O que não foi dito do caso da Ordem de Malta: Vingança, dinheiro, poder, a Maçonaria, o Papa Francisco e Cardeal Burke


27.01.2017 -

Não faltam todos os ingredientes necessários para a criação de um roteiro para um filme de Hollywood: vinganças pessoais, dinheiro, poder, laços familiares, o Banco do Vaticano (IOR), a Maçonaria, a questão dos preservativos, o Papa Francisco… e, claro, o Cardeal Burke

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CATHOLICVS – 26/01/2017 | Tradução Sensus Fidei:

Estão sendo reveladas novas informações sobre o caso da Ordem de Malta e a estranha demissão de seu Grão-Mestre, a pedido do Papa Francisco, pelo que não faltam todos os ingredientes necessários para a criação de um roteiro para um filme de Hollywood: vinganças pessoais, dinheiro, poder, laços familiares, o Banco do Vaticano (IOR), a Maçonaria, a questão dos preservativos, o Papa Francisco… e, claro, o Cardeal Burke.

Na última quarta-feira 25 de janeiro, o Papa Francisco forçou a demitir aceitou a renúncia do Grão-Mestre da Soberana Ordem Militar e Hospitalários de S. João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, mais conhecida como Ordem de Malta, Fra ‘Matthew Festing ( veja aqui). Além disso, a Santa Sé informou que um delegado papal será nomeado em breve para a substituição, terminando assim dois meses de conflito entre a Ordem e o Vaticano.

O que realmente aconteceu para que ocorresse esta renúncia?

O Grão-Mestre da Soberana Ordem de Malta, Fra Matthew Festing, reuniu-se com o Papa Francisco na terça-feira, 24 de janeiro, no curso da qual foi obrigado foi instado a “renunciar” — de acordo com a própria declaração oficial da Santa Sé —, renúncia que seria aceita pelo Papa Francis no dia seguinte, 25 de janeiro, “para o bem da Ordem e da Igreja”.

Com este misericordioso gesto para forçá-lo a renunciar aceitar sua renúncia — mesmo sem esperar sequer pelos resultados da investigação que seria realizada pela ilegal comissão papal não aceita pela própria Ordem —, se põe fim a dois meses de tensões entre a Ordem e a Santa Sé, desde que o Grão-Mestre foi deposto, em 6 de dezembro, o seu “número três”: o barão alemão Albrecht von Boeselager (no canto inferior direito da foto que abre este post), até este momento Grande Chanceler da Ordem. Duas semanas depois, em 22 de dezembro, a Santa Sé nomeou uma comissão para investigar as razões para a destituição, motivo pelo qual a Ordem de Malta denunciou a interferência da Santa Sé, lembrando-lhe que é “soberana”. Portanto, a própria Ordem ordenou uma investigação sobre os membros de tal comissão, por causa de um possível “conflito de interesses” com vários deles, que os desautorizava a fazer o seu trabalho.

Ontem mesmo, a Ordem de Malta emitiu um comunicado anunciando a convocação para um Conselho extraordinário para o próximo sábado 28 de janeiro, no qual se deverá aceitar a renúncia do Grão-Mestre, conforme estabelecido pela sua legislação.

O papel do Cardeal Burke neste caso

Na quinta-feira 10 de novembro de 2016, o Papa Francisco se reuniu com S. E. R. Raymond Leo S.R.E. Cardeal Burke, Patrono da Ordem de Malta — legado papal ante a mesma — e um dos quatro cardeais que apresentaram as dubia sobre “Amoris laetitia” ao Papa. Durante a audiência privada, o Papa Francisco expressou sua “profunda preocupação” comunicando ao cardeal, a saber, a questão sobre a distribuição de preservativos pela Ordem de Malta em suas missões humanitárias na África. A imprensa foi ao ar depois de casos semelhantes que datam dos anos 90 do século passado — como nos campos de refugiados da Alemanha — ou no caso da Birmânia em 2005. As distribuições de preservativos e contraceptivos foram realizadas pela Malteser International, uma ONG dependente da Ordem, de modo que a responsabilidade recaía sobre o então Grão Hospitalário da Ordem: o barão Albrecht von Boeselager.

O que mais chama atenção sobre este encontro entre o Papa Francisco e o Cardeal Burke veio em seguida: o Papa pediu-lhe para “limpar” a Ordem dos maçons. O próprio Francisco enviou uma carta ao Cardeal Burke, datada de quinta-feira 01 de dezembro de 2016 e nunca tornada pública, na qual ele insistia que era sua responsabilidade, como Patrono da Ordem de Malta, acabar com qualquer vínculo entre a Ordem e grupos ou práticas contrárias à lei moral. Cinco dias depois, na terça-feira, 6 de dezembro, o barão Albrecht von Boeselager compareceu diante do Grande Mestre e do Cardeal Burke, e, como resultado dessa reunião, foi destituído.

Mas quando as coisas podem se complicar mais, complicam-se mais: após esta destituição, ninguém menos que o Cardeal Pietro Parolin, o Secretário de Estado, declarou que a Santa Sé nunca havia especificamente pedido a destituição do Grande Chanceler. Ver para crer!

