Como é ser cristão na Coréia do Norte, o país que mais persegue a fé cristã


13.01.2011 - Seria necessário criar uma nova linguagem para traduzir em palavras as crueldades do regime norte-coreano. Em nenhum outro país a perseguição aos cristãos é tão severa. Dezenas de milhares de pessoas vivem e (no final das contas) morrem em campos de concentração. Mesmo a posse de uma Bíblia é motivo suficiente para ser morto ou preso junto com sua família para o resto de sua vida.

Imagine um país onde o Estado decide onde você mora, que profissão escolher, qual esporte você pratica, o alimento que você come e se você come. Imagine um país sem nenhuma cor na roupa das pessoas e nas edificações, exceto para as imagens de propaganda que decoram apartamentos de concreto, casas e monumentos.

Imagine um país onde o Grande Líder morto há 16 anos, mas ainda é presidente e seus seguidores famintos devem adorá-lo como um deus. Esta é a realidade sombria da Coreia do Norte.

Este país comunista ocupa o primeiro lugar na Classificação de países por perseguição 2011 da Portas Abertas. Ele é o primeiro há nove anos. Por décadas, ninguém sabia exatamente como a Igreja estava depois da Guerra da Coreia. Nos anos noventa, a Portas Abertas encontrou uma maneira de manter contato com os cristãos clandestinos e descobriu que a Igreja estava muito viva. Mas também estava ferida, sangrando. Cooperadores da Portas Abertas esclareceram os planos extraordinários que o Estado fazia para caçar, capturar e até matar os cristãos.

Na Classificação, a Coreia do Norte teve quase a pontuação máxima do relatório de pesquisa (90,5 de 100 pontos possíveis). A única razão pela qual a Coreia do Norte não obtém a pontuação máxima é por causa de sua constituição. Oficialmente há liberdade religiosa na Coreia do Norte. Na prática, os civis não têm quaisquer direitos. A atitude do Estado em relação aos cristãos é extremamente hostil: eles não deveriam sequer existir. Não há liberdade para construir igrejas ou casas de culto. A posse de material cristão é ilegal e punível com a morte.
Abominável campo de trabalho

Em maio de 2010, um grupo de 23 cristãos foi descoberto. A polícia encontrou Bíblias e outros impressos cristãos. Três pessoas foram publicamente executadas, e as outras desapareceram dentro do terrível campo de Yodok.

Este vasto campo de trabalho está na província do sul de Hamkyung, e sua localização nas montanhas torna a fuga quase impossível. Nos lugares onde um prisioneiro poderia ter uma chance de escapar, altas cercas com arame farpado foram erguidas. Algumas seções são eletrificadas. Além disso, existem campos minados e outras armadilhas mortais.

A cada dois quilômetros há uma torre de vigia de sete metros de altura. Qualquer tentativa de fuga é frustrada. “Os presos são tratados pior do que gado. Eu vi pessoas morrendo de fome e de doença. Eu vi as execuções. Os que estão vivos parecem fantasmas ambulantes. Tivemos nossas identidades tiradas. Todo o sistema me fez entrar em desespero”, diz um ex-prisioneiro.

Centenas de cristãos foram presos em 2010 e vários foram interpostos à morte. A Portas Abertas não pode revelar quaisquer detalhes sobre estes casos, porque isso aumentaria os riscos dos cristãos presos que ainda estão vivos. Estima-se que entre 50.000 e 70.000 cristãos sofrem nos campos. Lá é o único lugar onde eles têm algum valor para a “República Popular Democrática da Coreia”.
Exposição dos cristãos

A Coreia do Norte faz tudo que está ao seu alcance para expor os cristãos. As crianças são um instrumento importante para descobrir a atividade cristã secreta. Seus professores os instruem na escola a investigar se os pais leem um livro preto. A Portas Abertas conversou com as crianças, que disseram ao professor que seus pais e mães de fato liam um livro assim. Eles foram elogiados por sua contribuição à pátria. Orgulhosas, as crianças voltaram para casa, apenas para encontrá-la vazia. Seus pais tinham sido levados, e elas foram condenadas a uma vida amarga e difícil nas ruas.

