedindo-lhe se ele tem a fórmula da verdadeira vida. E não advertimos, em vez disso, sermos nós os donos e os mestres. Entrou a dúvida nas nossas consciências, e entrou pelas janelas que deviam em vez disso, serem abertas à luz…” (Discurso em 29 de Junho de 1972)

Reconheçamos que, de alguma forma, se a Igreja hoje está infestada de pensamentos nefastos, isto se dá porque alguns de seus membros foram contaminados com os pensamentos de um mundo moderno, que apresenta uma forma de vida fácil; um mundo onde o consumismo, a ditadura do relativismo e a autossuficiência caminham lado a lado.

O Catecismo da Igreja Católica assim nos diz:

“Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes, normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem como celibatários e querem guardar o celibato ‘por causa do Reino dos Céus’ (Mt 19,12). Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a ‘cuidar das coisas do Senhor’, entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de modo radiante o Reino de Deus” (§1579).

Os padres não são menos felizes ou amam menos por guardarem o celibato. Aí é que está a grande beleza disto: Quem mais ama são os padres. Quem mais doa-se e  vive radicalmente esta doação, são os sacerdotes. De uma grande multidão eles são pais. Por uma grande multidão eles se desgastam. Não pensam mais em si, mas apenas no próximo.

“A verdadeira e profunda razão do celibato é, como já dissemos, a escolha duma relação pessoal mais íntima e completa com o mistério de Cristo e da Igreja, em prol da humanidade inteira. Nesta escolha há lugar, sem dúvida, para a expressão dos valores supremos e humanos no grau mais elevado” (Carta Encíclica Sacerdotalis Caelibatus, nº 54).

A vocação para o sacerdócio exige também que haja vocação para o celibato. Deus, em sua divina sabedoria, quis que assim se fizesse. Por ventura nosso bondoso Pai daria uma vocação ao sacerdócio sem que a dê também para o celibato? O verdadeiro chamado de Deus para o sacerdócio requer que renunciemos a uma família, para que possamos abraçar uma multidão. Que grande dom! De Deus provém e para Deus se destina. Quem não tem vocação para o celibato, logo também não tem vocação para o sacerdócio; tê-la-á para o matrimônio, ou para a castidade, pois há outros meios [e muitos!] de servir santamente a Deus. Por exemplo: Não posso ser professor se tenho vergonha de falar em público. Posso conhecer tudo, mas a minha vergonha me impede de dirigir-me aos meus alunos.

O verdadeiro vínculo nupcial do sacerdote é com a Igreja. Feliz dos sacerdotes, pois deixam de contrair vínculo matrimonial com alguma mulher para se tornarem o próprio Cristo em cada Missa, em cada confissão, em cada celebração onde se faz presente.

Bem dizia São João Maria Vianney: “Quando um cristão avista um padre deve pensar em Nosso Senhor Jesus Cristo”. E ainda: “Se a Igreja não tivesse o sacramento da ordem, não teríamos entre nós Jesus Cristo”.

É interessante que em uma sociedade onde se clama por leis de divórcio e de projetos que se erguem contra os direitos da família, muitos estejam a gritar por casamento dos sacerdotes. É um visível paradoxo, uma verdadeira hipocrisia.

Quanto aos casos de pedofilia vale recordar as palavras do Cardeal Tarcísio Bertone, secretário de estado do Vaticano:Não há uma relação direta entre o celibato e a conduta desviada de alguns sacerdotes… Pelo contrário: é justamente a inobservância do celibato o que produz uma progressiva degradação da vida do sacerdote, que deixa de ser um exemplo, um dom, um guia espiritual para os demais… Está mais que demonstrado que o celibato, observado fielmente, é um grande valor para a missão sacerdotal e para a ajuda do Povo de Deus”.

Apenas 0,44% do clero estão envolvidos com possíveis casos de pedofilia. Philips Jenkins, em sua obra Pedophiles and Priests: Anatomy of a Contemporany Crisis (Pedófilos e Padres: Anatômia de uma crise contemporânea), atesta que: “Comparando-se a Igreja Católica dos EUA com as principais denominações protestantes, descobre-se que a presença de pedófilos é de duas a dez vezes mais alta entre pastores protestantes do que entre padres católicos. O problema não é o celibato, no caso, a maior parte dos pastores protestantes é casada”.

As atitudes louváveis do Papa Bento XVI mediante as descobertas destes infelizes sacerdotes que trairam seu ministérios, têm mostrado que a Igreja não silencia mediante as injustiças, mas age, pois também ela impõe a espada da justiça. E não queiramos genaralizar. Como provei: a maioria dos sacerdotes tem uma vida santa e honram seu ministério!

Peçamos que, por intercessão de São João Maria Vianney e da Santíssima Virgem Maria, possamos compreender o inestimável valor do celibato.

Ut in omnibus glorificetur Deus!

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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