Hoje mesmo, Edward Pentin revelou que o Papa Francisco obrigou o Grão-Mestre, durante a sua reunião de anteontem, a incluir em sua carta de renúncia que destituiu Boeselager “sob a influência” do Cardeal Raymond Leo Burke, Patrono da Ordem.

E a coisa não para aqui: a renúncia surpresa do Grão-Mestre, Fra Matthew Festing, ocorreu ontem, quarta-feira, 25 de janeiro, dez dias antes da nomeação, pelo Papa Francisco, do irmão do barão Albrecht von Boeselager como membro do Conselho de admninistração do “Instituto para as Obras de Religião” (IOR), também conhecido como o Banco do Vaticano.

Por que o Grão-Mestre apresentou agora sua renúncia depois de ter resistido durante os últimos dois meses na intromissão da Santa Sé em assuntos internos da Soberana Ordem de Malta?

A Ordem é sujeito de Direito Internacional, sendo reconhecida sua soberania funcional — desde que não tem território —-e sua liberdade de governo por uma centena de países, incluindo a Santa Sé. Seu governo é regido por um Estatuto aprovado em 1961 e por um Código.

Por que, então, a Santa Sé e, especificamente, o Papa Francisco, interveio nesta questão se se reconhece a soberania da Ordem? A chave está na figura do Grão-Mestre. O Presidente é eleito entre os Cavaleiros professos da Ordem, que são religiosos, e como o artigo 62 do Código da Ordem estabelece que “pelo voto de obediência dos Cavaleiros e Capelães professos estão comprometidos a obedecer o Santo Padre”, o Grão-Mestre — seja ele quem for — sendo um Cavaleiro professo, apesar de ser independente da Santa Sé no que refere ao governo da Ordem, deve, contudo, submeter-se à vontade do Papa — seja ele quem for— que embora não tenha poder algum de relevar de suas funções ao Grão-Mestre, tem a opção de exigir a sua renúncia, como foi o caso. A consequência é óbvia: pelo voto de obediência, o Grão-Mestre não pode negar-se a apresentar sua renúncia se o Papa assim o exige.

O futuro delegado papal

De acordo com o comunicado divulgado ontem pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa Francisco nomeará um delegado papal para assegurar o governo da Ordem de Malta, mas não especifica quais as suas funções e poderes concretos atribuídos, o que poderá ser especificado em um próximo decreto.

Nos últimos anos foram nomeados delegados papais em duas ocasiões durante o Pontificado de S. S. Bento XVI, em 2010, para os Legionários de Cristo; e já sob o mandato do Papa Francisco em 2013, contra para os Franciscanos da Imaculada, outorgando a estes delegados, em ambas as ocasiões, plenos poderes de governo e obrigando a submeter à sua autoridade os superiores de ambas as congregações.

Recorde-se que um delegado pontifício apenas responde ao soberano Pontífice, de modo que quem for nomeado para a Ordem de Malta estará acima do Cardeal Burke, atualmente encarregado das relações entre a Santa Sé e a Ordem. Ora, eles estão indo além dos limites; como se não existissem.

Os problemas entre o Papa Francisco e a Ordem de Malta não vêm de agora

Esta não é a primeira vez que ocorre uma guerra entre Francisco e esta Ordem. Há quase uma década, em 2008, os responsáveis da Ordem de Malta na Argentina tinham planejado remover de seu cargo de arcebispo de Buenos Aires o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, para que fosse substituído por um capelão da Ordem: S. E. Mons. Oscar Sarlinga, bispo de Zárate-Campana, de modo a tentar desbloquear as tensas relações que existiam na época entre Bergoglio e o governo dos Kirchner — Cristina Fernández de Kirchner era a presidente da Argentina naquele momento. Finalmente, este plano fracassou, em parte devido a S. S. Bento XVI. Mas muitas pessoas poderão se perguntar quanto haverá de pessoal, hoje, em todo este assunto da Ordem de Malta, levando em conta a boa memória que sempre teve o Papa Francisco, segundo asseguram todos os que o conhecem pessoalmente.

Membros e atividades da Ordem de Malta hoje

Para finalizar, cabe assinalar que a Ordem de Malta se viu reduzida em seus territórios ao longo da história até que no ano de 1834 estabeleceu sua sede em Roma, onde goza de um estatuto de extraterritorialidade. Hoje tem 13.500 membros — não necessariamente nobres — 25.000 profissionais de saúde e 100.000 voluntários, com presença em 120 países. Atualmente sua atividade centra-se na assistência humanitária, sendo a próxima reunião da Ordem a celebração, juntamente com outras associações, do Dia Mundial da Luta contra a Lepra, a ser realizada no próximo dia 29, o último domingo de janeiro.

Que cada um ligue os pontos. Como disse Nosso Senhor no Evangelho: “Aquele que tem ouvidos, ouça.”

Fonte: www.sensusfidei.com.br  via  www.rainhamaria.com.br

 

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