Outra forma de expor o “negócio criminoso” é através das sessões semanais de críticas, em que as crianças e os adultos têm de participar. Os norte-coreanos devem relatar o próprio mau comportamento e o de outras pessoas. “Nós todos nos sentimos muito mal e culpados por ter de dizer essas coisas uns dos outros”, diz o refugiado Park Joo-Chan. “Mas não tínhamos escolha. E isso ainda causou uma ruptura em nossa amizade. Alguns relacionamentos foram quebrados para sempre. Mesmo com o sistema tão destrutivo, não tínhamos dúvida da sua utilidade. Esta foi a nossa forma de vida.”

Além disso, existem as buscas aleatórias nos lares para detectar se as pessoas estão ouvindo as rádios corretas, se os retratos dos líderes são mantidos limpos e se há alguma literatura proibida na casa ou apartamento. Provavelmente em nenhum outro lugar do mundo tantas Bíblias são escondidas no subsolo. A Palavra de Deus coberta de sujeira. Ela faz os cristãos se sentirem culpados, mas que escolha eles têm?
Escolhidos

É verdade que toda a população da Coreia do Norte está sofrendo, mas os cristãos são, definitivamente, escolhidos. “Como muitas outras pessoas da Coreia do Norte, eu fugi para a China. Lá eu fui preso e enviado de volta de trem,” diz o refugiado Han-me. “Alguns outros desertores haviam sido presos antes e o que eles me disseram: ‘Quando você é interrogado, há duas perguntas que nunca deve responder com ‘sim’. A primeira é: você já esteve em contato com os cristãos? A segunda é: você já leu a Bíblia?’ se tornou verdade.

Os investigadores na prisão me amarraram a uma cadeira e me agrediram com correntes e um bastão de madeira embrulhado em um jornal. Eles me pressionaram para confessar se tinha contato com os cristãos. Eu lhes disse que não tinha encontrado nenhum cristão enquanto estava na China. Era mentira, mas eu queria sobreviver. Era o máximo que eu podia pensar. Até então eu não acreditava em Deus, mas orava para ser resgatado. Minha oração foi ouvida.”
Alvo

Mas por que os cristãos são os alvos? Existem várias razões. Um ex-funcionário do atual líder Kim Jong-Il afirmou que o “Querido Líder” assistiu na televisão como seu amigo Nicolae Ceausescu foi executado. Segundo o funcionário, Kim Jong-Il culpou os cristãos pela queda do presidente romeno e o colapso do bloco leste.

No entanto, para compreender plenamente a perseguição aos cristãos precisa-se entender a mentalidade norte-coreana. O “paraíso” foi instalado com Kim Il-Sung como o líder do povo coreano. Ele libertou seu país da ocupação japonesa e o transformou no primeiro “verdadeiro paraíso na terra”. Após a Guerra da Coreia na década de cinquenta, Deus foi declarado morto. Seus seguidores foram mortos, enviados para campos de trabalho ou expulsos para regiões remotas e hostis. Muitos foram para a clandestinidade. O status de Kim Il-Sung foi aumentado até o de um deus. Sob a direção do Grande Líder, o Estado tomou o controle sobre cada aspecto da vida na sociedade.

Mas o campo mais difícil a ser vencido está na mente. Muitos norte-coreanos amam Kim ll-Sung. Eles, literalmente, o adoram. Os cristãos são diferentes. Podem exercer suas funções locais, mas adoram a Jesus Cristo. Sua mente não é preenchida com a ideologia de autossuficiência da Coreia do Norte. Eles cuidam dos doentes, dos órfãos e famintos quando ninguém mais o faz. Esses atos criminosos de “amar ao próximo” – de “não se encaixar [nos padrões norte-coreanos]“- os tornam inimigos políticos.

Os cristãos também são um alvo porque o cristianismo é a religião dos inimigos da Coreia do Norte: os Estados Unidos e a Coreia do Sul. As redes cristãs são vistas como tentativas de minar o Estado.

Por isso o trabalho com a Igreja Perseguida na Coreia do Norte é tão arriscado. A distribuição de Bíblias, os treinamentos, o trabalho para os refugiados na China e até mesmo a ajuda com entrega de alimentos são realizadas em profundo segredo. “Seu amor e contínuo apoio nos ajudam a sobreviver”, diz um líder da Igreja clandestina à Portas Abertas.

Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/

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