Pais fazem peregrinação por hospitais e crianças agonizam no atendimento médico


22.04.2013 - A grande espera nos prontos-socorros infantis de São Paulo transformou a busca dos pais por atendimento em uma peregrinação

Com o filho de três anos com febre, o engenheiro de telecomunicações Marcelo Ribeiro, 46, chegou às 19h20 da última quinta ao Sabará, na região central da cidade.

Ao ouvirem que a espera seria de cerca de três horas, desistiram. Foram, então, ao hospital São Camilo da Pompeia (zona oeste), onde chegaram às 20h12. O médico atendeu a criança às 21h45.

"O pessoal está fazendo pingue-pongue", afirmou ele.

Na mesma noite, a comunicadora Maira Lira, 28, chegou às 20h40 ao Samaritano (região central), onde foi informada que o atendimento a seu filho de dois anos demoraria.

Decidiu não ficar e procurou o Sabará, onde às 21h foi informada que a espera seria de quatro horas, segundo ela.

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Ela desistiu e foi para o São Camilo. Lá, o menino foi atendido em 40 minutos porque o caso (febre alta e dor de garganta) foi considerado mais urgente e passou na frente.

Há pais que evitam o horário da noite e da madrugada, que costumam ser mais tumultuados. Outros adotaram o costume de ligar para os hospitais antes de sair de casa, para avaliar qual deles têm o menor tempo de espera.

Segundo o Sabará, por onde chegam a passar 30 crianças em uma hora, a procura no pronto-socorro costuma aumentar por volta das 16h e piora entre as 21h e as 22h.

Nos finais de semana, a "hora do rush" do atendimento infantil costuma ser entre as 14h e as 15h.
 

Longa espera também vira rotina para crianças em hospitais particulares de SP

Recepções lotadas, pacientes irritados, longas esperas. Cenas comuns na rede pública de saúde se tornaram também rotina nos prontos-socorros infantis dos hospitais privados de São Paulo.

Em horários de pico, crianças esperam em média duas horas pela consulta com um pediatra, constatou a Folha numa ronda feita nas principais unidades que têm esse serviço na semana passada.

No Santa Catarina, segundo funcionários, a espera chegava a seis horas na terça. E conseguir atendimento não quer dizer que a espera acabará. Se precisar de internação, a criança pode demorar até três dias para obter uma vaga, relatou um funcionário da unidade Morumbi do hospital São Luiz.

Talita Barreto, 32, passou pelas duas situações. Já teve que esperar uma hora e meia com seu filho Davi, 7, no pronto-socorro do Hospital São Camilo, na Pompeia.
No início do mês, com grave pneumonia, Davi aguardou 12 horas por uma vaga na UTI do mesmo hospital, diz ela.

Entre quarta e sexta, a reportagem foi a 11 dos principais hospitais da cidade com pronto-socorro infantil. A espera média era de duas horas (veja quadro na pág. C4).
Na sexta-feira, por telefone, perguntou aos mesmos hospitais se havia vagas para internação. De todos, ouviu: "Estamos lotados".

Em dez deles, não havia vagas nem na UTI. Só o Albert Einstein tinha três, que estavam para ser liberadas.

"Não tem vaga em nenhum hospital que atenda convênio em São Paulo", disse Rodrigo Tim dos Santos, 30, que esperou 28 horas pela internação do filho Murilo, de dois meses, no Santa Catarina.

Nesse período, a criança piorou e os pais foram informados que ele precisaria ir para a UTI. Mas também não havia leito disponível.

O pai diz que o hospital tentou transferir a criança, mas ninguém tinha vaga. "É um estado de calamidade", disse.

Em outubro, Marta Ribeiro Pereira, 41, esperou 24 horas pela internação do filho Guilherme, 4, no Samaritano. Os hospitais dizem que a situação piora neste período do ano, quando aumentam os problemas respiratórios. E que não há espera para casos mais graves. Também dizem que faltam pediatras.

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo da Silva Vaz, afirma que há pediatras, mas que o problema é a baixa remuneração deles pelos planos de saúde.

Além disso, segundo ele, "os hospitais estão fechando leitos de pediatria porque atender criança não dá lucro". Wagner Marujo, diretor-superintendente do hospital Sabará, especializado em pediatria, concorda. Segundo ele, crianças geralmente precisam de poucos exames. "Dá mais lucro tratar de câncer."

Dados do Ministério da Saúde mostram que os leitos pediátricos privados foram reduzidos em 14% na cidade, entre 2011 e 2013.

Fonte: UOL noticias

 

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